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Manuel Falcão - Jornalista 12 de Outubro de 2018 às 10:19

Marcelo passeia no fio da navalha

Já repararam na acção do Governo nos últimos tempos? Não estou a falar do orçamento eleitoralista e de tudo o que ele implica - mas já reparam na sucessão de casos

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Perguntem sempre a cada ideia: a quem serves?
Bertolt Brecht

Marcelo e o fio da navalha
Já repararam na acção do Governo nos últimos tempos? Não estou a falar do orçamento eleitoralista e de tudo o que ele implica - mas já reparam na sucessão de casos como o recuo na mudança do Infarmed, nas nomeações partidárias e sem experiência adequada para a entidade reguladora da energia? E no caso da conveniente substituição da procuradora-geral da República? Já viram o romance em torno das armas desaparecidas em Tancos? São muitas trapalhadas, demasiadas trapalhadas. Atrevo-me a pensar que, se o Presidente da República fosse Sampaio em vez de Marcelo, já estaria a invocar as trapalhadas para deitar abaixo o Governo. Mas Marcelo prefere jogar outro jogo e anda a passear no fio da navalha que Costa esgrime. O Presidente da República está a mostrar que a sua proverbial atracção pelo abismo não deixou de existir e prefere assobiar para o ar enquanto passa revista às tropas sem a presença do ministro da Defesa, que anda enredado numa teia de contradições - para não dizer outra coisa. Cada vez fica mais difícil acreditar que o ministro (que em tempos, recorde-se, disse não estar certo de que tenha havido roubo) sabia do que se passava. A única dúvida era quem mais sabia do sucedido fora do gabinete do ministro. Costa sabia e agora esqueceu? Marcelo, que sempre insistiu que era preciso saber o que na realidade se passou, tinha indícios? Gosto muito de observar a vida política e já tive ocasiões em que nela participei. Mas hoje em dia sou cada vez mais céptico quanto à capacidade de a política, os partidos e os políticos se reformarem a eles próprios. Aos políticos e aos partidos parlamentares interessa manter este "status quo" e evitar que surjam em cena novos protagonistas - alterar a Lei Eleitoral com o quadro parlamentar actual é uma utopia piedosa. A política é cada vez mais um clube fechado, o contrário daquilo que deveria ser.

Semanada
 Três em cada quatro portugueses acham que a Saúde não é uma prioridade para o Governo, revela um estudo divulgado esta semana  em caso de enfarte, o risco de morte nos hospitais públicos de Lisboa, Alentejo e Algarve é maior do que no Norte do país  segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2017, as exportações nacionais subiram 10%, totalizando 55.029 milhões de euros, enquanto as importações cresceram 13,1%, totalizando 69.489 milhões de euros  segundo previsões do FMI, o PIB português dentro de cinco anos estará apenas 8,7% acima do que era em 2008 e, dos 190 países para os quais há estatísticas, apenas 13 têm pior desempenho: Itália e Grécia, na União Europeia, e, fora dela, países como a Líbia, a Venezuela, a Ucrânia ou o Sudão  o estudo "Retrato de Portugal", divulgado esta semana em Bruxelas, indica que Portugal é um dos Estados-membros da União Europeia com piores resultados ao nível da educação, e revela que 54,6% dos empregadores não frequentaram o ensino secundário ou superior e 43,3% dos trabalhadores por conta de outrem não têm escolaridade além do 9.º ano  alunos de nove anos de uma escola do Porto receberam, na disciplina de Cidadania, um inquérito em que uma das perguntas é: se se sentem atraídos por homens, mulheres ou ambos  o ex-adjunto de Ricardo Robles, Rui Costa (que é deputado municipal), foi contratado pela EMEL para a área de apoio jurídico.

Dixit
"Estava o meu capitão encostado à porta da guerra e disse-me: "Olha, a guerra acabou!" Eu, surpreendido: "Acabouu??" Disse-me o meu capitão: "Acabou. Olha que veio cá o fiscal e não tínhamos licença de porte de armas."
Raul Solnado
(Diálogo de "A Guerra", de Raul Solnado)

Histórias para crianças
Maria Filomena Mónica não é propriamente conhecida por contar histórias para criancinhas - observa o país com um olhar agudo e crítico e salta entre épocas, quer seja nas suas crónicas, nas suas memórias, ou a escrever sobre os ricos ou os pobres em Portugal, sobre a nossa História, sobre os nossos escritores. Há 14 anos, Maria Filomena Mónica decidiu escrever, como prenda de Natal, um livro para os netos, centrado num período da História de Portugal: o final do reinado de D. João VI, as lutas entre liberais e absolutistas, o início do reinado de D. Maria II, o seu casamento com D. Fernando, a construção do Palácio da Pena e a sucessão, primeiro com o seu marido, D. Fernando, o príncipe alemão com que a rainha se casou, e depois com o seu filho D. Pedro V e a tragédia da sua morte precoce. Pelo meio fica a descrição da Lisboa de então, da vida na corte, do funcionamento da monarquia. Escrito como um conto para crianças, narrado como uma aventura, "O Filho da Rainha Gorda - D. Pedro V e sua mãe D. Maria II", estava há muito esgotado e foi agora reeditado pela Quetzal. A nova edição é ilustrada por imagens da época e por deliciosas gravuras feitas pelo próprio D. Fernando, o marido de D. Maria II, que foi quem introduziu em Portugal o costume da árvore de Natal. É um relato acessível, mas preciso, desse tempo da nossa História e que pode ajudar a clarificar ideias, até a muitos adultos.

