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09 de Outubro de 2017 às 20:15

Androides sonham com ovelhas eléctricas? 

Mais do que um filme de Hollywood, "Blade Runner" ganhou ares de parábola perfeita sobre um mundo dominado por realidades virtuais e sensações produzidas em laboratório.

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Se estranha a pergunta é porque sabe bem menos sobre "Blade Runner" do que imagina.

 

A questão metafísica/surrealista acima é o título do livro que deu origem ao filme clássico dos anos 80, um dos 44 romances e 121 contos escritos por Philip K. Dick.

 

A recente estreia de "Blade Runner 2049" justifica um mergulho no meta-universo criado por K. Dick que a tantos inspirou nas últimas décadas.

 

O livro (mais do que o filme original) movia-se no constante questionamento sobre se é possível objetos fabricados sentirem emoções reais ou se é lícito pessoas reais viverem emoções fabricadas.

 

Num mundo no auge da sua decadência (perdoe-me o paradoxo), o protagonista do livro sonha em ter um animal de estimação verdadeiro para cuidar. Enquanto isso não acontece, tem no apartamento uma ovelha elétrica, sinal exterior falsificado de riqueza para provocar inveja nos vizinhos.

 

No filme, há uma fusão com o universo da literatura policial "noir". Temos um Rick Deckard (Harrison Ford) com cara de poucos amigos a perseguir pistas perigosas e a envolver-se com uma "femme fatale".

 

O "Blade Runner" de 1982 foi considerado demasiado soturno e confuso. Fracassou nas bilheteiras e seria menos do que uma nota de pé de página na história do cinema se não se revelasse com o passar do tempo uma obra tão seminal.

 

Nunca mais a ficção científica foi a mesma. Quase todo o futurismo que até então vicejava tornou-se velho num instante. Mais do que um filme de Hollywood, "Blade Runner" ganhou ares de parábola perfeita sobre um mundo dominado por realidades virtuais e sensações produzidas em laboratório.

 

Vivemos hoje no mundo de "Blade Runner" mesmo sem os carros voadores. Há que lembrar que o Prozac foi lançado no mercado em 1986. Que o Second Life tornou-se um site abandonado (há lá pouco mais de 60 mil alminhas), pois qualquer rede social oferece mais disfarces para vida.

 

"Blade Runner" é o hoje. O futuro é o agora.

 

"Blade Runner 2049" vale muito a pena ser visto (se possível em IMAX-3D). Saí da sala de cinema com o coração aos saltos e a lembrar o monólogo do replicante interpretado por Rutger Hauer no filme anterior: "Vi coisas que vocês não acreditariam. Naves de ataque ardendo no cinturão de Órion. Observei raios gama brilharem na escuridão próxima ao Portão de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva."

 

Não, não se perderão.

 

Ou como diria o meu Tio Olavo, citando Charles Baudelaire: "O bom senso nos diz que as coisas da terra não existem inteiramente e que a verdadeira realidade só é encontrada nos sonhos."

 

Publicitário e Storyteller

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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