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28 de Fevereiro de 2014 às 09:56

A esquina do Rio

Até mais ver, a maior e quase única reforma do Estado tem a ver com a forma como foram atingidas as reformas dos cidadãos. É pena, mas é verdade.

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Não interessa se vamos muito devagar, o que interessa é nunca parar. Confúcio

 

 

Reformismo

Até mais ver, a maior e quase única reforma do Estado tem a ver com a forma como foram atingidas as reformas dos cidadãos. É pena, mas é verdade. Até pode haver boas razões para tudo o que tem sido feito, mas o que motivou as decisões foi sempre a facilidade e o cuidado em não atingir as clientelas políticas que vivem directamente do Estado - no aparelho central e nas autarquias.

As alterações feitas até agora - prefiro não lhes chamar reformas - tocaram sobretudo em pontos que não provocavam clivagens políticas profundas nas máquinas partidárias e nas suas centrais de colocação de militantes dedicados e obedientes. Por isso se pegou nas freguesias e não nos municípios, como António Barreto bem explicou numa entrevista que concedeu esta semana - na verdade, quem tem dinheiro e poder são os municípios, que agora, como se vê por estes dias, contrariam o que está decidido a nível nacional, sobre horários e sobre feriados. Quando se olha para o que tinha que se fazer e para o que foi feito, tem-se a sensação de que existem duas estradas paralelas, que dificilmente se encontrarão - as reformas que o memorando da troika exigia vão por um lado e as mudanças feitas na administração pública vão por outro, numa via paralela, noutra velocidade. As duas estradas dificilmente se encontrarão. A grande questão é que, por se ter seguido esta via de proteger o sistema partidário vigente e ter desprezado os eleitores, está-se a matar o funcionamento do sistema político. É um assassínio premeditado. Na semana passada, um estrangeiro, na conferência promovida pelo "The Economist", perguntava: "Who buys these reforms?" - pois, o problema é esse.

 

 

Dixit

Sem ir aos municípios, que são o osso duro de roer, não há reforma do Estado - com as freguesias era só riscar, não se ganha nada porque os municípios continuam a gastar.
António Barreto

 

 

Semanada

• Na ressaca da apresentação do seu livro, Vítor Gaspar considerou insultuoso que alguém o pudesse classificar, a ele, como o quarto elemento da troika  a propósito do lançamento da edição portuguesa de um dos seus livros, o astrofísico Hubert Reeves afirmou que "se um país como Portugal corta o apoio a escolas, professores e alunos, vai ficar a depender mais da tecnologia do exterior"  Portugal caiu mais um lugar no "ranking" e passou a 9º país mais pobre da UE, tendo sido ultrapassado pela Lituânia  no mês de Janeiro, o Governo cobrou quase 100 milhões de euros por dia em impostos, um aumento de mais de 10% em relação ao mesmo mês do ano passado  em Espanha, os rendimentos até 12 mil euros por ano não pagam IRS  mais de 300 mil portugueses acima dos 60 anos já foram vítimas de violência no ano passado e 160 mil foram alvo de furto ou desapropriação de bens em contexto familiar  em Portugal, há 625 mil casas para vender, há 110 mil casas vagas e, no total, há 15 milhões de habitações para 10,6 milhões de habitantes  a idade de reforma dos funcionários públicos aumentou para os 66 anos  das 18 capitais de distrito, apenas duas vão ter os serviços dependentes da autarquia em funcionamento na próxima terça-feira, já que os respectivos municípios ignoram as orientações do Governo e dão tolerância de ponto no Carnaval.

 

 

Arco da velha

Em Loures, um homem de 39 anos matou um vizinho de 35 anos a tiro por causa de uma discussão sobre o lugar de estacionamento do carro da vítima.

 

 

Provar

Em Lisboa, nas Avenidas Novas, abriu já este ano uma mercearia e restaurante que é uma tentação a qualquer dieta. Chama-se "Aromas da Beira Baixa" e propõe pratos do dia como maranhos, lombo de porco com arroz de carqueja ou bucho recheado da Sertã - e tudo feito com preceito. Para os apreciadores de petisco, há tábuas de queijos e enchidos, tapas variadas e as tradicionais tibornas. Na zona da mercearia, para quem quiser levar os petiscos para casa, estes "Aromas" oferecem uma selecção de queijo e de enchidos, entre os quais o célebre queijo amarelo da Beira Baixa, ainda recentemente louvado pela revista norte-americana "Saveur". Para acompanhar, propõe o afamado pão de Penha Garcia, estando igualmente disponível uma iguaria que é a bica de azeite (noutras regiões, conhecido como bolo de azeite). Para rematar, há biscoitos, compotas, chás de cultivo biológico da marca Ervas de Zoé, como um de Erva Príncipe. Nas compotas, destaque para umas de ginja e de cereja, recomendáveis a diabéticos, e ainda uma de maçã e castanhas, recomendada a todos. Nas prateleiras, há ainda vinhos e azeites da região, tudo a preços sensatos. O almoço com o prato do dia, sopa e sobremesa, fica por sete euros. A casa é simples e despretensiosa, o serviço é atencioso e simpático, quase familiar. Estes "Aromas da Beira Baixa" estão abertos de segunda a sábado, das 11 às 20, na Av. Marquês de Tomar nº 38.

