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O que António Costa pode aprender com as baleias 

Esqueça os benefícios da medicina na longevidade. As mulheres vivem para lá da sua idade reprodutiva para serem avós. Dizem-nos as baleias.

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Afastamo-nos tanto da natureza das coisas que já nem damos por ela. Provavelmente nenhum de nós se pôs a pensar porque é que as mulheres vivem muito para além de ter expirado a sua capacidade reprodutiva, até por medo de que lhe caía em cima o Carmo e a Trindade do politicamente correto. E se pensámos, seguramente imaginámos que era sinal de alguma superioridade humana ou resultado dos milagres da ciência e da medicina.

 

Mentira, descobri eu esta semana numa reportagem da BBC sobre... orcas e o seu contributo para explicar o mistério da menopausa, fenómeno que só acontece em humanos, e nas baleias-assassinas (orcas) e baleias-piloto. Em todas as outras espécies prevalece o princípio darwiniano de que só por cá se anda enquanto existe a possibilidade de transmitir os respetivos genes. 

 

Não admira que biólogos e antropólogos andem fascinados a tentar perceber o que levou a este prolongamento de 100% de existência, e o que ganhavam as mulheres/baleias mais velhas com isso. Ou, como pergunta a jornalista da BBC, que benefícios traz à sua família, que se sobreponham ao custo genético de não ter filhos. A "hipótese da avó" postula que a seleção natural favorece as mulheres que ajudam os filhos a criar os seus filhos, uma forma inteligente de garantir o envio do seu património genético para o futuro (e que corresponde à sensação de eternidade que sentem todos os avós!). A investigação em tribos primitivas de recolectores,  que ainda subsistem na Tanzânia, indica, de facto, que os netos das avós empenhadas sobrevivem mais do que os outros.

 

Contudo é da investigação em orcas que se esperam novidades. Os biólogos do Center for Whale Research há meio século que estudam intensivamente um clã de 86 orcas no Sul do Pacífico, em que as fêmeas, sem medicina, vivem mais de 50 anos após terem sido mães pela última vez! A observação destas "super-grannys" centenárias, que nunca se separam dos filhos adultos, nem dos netos, tem permitido perceber que quando libertas da  função maternal se dedicam a proteger a família, assumindo a liderança da comunidade, revelando-se mesmo vitais em tempos de escassez em que guardar memória de onde havia salmões na última "crise" garante a sobrevivência.

 

Todos estes dados - datas de nascimento, de morte, número de partos, taxa de sobrevivência, etc. - estão a ser inseridos pelos investigadores numa "calculadora darwiniana", que permitirá concluir se a menopausa resulta, feitas as contas, em benefício real. E parece que resulta, sobretudo porque sem elas os filhos machos, que mais espalham os genes maternos, morrem frequentemente no ano subsequente à morte das suas mães, ao contrário das suas irmãs.

 

Que os avós humanos também são fundamentais à sobrevivência das famílias ninguém dúvida. Em Portugal, o estudo "(Re)Conhecer as Famílias" do C- Consumer Intelligence Lab revelou que 56% dos inquiridos com filhos menores de 12 anos consideram os avós o pilar da família,  38% recebem deles ajuda financeira frequente, e quase 60% contam com a sua ajuda no dia a dia dos filhos. O que levanta uma grande questão - com o aumento da idade da reforma haverá progressivamente menos avós disponíveis para os netos, o que para além de comprometer a qualidade de vida das crianças significará também taxas de natalidade mais baixas, e consequentemente menos avós. Decididamente, António Costa tem ainda muito a aprender com as baleias.

 

Oiça a reportagem em: http://www.bbc.co.uk//programmes/b07mxv62

 

Jornalista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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