Opinião
Um encontro em Munique
Davos nada tinha para oferecer, mas a conferência de segurança de Munique deste fim-de-semana é o primeiro grande evento internacional em que a administração Obama vai poder apresentar as suas linhas estratégicas de actuação.
Davos nada tinha para oferecer, mas a conferência de segurança de Munique deste fim-de-semana é o primeiro grande evento internacional em que a administração Obama vai poder apresentar as suas linhas estratégicas de actuação.
Obama atribui a esta oportunidade para contactos ao mais alto nível uma importância evidente e a delegação norte-americana é liderada pelo próprio vice-presidente, Joe Biden.
O conselheiro de segurança nacional dos EUA, general James Jones, o comandante do comando central que tutela as forças norte-americanas no Golfo Pérsico e na Ásia Central, general David Petraeus, além do enviado especial para o Afeganistão e Paquistão, Richard Holbrooke, integram também a comitiva dos Estados Unidos.
Os tópicos em debate na 45ª edição da conferência apresentam o roteiro perfeito para contactos exploratórios e três painéis são propícios a declarações de princípio substanciais.
O eixo russo
O que for dito e omitido nas discussões sobre "a NATO, a Rússia e o Médio Oriente: o futuro da segurança europeia", no debate em torno da "não-proliferação, controlo de armamentos e o futuro das armas nucleares" e na análise de "O futuro da Aliança e a missão no Afeganistão" permitirá apurar o potencial alcance das iniciativas que prepara a Casa Branca.
Para a Rússia, que se faz representar pelo vice-primeiro ministro Sergei Ivanov, a conferência de Munique servirá para avaliar a disponibilidade de Washington para rever o programa de instalação de radares e sistemas anti-mísseis na Polónia e na República Checa, e retomar as negociações abandonadas por George Bush sobre o Tratado de Redução de Armas Estratégicas que expira em Dezembro.
O anúncio da suspensão dos planos de instalação de mísseis de curto alcance no enclave de Kaliningrado indicia da parte de Moscovo o interesse em retomar um diálogo estratégico com Washington, que terá, por sua vez, de oferecer garantias aos seus parceiros da NATO, em particular à Polónia e aos estados bálticos.
O contencioso no Cáucaso e o adiamento da adesão da Geórgia e da Ucrânia à NATO são, ainda, duas questões em que as declarações de norte-americanos, russos e europeus permitirão esclarecer as reais possibilidades de negociação.
Outra estratégia para o Irão
Já o presidente do parlamento iraniano Ali Larijani e o ministro dos Negócios Estrangeiros Manouchehr Mottaki anunciaram que não terão conversações com representantes norte-americanos em Munique.
A confirmação recente de que no último ano da administração Bush especialistas norte-americanos - incluindo Gary Samore, vindo da era Clinton e próximo coordenador do programa de combate ao risco terrorista de proliferação de armas de destruição maciça -, tiveram quatro encontros informais com representantes iranianos é, no entanto, um sinal de que os contactos de 2008 poderão vir a assumir um carácter oficial.
As reuniões em Haia e Viena em que também esteve outro veterano dos anos Clinton, o antigo secretário da defesa William Perry, foram patrocinadas pelas Conferências Pugwash e contaram com a participação do representante do Irão na Agência Internacional para a Energia Atómica, Ali Soltanieh, e de Samareh-Hashemi, um assessor do presidente Ahmadinejad.
Eventuais indícios de que Washington possa vir a abandonar a exigência de congelamento prévio do enriquecimento de urânio por parte de Teerão para abrir negociações formais directas serão, assim, um dos pontos mais escrutinados nas declarações públicas que sejam feitas em Munique.
Se Obama enviar para ratificação no Senado o acordo celebrado em Dezembro no ano passado por Condoleezza Rice com os Emirados Árabes Unidos, ficará claro, por seu turno, se a Casa Branca considera viável um esquema internacional de comercialização de combustível nuclear.
Os Emirados comprometeram-se a adquirir combustível nuclear no estrangeiro, designadamente aos Estados Unidos, e renunciaram ao direito estabelecido pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear de enriquecer urânio e reprocessar plutónio que pode ser utilizado como material físsil para fins militares.
O acordo, que abrirá eventualmente a possibilidade a firmas norte-americanas de venderem tecnologia nuclear à monarquia do Golfo Pérsico, poderá servir de modelo para outros estados do Médio Oriente e obviar a riscos de proliferação nuclear militar em resposta ao programa do Irão.
O interesse potencial deste acordo passa, também, por abrir uma porta aos Estados Unidos para apresentarem garantias de defesa, sem impedirem o acesso à exploração de energia nuclear civil, a estados vizinhos do Irão no caso de considerarem inviável deter o programa militar de Teerão.
