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07 de Julho de 2017 às 10:56

A esquina do Rio

Aquilo que as semanas recentes mostram é que no Estado se perdeu toda a vergonha. A seguir à catástrofe dos incêndios, a prioridade cronológica foi encomendar um estudo de "focus group", para ver se a opinião pública sobre o Governo não ficou muito desagradada pelo sucedido.

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A capacidade do comando vem do saber e da experiência e não das armas que se utilizam.
William Shakespeare

Vergonha
Aquilo que as semanas recentes mostram é que no Estado se perdeu toda a vergonha. A seguir à catástrofe dos incêndios, a prioridade cronológica foi encomendar um estudo de "focus group", para ver se a opinião pública sobre o Governo não ficou muito desagradada pelo sucedido. Logo depois soube-se que o Exército deixa roubar as armas e munições que lhe estão confiadas e descobre-se que há quase mais chefes que índios na estrutura. Logo, com grande rapidez, o ministro substituto do primeiro-ministro declarou estar certo que o Governo vai reaver o armamento roubado, com as autoridades a dizerem pouco depois que o armamento já estaria fora do país, num caso de semelhança, pelo absurdo, com a rapidez com que a Polícia Judiciária atribuiu a um raio o fatal incêndio de Pedrógão, que começou horas antes da ocorrência meteorológica. O Estado diluiu-se num pantanal de descaramento e pouca "vergonhice" e dois pilares de qualquer Governo - a Administração Interna e a Defesa - comportam-se como "zombies" da série "Walking Dead". A trapalhada é total e o ministro da Defesa foi arrastado pelas orelhas, pelo Presidente da República, a ver o local do roubo das armas. Dou comigo a pensar que, por bem menos, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, em vez de puxar orelhas, resolveu invocar que havia trapalhadas, demitir o Governo, dissolver o Parlamento e convocar eleições. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já Camões dizia. Marcelo conformou-se ao papel de distribuir afectos num país que se vai transformando num cenário de papelão, usado para filmes de série B.

Semanada
 A Uber tem actualmente em Portugal três mil motoristas, nos últimos 12 meses transportou clientes de 80 nacionalidades, num total de 750 mil estrangeiros de visita a Lisboa ou Porto e 30% dos portugueses que vivem nestas cidades já experimentaram utilizar os seus serviços  no primeiro semestre deste ano, o número de mortos nas estradas portuguesas aumentou mais de 23%  António Costa interrompeu o seu merecido repouso para dar uma palavrinha à nossa Selecção pelo 3º lugar na Taça das Confederações e deixou a Santos Silva o encargo de lidar com a trapalhada criada no Ministério da Defesa  em compensação, a conversa futebolística da semana foi em torno da utilização de bruxedos na obtenção de resultados, o que mostra o elevado grau de bom senso dos dirigentes daquela área de negócio desportivo  foi encontrado o principal segredo para os números do défice: houve um valor histórico de cativações, que chegou aos 942,7 milhões, mais do dobro que o Governo tinha prometido à Comissão Europeia  estatísticas divulgadas pela Anacom mostram que a maior proporção de acessos residenciais de Internet em banda larga se localiza no concelho de Cascais, ao contrário de Pedrógão Grande, onde essa proporção é a mais baixa do país  nos tribunais reabertos por este Governo realizam-se menos de dois julgamentos por mês.

Dixit
O Parlamento Europeu é ridículo, muito ridículo. Saúdo os que se deram ao trabalho de estar na sala. Mas o facto de haver só uma trintena de deputados presentes neste debate é suficientemente demonstrativo que este Parlamento não é sério.
Jean Claude Juncker no discurso de encerramento da presidência rotativa da União Europeia, que esteve a cargo de Malta. O Parlamento Europeu tem 751 deputados.

Ver
É uma das exposições mais marcadamente políticas e mais relevantes que me foram dadas a ver este ano em galerias de Lisboa - "Talk Tower for Ingrid Jonker, 2012", de Ângela Ferreira, na Appleton Square (Rua Acácio Paiva 27). A exposição combina o som de um poema de Ingrid Jonker (The Child Is Not Dead) declamado pela própria, difundido através de uma escultura que evoca uma torre de transmissão radiofónica (na imagem) e fotografias de Paul Grendon (feitas em colaboração com Ângela Ferreira), da praia da Cidade do Cabo, onde Jonker caminhou pelo mar até se afogar. Jonker era uma activista anti-apartheid, o poema relata a morte de uma criança negra pelas autoridades e foi este o poema que Nelson Mandela recitou na sua intervenção inaugural do primeiro Parlamento democrático da África do Sul, em 24 de Maio de 1994.
Passando para outra sugestão, a Galeria Baginski (de Lisboa) e a Kubikgallery (do Porto) organizaram na Baginski (Rua Capitão Leitão 51) uma exposição colectiva que reúne artistas representados pelas duas galerias, com curadoria de Miguel Mesquita, sob o título "Force, Strength, Power" e que decorre até 9 de Setembro. Destaque para os trabalhos de Hernâni Reis Baptista, Cecília Costa, Bruno Cidra, Rui Valério, Carlos Azeredo Mesquita e Valter Ventura. Destaque especial para os trabalhos de Raquel Melgue e Liliana Porter. No British Bar, ao Cais do Sodré, Pedro Cabrita Reis apresenta, até dia 27, as suas terceiras escolhas para as montras do melhor sítio para beber uma Guiness em Lisboa - são peças de Edgar Massul, Ana Vieira (magnífica) e Amanda Duarte. O destaque final vai para a exposição dedicada à carreira de cenógrafo e figurinista António Lagarto, que decorre na Sala Polivalente da Escola D. António Costa, junto ao Teatro Municipal Joaquim Benite e integrada na edição deste ano do Festival de Almada.