 

 

Folhear

Confesso que a minha edição preferida da revista "Vanity Fair" é a do mês de Março, o célebre "Hollywood Issue", dedicado aos Óscares do cinema. Desde a produção fotográfica da capa e do interior, até à escolha dos temas e dos intervenientes, esta é sempre uma edição espantosa. A capa, desdobrável, com o triplo do tamanho habitual, é feita mais uma vez, por Annie Leibovitz - que, por estes dias, vê a Taschen editar uma colectânea de retratos que ela fez ao longo de 40 anos numa edição especial de 476 páginas, com 70 cms de altura, cerca de 25 kgs de peso, e que é vendida em conjunto com uma mesa de apoio desenhada por Marc Newson; algumas dessas fotografias estão nesta edição da "Vanity Fair". Mas voltemos à revista - logo de entrada, há quatro dezenas de páginas de fantástica publicidade das melhores marcas de moda. O tradicional retrato do mês mostra Ellen DeGeneres - e o editor Graydon Carter explica por que é que a escolha não recaiu, por exemplo, em Gwyneth Paltrow, numa das suas melhores "Editor's Letter" que me lembro de ler. Mas o prato forte desta revista é o portfólio do fotógrafo Chuck Close, que mostra 20 retratos de estrelas do cinema - eu destaco a maneira como ele mostra Brad Pitt, Robert de Niro, Martin Scorsese, Julia Roberts, Forest Whitaker, Bruce Willis, Sean Penn, Dustin Hoffman, Jessica Lange, Javier Barden, Harrison Ford e Steven Spielberg. Outro fotógrafo em destaque nesta edição é Sid Avery, com as suas fotografias do quotidiano - como Brando a levar o lixo, Paul Newman em casa ou Elisabeth Taylor num intervalo de filmagens.

 

 

Gosto

Da assinatura da nova campanha publicitária da EDP, "a energia que nos une".

 


Não gosto

Portugal tem a quarta maior taxa de desemprego da União Europeia.

 

 

Ver

Para mim, Rui Chafes aborda sempre a sua produção artística como uma reflexão filosófica - pelo menos, é isso que sinto e é isso que me atrai nele desde que comecei a ver as suas obras - e as primeiras que vi foram as do hall de entrada do então recém-inaugurado CCB. Trabalhando a escultura em metal, Rui Chafes, paradoxalmente, desafia a massa específica do material que usa e dedica-se a criar aparências de leveza. Por isso, é tão bem achado o título desta exposição, "O Peso do Paraíso", que mostra trabalhos feitos ao longo dos 25 anos de carreira de Rui Chafes, e que até 18 de Maio vai estar no interior do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian e no jardim que rodeia o edifício. São peças notáveis - umas pela dimensão, outras pelo equilíbrio, outras pelo desafio. Não se fica indiferente face a uma obra de Rui Chafes e quem visitar esta exposição perceberá a forma como ele envolve, sem ser exibicionista. O equilíbrio, quando é delicado, fica sempre no pensamento.

 

 

Ouvir

Beck Hansen vive em Laurel Canyon, estrada de artistas de vários ofícios. O grande bluesman John Mayall fez em tempos, nos final dos anos 60, um álbum com o nome desta estrada. Dali vê-se Los Angeles e vislumbra-se Hollywood. Beck sempre quis ser um trovador moderno, mas nunca esteve tão perto de o conseguir como neste seu 12º disco, "Morning Phase". Há seis anos que não vinham novidades do seu lado, desde "Modern Guilt", de 2008. Mas aqui há, de alguma forma, um revisitar do seu trabalho de 2002, "Sea Change". Há neste novo disco rastos mais evidentes e claros dos Byrds, de Neil Young é claro, mas também de Crosby, Stills & Nash ou dos Mamas & The Papas - e arrisco dizer que Buffalo Springfield passou por aqui - este é um revisitar do melhor que a "west coast" tinha para oferecer na segunda metade dos anos 60 e no início dos anos 70. Destaco "Heart Is A Drum", "Turn Away" e, sobretudo, o poderoso "Blue Moon!", cujo verso inicial resume tudo: "I'm So Tired Of Being Alone". A primeira canção, "Morning", conta a origem das coisas: "Woke up this morning/ from a long night in the storm". Este é um daqueles discos que vai estar na lista dos melhores deste 2014. (CD Capitol/ Universal)

 

 

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