O lançamento na segunda-feira do primeiro satélite artificial iraniano foi mais uma prova da capacidade tecnológica de Teerão para desenvolver autonomamente mísseis de longo alcance.
A provável vitória da direita e da extrema-direita nas eleições em Israel na próxima semana acentuará ainda mais a urgência de Obama para definir os termos estratégicos da negociação com o Irão e o encontro de Munique fornecerá as primeiras pistas.
Obama atribui a esta oportunidade para contactos ao mais alto nível uma importância evidente e a delegação norte-americana é liderada pelo próprio vice-presidente, Joe Biden.
Os tópicos em debate na 45ª edição da conferência apresentam o roteiro perfeito para contactos exploratórios e três painéis são propícios a declarações de princípio substanciais.
O eixo russo
O que for dito e omitido nas discussões sobre "a NATO, a Rússia e o Médio Oriente: o futuro da segurança europeia", no debate em torno da "não-proliferação, controlo de armamentos e o futuro das armas nucleares" e na análise de "O futuro da Aliança e a missão no Afeganistão" permitirá apurar o potencial alcance das iniciativas que prepara a Casa Branca.
Para a Rússia, que se faz representar pelo vice-primeiro ministro Sergei Ivanov, a conferência de Munique servirá para avaliar a disponibilidade de Washington para rever o programa de instalação de radares e sistemas anti-mísseis na Polónia e na República Checa, e retomar as negociações abandonadas por George Bush sobre o Tratado de Redução de Armas Estratégicas que expira em Dezembro.
O anúncio da suspensão dos planos de instalação de mísseis de curto alcance no enclave de Kaliningrado indicia da parte de Moscovo o interesse em retomar um diálogo estratégico com Washington, que terá, por sua vez, de oferecer garantias aos seus parceiros da NATO, em particular à Polónia e aos estados bálticos.
O contencioso no Cáucaso e o adiamento da adesão da Geórgia e da Ucrânia à NATO são, ainda, duas questões em que as declarações de norte-americanos, russos e europeus permitirão esclarecer as reais possibilidades de negociação.
Outra estratégia para o Irão
Já o presidente do parlamento iraniano Ali Larijani e o ministro dos Negócios Estrangeiros Manouchehr Mottaki anunciaram que não terão conversações com representantes norte-americanos em Munique.
A confirmação recente de que no último ano da administração Bush especialistas norte-americanos - incluindo Gary Samore, vindo da era Clinton e próximo coordenador do programa de combate ao risco terrorista de proliferação de armas de destruição maciça -, tiveram quatro encontros informais com representantes iranianos é, no entanto, um sinal de que os contactos de 2008 poderão vir a assumir um carácter oficial.
As reuniões em Haia e Viena em que também esteve outro veterano dos anos Clinton, o antigo secretário da defesa William Perry, foram patrocinadas pelas Conferências Pugwash e contaram com a participação do representante do Irão na Agência Internacional para a Energia Atómica, Ali Soltanieh, e de Samareh-Hashemi, um assessor do presidente Ahmadinejad.
Eventuais indícios de que Washington possa vir a abandonar a exigência de congelamento prévio do enriquecimento de urânio por parte de Teerão para abrir negociações formais directas serão, assim, um dos pontos mais escrutinados nas declarações públicas que sejam feitas em Munique.
Se Obama enviar para ratificação no Senado o acordo celebrado em Dezembro no ano passado por Condoleezza Rice com os Emirados Árabes Unidos, ficará claro, por seu turno, se a Casa Branca considera viável um esquema internacional de comercialização de combustível nuclear.
Os Emirados comprometeram-se a adquirir combustível nuclear no estrangeiro, designadamente aos Estados Unidos, e renunciaram ao direito estabelecido pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear de enriquecer urânio e reprocessar plutónio que pode ser utilizado como material físsil para fins militares.
O acordo, que abrirá eventualmente a possibilidade a firmas norte-americanas de venderem tecnologia nuclear à monarquia do Golfo Pérsico, poderá servir de modelo para outros estados do Médio Oriente e obviar a riscos de proliferação nuclear militar em resposta ao programa do Irão.
O interesse potencial deste acordo passa, também, por abrir uma porta aos Estados Unidos para apresentarem garantias de defesa, sem impedirem o acesso à exploração de energia nuclear civil, a estados vizinhos do Irão no caso de considerarem inviável deter o programa militar de Teerão.
O lançamento na segunda-feira do primeiro satélite artificial iraniano foi mais uma prova da capacidade tecnológica de Teerão para desenvolver autonomamente mísseis de longo alcance.
A provável vitória da direita e da extrema-direita nas eleições em Israel na próxima semana acentuará ainda mais a urgência de Obama para definir os termos estratégicos da negociação com o Irão e o encontro de Munique fornecerá as primeiras pistas.
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