Gosto
O artista plástico português Vhils (Alexandre Farto) tem, de 30 de Junho a 23 de Julho, uma exposição em Pequim, de 70 retratos em baixo relevo, "Imprint",  feita com o apoio da REN.

Não gosto
A praia do Portinho da Arrábida está reduzida a 37% do seu comprimento e a 40% da sua área em relação ao que era há cem anos.

Folhear
Um interessante livro para ler neste período preparatório das próximas eleições autárquicas é "Manual de Crimes Urbanísticos - exemplos para compreender os negócios da especulação imobiliária". O seu autor é Luís F. Rodrigues, um especialista em ordenamento do território e planeamento ambiental, que se dedica também ao estudo de temas religiosos e históricos. Entre as suas obras anteriores, estão "A História do Ateísmo Em Portugal" e "A Ponte Inevitável", que relata a história da primeira ponte sobre o Tejo. "Manual de Crimes Urbanísticos" foi originalmente editado em 2011 e teve agora uma segunda edição. Numa nota sobre esta nova edição, o autor sublinha: "analisados os relatórios do Provedor de Justiça à Assembleia da República de 2011 (ano da primeira edição) e 2015 (ano do relatório mais recente), verifica-se que as admissões de queixas relacionadas com urbanismo e habitação, ambiente e recursos naturais e ordenamento do território, totalizaram, em 2011, 482 processos, enquanto que em 2015 esse número ascendeu a 678 processos - ou seja, um acréscimo de 40%". Já na primeira edição o autor fazia notar que os dados da corrupção permitem identificar o urbanismo como um sector de risco nas câmaras municipais. O livro tem prefácio de Gonçalo Ribeiro Telles, que sublinha que os crimes urbanísticos reflectem a falta de uma visão integrada do território.

Ouvir
Há 33 anos, em Junho de 1984, Prince publicava o álbum "Purple Rain", que foi um dos maiores e mais marcantes sucessos da sua carreira e tem várias canções que fazem parte das suas melhores obras. Disco que originalmente era a banda sonora de um filme com o mesmo nome, protagonizado pelo próprio, uma estratégia de cruzamento da música com a imagem em movimento que estava à frente do seu tempo. Assinalando o aniversário foi feita uma edição especial com quatro discos e um livro de 36 páginas com histórias que rodeiam essa época, relatando os concertos da digressão de "Purple Rain" e as suas gravações. O primeiro disco reproduz (remasterizado em 2015 ainda por Prince) o álbum original de Purple Rain. O segundo disco tem 11 gravações inéditas - ou de temas nunca antes editados ou de versões até agora desconhecidas - e é uma prova das preciosidades que ainda estão por descobrir. O terceiro CD agrupa remixes editadas como singles ou como lados B desses discos. E, finalmente, o quarto disco é um DVD gravado a 30 de Março de 1985 que reproduz o concerto então realizado no Carrier Dome, de Syracuse, em Nova Iorque. Soberbo. Já disponível em Portugal, edição Warner. 

Arco da velha
Em Tancos não houve rondas de vigilância durante 20 horas, a videovigilância estava inoperacional há dois anos, os soldados que vigiavam os paióis tinham armas sem balas e, nos últimos anos, as Forças Armadas contrataram serviços a empresas privadas de segurança. Fica no ar a pergunta: antes de se inventar a videovigilância, como se garantia a segurança dos paióis militares? 

Provar
Nestes dias de Verão, há um paraíso escondido em Lisboa - o terraço do Hotel Olissippo Lapa Palace, antigo Hotel da Lapa. O terraço fica no prolongamento natural do restaurante, tem uma vista magnífica sobre o jardim, a encosta e o rio e, nesta altura do ano, ao almoço, oferece um menu especial, à base de pratos ligeiros e saladas. Numa recente visita, receberam boa nota uma salada Caesar muito bem guarnecida e uma salada de legumes mistos com presunto de parma e ovos de codorniz.
Há também uma salada de gambas, um gaspacho e, para quem quiser outro género, uma boa sandwich club clássica ou um hambúrguer Lapa Palace, que pode vir com ovo e bacon. A acompanhar as saladas, provou-se um branco, a copo, Encostas de Sonim reserva, de Trás-os-Montes, que recebeu boa nota.
O terraço tem poucas mesas, a clientela inclui protagonistas que procuram um lugar discreto para conversas tranquilas, num sítio confortável e com estacionamento garantido. O restaurante é dirigido pelo Chef Hélder Santos e na sala e na sua carta normal propõe um menu degustação e uma lista onde se incluem diversas propostas inspiradas pela gastronomia portuguesa, quer nos peixes quer nas carnes, além de uma possibilidade de risottos e pastas frescas. Mas essas são outras conversas.


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