Arco da velha
Devido ao calor, os inventores tramaram-se: as temperaturas altas de Agosto afectaram os sistemas informáticos do Instituto Nacional de Propriedade Industrial e há mais de um milhar de pedidos que estão atrasados. 

Bolsa de valores
Uma das mais interessantes exposições apresentadas nas galerias lisboetas, neste caso na 111, é "mille-fleurs", de João Francisco, um artista que está em fase ascendente. O preço das obras expostas, em acrílico sobre papel, está na maior parte dos casos nos 973€, 1.717€ e 3.435€.

Pode o amor deixar de ser confuso?
A ideia até é interessante: juntar obras de arte que tenham que ver com a ideia de amor, com a evidência de amor, com o desejo de amor, com a tentação de amar. O pior é quando se querem mostrar cem amores diferentes todos misturados e ao mesmo tempo. O resultado pode ser uma tremenda confusão de sentimentos, na melhor das hipóteses, ou uma espécie de feira de Carcavelos de corações. Infelizmente, a montagem da exposição "Quel Amour?", no Museu Berardo, escolheu a segunda opção e armou uma das maiores confusões que me foi dada ver nos últimos tempos. Esta mostra, que fica até 17 de Fevereiro no Museu Colecção Berardo, no CCB, junta a exposição original concebida pelo Museu de Arte Contemporânea de Marselha com obras da Colecção Berardo. A responsabilidade da confusão é de Éric Corne, que assina a curadoria. No meio disto, estão obras de nomes como Francis Bacon, William Kentridge, Marina Abramovic, David Hockney, Marc Chagall ou Louise Bourgeois, mas também Todd Hido, Wolfgang Tillmans, Nan Goldin, Antoine d'Agata e uma belíssima sequência fotográfica da melhor fase de Duane Michals, de 1970, "Chance Meeting" - que abriu caminho a muitas coisas na fotografia. Nos portugueses, vale a pena sublinhar o destaque dado a uma série de peças de Helena Almeida, como a da imagem que acompanha esta nota (apesar de se ficar com a sensação de que a exposição foi acrescentada após a sua morte). Estão também presentes Ernesto de Sousa, Joana Vasconcelos, Lourdes Castro, Paula Rego e uma curiosa obra "interactiva" de Cristina Ataíde, "Beijem o Homem Que…", muito manuseada na inauguração. Ver esta exposição exige paciência, mas cada um pode escolher o amor que mais lhe convém.

O que se faz com um piano e um microfone?
Prince criou uma imagem de marca com a forma como fazia a sua guitarra falar. Por isso é surpreendente que o seu primeiro disco póstumo, a primeira edição de um álbum com origem nos seus arquivos, o mostre sozinho, com um piano, a cantar sem qualquer outro acompanhamento. Originalmente gravado numa cassete, registado de seguida numa única sessão no seu estúdio pessoal, o título "Piano And A Microphone 1983" já diz tudo. Tem nove canções e inclui, ao longo de 35 minutos, temas já conhecidos, como uma curta amostra do que viria a ser "Purple Rain" (aqui antes mesmo de ser oficialmente gravado para disco), versões de temas alheios (como "A Case Of You" de Joni Mitchell ou o tradicional espiritual "Mary Don't You Weep") e inéditos como "Wednesday", "Cold Coffee & Cocaine", e "Why the Butterflies", um magnífico final para o disco, que sintetiza o lado bluesy e jazzy presente em toda esta gravação. Muito do material parece mostrar o método de trabalho e da composição de Prince: o piano é tocado de forma solta, quase como se estivesse apenas a ensaiar - uma espécie de jam session. À excepção de ajustes técnicos e de remasterização, o disco retrata de forma fiel a gravação original, feita um ano antes da estreia do filme "Purple Rain". A voz está magnífica, é evidente o prazer que ele sentia em tocar estes temas de forma despreocupada, ao piano. Na prática, estas gravações foram feitas entre o álbum "1999" e "Purple Rain". Esta versão de "Mary Don't You Weep" aqui incluída foi agora escolhida para tema final do novo filme de Spike Lee, "BlacKkKlansman". CD já à venda em Portugal.

Petiscar muito bem na avenida
Pelo sétimo ano, e até 31 de Outubro, o restaurante AdLib, na Avenida da Liberdade, promove os Sofitel Wine Days que juntam uma selecção de vinhos do Alentejo, Bairrada, Douro e Minho, com um menu criado para a ocasião pelo chef residente do Hotel Sofitel Lisbon Liberdade, Daniel Schlaipfer. Filipa Pato, Anselmo Mendes, Lavradores de Feitoria, Lima Mayer e Rozès são os produtores escolhidos para os vinhos que são servidos nesta ocasião. A proposta é séria e contempla três entradas, das quais destaco as duas primeiras: foie gras mi cuit com uva e moscatel de Setúbal e um fantástico tártaro de vieiras e emulsão de trufa preta; o prato de peixe é um inesperado e bem-sucedido carré de linguado com crosta de ouriço do mar e emulsão de vinho do porto branco e, para finalizar, um lombo de veado salteado com cogumelos cantarelo, jus de vinho tinto e polenta. Para adoçar vem um cremoso de vinho do Porto e uma tartelete crocante com gelado. Eu, por mim, ia lá só pelas duas primeiras entradas e o linguado, mas a proposta é toda ela atraente e o resultado global é bom. O AdLib fica na Avenida da Liberdade 127, reservas pelo telefone 213 228 350.


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