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Opinião
Manuel Falcão - Jornalista 12 de Julho de 2012 às 23:30

A esquina do Rio

Há um problema neste Governo e chama-se Ministério das Finanças. É dele que depende o Fisco e é da política fiscal que depende o desenvolvimento da economia. Todos sabemos o que está a acontecer por causa da diminuição do consumo provocado pelo aumento da carga fiscal.

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Problema
Há um problema neste Governo e chama-se Ministério das Finanças. É dele que depende o Fisco e é da política fiscal que depende o desenvolvimento da economia. Todos sabemos o que está a acontecer por causa da diminuição do consumo provocado pelo aumento da carga fiscal. Mas há mais: o Fisco português tem automatismos que funcionam a favor do Estado, mas não tem automatismos que funcionam a favor dos contribuintes. Um cidadão que tenha sido ameaçado de execução por causa de uma suposta dívida, arrisca--se a ficar meses com a indicação de devedor mesmo depois de o Estado reconhecer razão ao contribuinte. Há umas semanas, o Fisco enviou milhares de ameaças aos possuidores de motociclos de 125cc, na maioria "scooters", por supostamente não terem pago o imposto de circulação de 2008 - quando nesse ano esses veículos ainda não eram taxados.

O que nisto provocou de horas perdidas aos contribuintes e aos funcionários das Finanças não é mensurável. Mas será que o Fisco apresentou desculpas e anulou as ameaças? Até agora nada fez, nem sequer reconhecer publicamente o problema. Este exemplo pode parecer mesquinho ao pé das barbaridades que se passam com execuções fiscais a famílias carenciadas e das tolerâncias a dívidas de milhões. Mas é um exemplo da arrogância, arbitrariedade e impunidade do Estado e dos seus agentes - que erram e não corrigem os erros.

Situação
O facto político mais relevante desta semana foi o apoio de utentes - doentes - à greve dos médicos. O protesto fez o "crossover" - uma coisa rara e que geralmente é desejada quando, em comunicação, se tentam tocar públicos bastante diversos. Pois os médicos conseguiram-no, com a preciosa ajuda de uma notável falta de jeito do Ministério da Saúde. Desde o caso do encerramento de serviços e unidades, passando pelo caso dos salários dos enfermeiros, o Ministério conseguiu o notável feito de fornecer motivos para juntar os grevistas com os utentes atingidos pela greve. Este facto mostra o estado a que está a chegar a tensão social em Portugal.

Numa época em que os protestos neste rectângulo pouco têm passado de desabafos no Facebook e outras redes sociais, e de umas acções insignificantes do PC e da CGTP, a greve dos médicos é um sinal vermelho ao Governo. A despesa do Estado deve diminuir sim, mas saber onde cortar e quem penalizar é a questão mais decisiva num país em que as grandes fraudes financeiras são branqueadas. Há qualquer coisa errada na forma como se resolvem os buracos deixados pelos grandes infractores e se penalizam os cumpridores. O Estado da Nação é este: o esforço dos portugueses não é acompanhado por um esforço do Estado e nem os malabarismos das esotéricas criaturas que povoam o Tribunal Constitucional conseguem disfarçar isso.

Ouvir
Vou ser prático e rápido - "Orelha Negra" está entre os cinco melhores discos portugueses dos últimos anos. Tem canções, tem músicos, cantores, ritmo, melodia e sentimento. Tem intensidade. Dá gosto ouvir e repetir. Inspira-se em sons americanos e europeus, usa guitarras estridentes e linhas de baixo intensas, percussões soltas e teclados envolventes. Se considerar só este ano, é o melhorzinho que por cá ouvi, mais português que alguns fadistas de ocasião. É um belo argumento de exportação.

E de animação em qualquer noite destas.

Provar
Volta e meia regresso aos mesmos restaurantes, mas é o destino que o dita. Neste caso o destino está ligado a pastéis de bacalhau. É fácil fazer um mau pastel de bacalhau, mas é muito difícil fazer de forma constante um bom pastel de bacalhau. O equilíbrio da mistura entre batata e bacalhau desfiado, os diversos condimentos, a forma de os moldar, de salpicar de salsa a massa crua, e, no fim, o ponto certo da fritura, fazem toda a diferença. Para mim, os melhores pastéis de bacalhau nascem no Apuradinho, em Lisboa, na Rua de Campolide 209-A. Nem sempre estão na lista, mas pode indagar da sua existência pelo telefone 213880501. Vêm geralmente acompanhados de um arroz de tomate bem cozinhado sem malandrices, com um toque de pimentos.

O "Apuradinho" tem boa fama, mas quem lá vai tem bom proveito. Eu não me canso de repetir a dose e até acontece encomendar, para levar uma pratada de pastéis de bacalhau, acabadinhos de fazer, para uma patuscada de amigos.

Gosto
As exportações portuguesas continuam a aumentar.

Não gosto
De investigações jornalísticas com agenda política nem de notícias com cheiro de vingança.

