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A política está ao balcão. Todos unidos contra o fecho de balcões da Caixa, embora mais uns do que outros. Autárquicas obrigam. Todos unidos contra um símbolo da arrogância e da decadência europeias. Também mais uns do que outros. A carne é fraca, sentenciam os brasileiros com propriedade.

24 de Março de 2017 às 13:00
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dijsselbloem. O nome do presidente do Eurogrupo é tão impronunciável como boa parte do que costuma sair-lhe da boca. Esta semana, depois de uma pesada derrota eleitoral, talvez por perceber que o seu reinado está a chegar ao fim, descarregou arrogância e xenofobia sobre os países do Sul, os tais que andam a "gastar o dinheiro em copos e mulheres". O dito senhor lidera um órgão sem legitimidade institucional na União Europeia, que notabilizou por apertar o garrote aos povos que tanto o incomodam e que têm pago com juros de agiota o descalabro dos bancos. O sorriso cínico que o caracteriza representa o que de pior projecta a Europa decadente. A complacência de dirigentes europeus, como Juncker, é apenas a prova de que a União Europeia perdeu o respeito pelos seus valores. Além da condenação de todos os que pugnam pela decência na política, impõe-se que os seus pares se recusem a sentar no Eurogrupo, caso a figura não saia pelo seu pé.

roma. Há 60 anos, o Tratado de Roma criou a Comunidade Económica Europeia. Mote para debate deste sábado sobre o futuro da União. A CEE nasceu no pós-II Guerra como "uma resposta pragmática à ausência de Tratado de Paz", nas palavras de Medeiros Ferreira. Cresceu muito em riqueza e território, também em desigualdade e desilusão. Paralisada por uma construção incompleta e desequilibrada, transige nos valores e na democraticidade, perdeu ambição e respeito. Ao desejo de pertença soma-se uma saída de peso. Serão mais fortes as forças agregadoras ou as desagregadoras? A dúvida é sintomática. Sendo certo que a Europa continua a ser um continente incomparável no progresso económico e social. Só falta querer continuá-lo. De novo como resposta pragmática às ameaças à paz.

memórias. As de José Medeiros Ferreira. "Memórias Anotadas", assim se chamam e chegam agora às livrarias. Textos dispersos de um homem que revelou sempre uma enorme lucidez, uma inteligência e uma intuição raras. Sabia observar longe, percebia as dinâmicas de futuro e era dono de uma ironia singular. Os que com ele privaram de perto puderam testemunhar o magnetismo e o apurado sentido de humor. Estas memórias comportam retratos políticos, ensaios, entrevistas e testemunhos, como os que documentam a sua iniciação na Maçonaria, de que se afastaria, e a participação no grupo de Bilderberg. Prematuramente desencantado com a actividade política, Medeiros Ferreira teve um papel fundamental, como ministro dos Negócios Estrangeiros, na adesão de Portugal ao Conselho da Europa e à Comunidade Económica Europeia. De tudo, e foi muito, fica a alegria que, como diz o seu amigo Eduardo Paz Ferreira, lhe permitiu encarar a morte. Faz-nos falta.

carne. Já não bastava a Operação Lava Jato, que não pára de arrastar dezenas e dezenas de políticos e empresários brasileiros, surge agora a Operação Carne Fraca. A avaliar pelos nomes, lá como cá sempre imaginativos, não saímos do mesmo pecado. A carne é fraca. Uma constatação e uma tentação. Viemos do Carnaval e a Quaresma pede abstinência. Neste caso, estamos mesmo a falar de carne, pressupostamente de animais e destinada a consumo humano. Carne que é um produto de grande exportação e que agora aparece associada a salmonelas, substâncias cancerígenas, aditivos e até… papelão para "robustecer" salsichas e congéneres. Três dezenas de empresas envolvidas, frigoríficos com carne fora de prazo, mais dinheiro sujo com ligações políticas. Alarmado o Brasil e o mundo, o Presidente Temer não perdeu tempo e convidou os embaixadores dos países que importam carne brasileira para um rodízio. Controlo de danos, simpatia e boa carne. Só que a carne servida à mesa não era brasileira… era importada da Argentina e do Uruguai. Quando a carne é fraca é difícil imaginar maior vexame.

orçamento. Exercício fundamental da governação, aí se esclarece de onde vem o dinheiro de que a administração disporá e para onde vai, isto é, onde se vai gastar. Há poucos dias, Donald Trump divulgou a sua primeira proposta de orçamento para os EUA. O título parece tirado de um manual de campanha: "America First - A Budget Blueprint to Make America Great Again". Não será muito mais do que isso. Krugman já o leu e diz que abarca apenas um terço da despesa federal e que pouco diz sobre as receitas e os défices previstos. Sabe-se que a Defesa contará com um aumento de 10%, a segurança nacional com mais 7%, as ajudas aos veteranos de guerra crescem 6%. Tudo o resto tem cortes brutais: educação com menos 14%, saúde com menos 16%, cooperação para o desenvolvimento com menos 29% e a agência do Ambiente com menos 31%... Mike Mulvaney, o orçamentista, diz que este é "um orçamento de poder duro, não brando". Será, de facto. As prioridades são a defesa e a segurança. O que menos importa é o ambiente, a educação e a saúde. Os cortes vão doer. É o caso do Obamacare, que seria substituído por um programa melhor e mais barato, e que vai deixar 24 milhões de americanos sem seguro de saúde. Muitos deles votaram em Trump.

balcões. Há muito não se falava tanto de balcões com tanta discórdia. A Caixa Geral de Depósitos quer fechar quase duas centenas de balcões, ou seja, de agências bancárias. Ninguém concorda. Nem o PS que nos governa. Há quem bata recordes de hipocrisia, quem não se recorde das muitas dezenas de balcões que fecharam sob o seu reinado, quem só agora tenha dado conta de que a recapitalização da Caixa tinha estas contrapartidas. Nenhum partido se arrisca a prejudicar o voto autárquico. Estão todos no balcão do teatro de campanha. É fácil e tentador, independentemente de o Estado ter especiais responsabilidades na boa gestão do território social. Houve um tempo de multiplicação de balcões, de dinheiro fácil. Já lá vai. Caminhamos para o balcão virtual. Já lá vão mais de 10 mil postos de trabalho perdidos.


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