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É necessário salvaguardar o investimento verde

Um estudo do FMI sublinha que a inovação verde é essencial para combater as alterações climáticas, mas também para promover o crescimento económico. Segundo os cálculos do Fundo, duplicar a inovação verde pode incrementar o crescimento económico em mais 2% ao ano, no espaço de cinco anos. E depois desse período, a economia vai ainda beneficiar de energia mais eficiente, barata e que salvaguarda o ambiente.

Bruno Proença 15 de Novembro de 2023 às 13:00
Bruno Proença, Consultor de Sustentabilidade
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O país mergulhou em nova crise política, com o primeiro-ministro António Costa a apresentar a demissão e o Presidente da República a convocar eleições antecipadas para março do próximo ano. Na origem desta crise estão investigações da Justiça que envolvem António Costa, vários ministros e ex-ministros dos governos socialistas, o antigo chefe de gabinete do primeiro-ministro, Diogo Lacerda Machado e ainda elementos da administração da empresa responsável por um significativo investimento direto estrangeiro em Sines. Na base da investigação da Justiça estão também os investimentos em lítio e hidrogénio verde.

Neste texto não vou fazer análise política e muito menos avaliar a atuação da Justiça. Tudo tem o seu tempo e devemos apenas exigir que a Justiça investigue todas a suspeitas, por forma garantir que a lei é cumprida. A sustentabilidade ESG tem três pilares. Normalmente, focamos a atenção no pilar ambiental e social e tendemos a esquecer a governance. Arrisco dizer que se o governo socialista tivesse um modelo e regras de governance mais apertados, e fosse rigoroso no seu cumprimento, talvez tivesse evitado esta profunda crise política.

A situação é complexa, tem vários ângulos, ainda assim é necessário garantir que a ação da Justiça não coloca em xeque os investimentos verdes. Para garantirmos a descarbonização da economia e o cumprimento das metas dos Acordos de Paris, é necessário reforçar o investimento em tecnologias verdes. Isso mesmo é a conclusão de um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) - "Green Innovation and Diffusion, Policies to Accelerate Them and Expected Impact on Macroeconomic and Firm-Level Performance". O investimento é necessário para introduzir novas tecnologias e reduzir o custo das existentes, facilitando a sua difusão na economia e sociedade. A evolução do custo da energia solar nos últimos anos é um ótimo exemplo deste fenómeno.

A análise do FMI começa por constatar uma realidade preocupante: ao contrário do que é preciso, os investimentos verdes têm diminuído. Em 2010, 10% do total de pedidos de registo de novas patentes estavam associados a inovação verde. Desde então, esse valor tem diminuído. Esta situação é confirmada por um outro estudo da consultora PWC ("How can the world reverse the fall in climate tech investment?"). Este ano, o investimento total de ‘venture capital’ e ‘private equity’ diminuiu 50,2% quando comparado com o mesmo período do ano passado. No caso concreto das start-ups da área da tecnologia verde, o investimento caiu 40,5% no mesmo período.

Porém, como o FMI sublinha, a inovação verde é essencial para combater as alterações climáticas, mas também para promover o crescimento económico. E quando os países trabalham em conjunto, conseguem acelerar a inovação que facilita a descarbonização da economia e difundir essa inovação nos países em desenvolvimento.

De acordo com os cálculos do Fundo, duplicar a inovação verde (medida pelo número de novas patentes) pode incrementar o crescimento económico em mais 2% ao ano, no espaço de cinco anos. E depois desse período, a economia vai ainda beneficiar de energia mais eficiente, barata e que salvaguarda o ambiente.

Regressando à atualidade nacional, as conclusões do estudo do FMI mostram a relevância para a economia do investimento em projetos com o hidrogénio verde, o lítio ou a inovação em outras fontes de energia renovável. Obviamente que os investimentos devem ser rigorosos e todos os intervenientes devem cumprir a lei escrupulosamente. As investigações judiciais devem continuar o seu caminho, mas não devem parar a atividade económica. É necessário salvaguardar e incrementar os investimentos verdes.

Ciências e factos União EuropeiaAs empresas dos países da União Europeia do setor alimentar estão a pedir mais tempo para implementarem as novas regras comunitárias. No fim de 2024, entram em vigor as novas regras que obrigam as empresas a cortarem as emissões de gases com efeito de estufa da sua cadeia de valor, ou seja dos seus fornecedores de diversas ‘commodities’ como óleo de palma, soja, café ou cacau. As empresas argumentam que o prazo é muito curto. Será que a Comissão Europeia vai ceder?

COP28A próxima reunião COP28, que se vai realizar no Dubai, está a aproximar-se e o setor agroalimentar vai estar em foco. Na agenda da cimeira, vai estar o contributo deste setor para as emissões de gases com efeitos de estufa. A produção de carne e laticínios está entre as atividades mais poluentes, correspondendo a 14,5% do total de emissões de gases com efeitos de estufa. Porém, é essencial para a alimentação da população mundial, que continua a crescer. Prevê-se um debate quente.
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