Ver
Joshua Benoliel foi o mais importante foto repórter português das duas primeiras décadas do século XX. Este pioneiro da fotografia na imprensa portuguesa trabalhava para o "Século" (jornal extinto por Manuel Alegre nos anos 70). Em boa hora o Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, que tem grande parte do espólio de Benoliel, montou uma exposição que mostra a visão que ele tinha das varinas de Lisboa. São imagens autênticas, densas, que mostram o que era a cidade vivida no Mercado da Ribeira, em mulheres que inspiravam (e muitas vezes cantavam) o Fado. A exposição "Varinas de Lisboa", por Joshua Benoliel, pode ser vista, a partir de 19 de Julho, de segunda a Sábado, na Rua da Palma 246. Agora que os museus da cidade estão em redefinição, aqui está um que bem podia ganhar em protagonismo e notoriedade.

Arco da Velha
O sector leiteiro português pode perder metade do seu rendimento com a nova reforma da Política Agrícola Comum europeia.

Semanada
A imprensa relata que aumenta o número de empresas que estão a adiar o pagamento dos subsídios de férias; mais de dez mil empresas foram extintas em Portugal no primeiro semestre deste ano; segundo a OCDE, Portugal destruiu quase meio milhão de postos de trabalho nos últimos quatro anos; os ginásios perderam cerca de 100 mil clientes nos primeiros seis meses do ano; um pedófilo assumido foi condenado a 5 anos de pena suspensa depois de pagar uma indemnização à família de uma das vítimas - diz-se "arrependido" e o tribunal justifica a decisão dizendo que ele é uma pessoa "inteligente e estruturada"; um empresário da noite, julgado e condenado a 22 anos de prisão por homicídio em atentado à bomba, é deixado em liberdade por decisão de um tribunal que anula a decisão anterior por motivos processuais; um psiquiatra foi ilibado depois de ter violado uma paciente grávida em 2011.

Folhear
Inaugura hoje a lista de sugestões para leituras de férias com um livro escrito por um professor inglês de Ciência Política, uma disciplina ultimamente de reputação duvidosa. Adiante - Neill Lochery está actualmente no University College de Londres e no ano passado publicou o livro "Lisbon - War In The Shadows Of The City Of Light 1939-1945". A Editorial Presença editou o livro em Portugal há pouco tempo e as histórias de espiões que povoam estas páginas encantam-me - até porque o autor soube criar um relato cativante da forma como Lisboa se tornou na única cidade europeia onde aliados e potências do Eixo operavam à luz do dia e se vigiavam mutuamente. Nestes anos, Lisboa era o ponto de passagem de figuras como os duques de Windsor, Calouste Gulbenkian, Ian Fleming (o criador de 007) e muitos outros personagens. O autor mostra o delicado equilíbrio político em que Salazar jogava a neutralidade na II Grande Guerra e traça um retrato aventureiro de Lisboa. A edição portuguesa, bem traduzida, chama-se "Lisboa - A guerra nas sombras da cidade luz".

Artes

Coimbra em festa
Começa hoje em Coimbra a quarta edição do Festival das Artes, que tem como palco principal a Quinta das Lágrimas. São duas semanas de expressões artísticas diversas que versam um tema comum. A seguir a "Noite", "Água" e "Paixões", junta-se, este ano, o tema "Viagens", motivado pela celebração dos 440 anos da edição de "Os Lusíadas", de Luís de Camões. De entre os convidados desta edição, destacam-se Christoph Pregardien e Artur Pizarro na música, aos quais se juntam concertos das orquestras Metropolitana de Lisboa, Chinesa de Macau, Casa da Música, e Clássica do Centro. Nelson Garrido apresenta fotografias na Casa das Caldeiras em "Do Deserto à Clandestinidade". Há desenhos de António Jorge Gonçalves; Diogo Infante declama, com acompanhamento de João Gil, a "Ode Marítima"; José Avillez e Miguel Vieira vão apimentar e rechear de sabores o Festival das Artes.

Teatro

"Penso, logo existo"
Diogo Infante regressa ao universo de Eric Bogosian num "one MAN show" dirigido por Natália Luiza onde, num tom provocatório e satírico, o absurdo de uma certa urbanidade é denunciada. "Preocupo-me, logo existo!" mostra que o humor é sempre um bom instrumento para combater a crise e a melancolia.

Festival

Papel da arte na sociedade
O NEU/NOW Live Festival apresenta 32 projectos, de 18 países, nas áreas da música, cinema, teatro, dança, artes visuais e design, que reflectem sobre o papel da arte na sociedade. Os trabalhos estão expostos na Casa da Música, Galeria do Palácio, Mosteiro São Bento da Vitória, Cinema Passos Manuel e Teatro Carlos Alberto.

Exposição

Visões alegóricas da portugalidade
A exposição "Portugalidade: Visões Alegóricas?" inaugura amanhã à tarde no Centro Português de Fotografia. Uma selecção de imagens da Colecção Nacional de Fotografia. Entre os autores representados na exposição estão os nomes de Alfredo Cunha, Flor Garduño, José Manuel Rodrigues e Neal Slavin.

Cinema

Curtas Vila do Conde até Domingo
Continua o Curtas Vila do Conde, que chegou este ano à sua 20ª edição, com 250 filmes a concurso. Hoje à tarde passa a "Fábrica", de Aly Muritiba, em competição internacional. À noite, "Moving Stories", de Nicolas Provost. Em competição nacional está "Os Vivos Também Choram", do realizador Basil da Cunha.
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