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"O melhor de Portugal está escondido"

Aventurámo-nos numa caça ao tesouro em plena Lisboa. Sem bússola nem mapa. Só com o GPS, como manda o geocaching. Por aí, há milhares de caches por descobrir.

26 de Agosto de 2014 às 10:50
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As coordenadas no GPS dizem-nos que faltam sensivelmente 150 metros para chegarmos à geocache. Segundo as pistas, está escondida "numa esquina", mas pouco mais sabemos acerca do objecto que estamos à procura. Percorremos o caminho indicado e "voilá": numa esquina, debaixo de um arbusto, entre um monte de folhas secas, lá está um pequeno baú com o livro de registos no interior. "Agora é só assinar a folha e voltar a colocar a 'cache' no mesmo lugar", explica Nuno Veríssimo, praticante de geocaching, que nos levou a uma verdadeira caça ao tesouro no parque Eduardo VII, em Lisboa.


Sim, em plena Lisboa. Na capital há cerca de mil geocaches escondidas, que proporcionam verdadeiras caças ao tesouro do século XXI. Quem diria?


Talvez seja tempo de irmos a explicações: o geocaching é uma actividade que tem como objectivo encontrar geocaches, com recurso a um GPS.


Uma geocache, ou simplesmente cache, pode ser qualquer coisa - uma caixa de rolo fotográfico, um baú, um boneco, e até objectos que se camuflam na paisagem como pedras ou troncos falsos. "Aqui, o limite é a imaginação", refere Nuno Veríssimo, um amante do geocaching que, em 2009, abriu a primeira loja oficial dedicada à actividade, a Geocacher Zone.


Encontrada a cache, o objectivo é assinar o "logbook", o livro de registos colocado no seu interior, e, posteriormente, registar online a descoberta. Isto porque todos os praticantes estão registados num "site" - geocaching.com - que fornece as coordenadas dos objectos, e onde são inseridos os "founds", que é como quem diz "os achados". Além do livro de registos, algumas caches contêm objectos de troca, e até "travelbugs", objectos que têm uma missão e "viajam" de cache em cache. "Temos um carrinho que começou na Malveira e já está na Nova Zelândia", conta o praticante.


Na caça ao tesouro, também importa evitar os Muggles, o nome inspirado na saga do Harry Potter que é utilizado para designar os não-geocachers.


"O geocaching é uma actividade que se pratica sozinho, em família, ao fim-de-semana ou depois do trabalho. E em qualquer lado", sublinha Nuno Veríssimo. "No meio urbano, no mar, nas montanhas. Qualquer sítio em que pensemos, provavelmente existe lá uma cache". Em Portugal existem cerca de 30 mil escondidas e, em todo o mundo, já são mais de dois milhões. Podemos até dizer que existe uma fora deste mundo - há uma cache na Estação Espacial Internacional, colocada pelo astronauta Richard Garriott, um geocacher, em Outubro de 2008.


A actividade tem crescido a um ritmo acelerado em Portugal, sobretudo desde 2010, existindo agora cerca de 60 mil praticantes. E a variedade de experiências possíveis é quase ilimitada. "Tudo o que for monumento, local de interesse paisagístico ou histórico, de certeza que tem uma cache", conta Nuno Veríssimo. Mas nem todas têm o mesmo grau de dificuldade.


Além das caches mais vulgares, escondidas em sinais de trânsito, arbustos ou bancos de jardim, há outras mais complexas que desafiam a imaginação e colocam à prova o praticante. Como a que está escondida nas Ilhas das Berlengas, a 27 metros de profundidade, que obriga o praticante a fazer mergulho. Por vezes, a caçada obriga a fazer BTT, escalada e mesmo caminhadas de vários quilómetros. "Fazer geocaching é muitas vezes um pretexto para sair do sofá e ir conhecer novos sítios, fazer caminhadas", conta o fundador da Geocacher Zone. "Por exemplo, existe uma cache no Palácio Nacional de Mafra, dentro de um baú, que obriga o praticante a visitar todo o monumento. As pistas começam no jardim". É por tudo isto que diz, como uma máxima, que o "melhor de Portugal está escondido". 

 

 

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Glossário


Geocacher
Praticante de geocaching


Muggle
Uma pessoa que não pratica geocaching e não sabe o que é


Geocache
Recipiente escondido que inclui no mínimo um "logbook" para os geocachers assinarem


FTF - First to Find
Sigla utilizada para descrever e demonstrar que foi o primeiro geocacher a encontrar a cache


GZ - Ground Zero
Ponto onde o dispositivo GPS mostra que foi atingido o local da cache. No Ground Zero, está a zero metros de distância do seu destino


GC Code
Identificador único de cada cache, sempre começando com "GC" seguido de código alfanumérico


DNF - Did Not Find
Sigla utilizada para dizer que não encontrou a cache

 

 

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Tornar-se geocacher


Se quer tornar-se praticante de geocaching, o primeiro passo é consultar o site geocaching.com e fazer um registo gratuito. A partir daí, poderá descarregar as coordenadas das caches de determinada zona e passar à acção. Sempre que encontrar uma cache, o objectivo é que assine o livre de registos e, posteriormente, que registe, no site, o seu achado. Depois de alguma experiência como "caçador" de caches, poderá criar e esconder as suas próprias, registando-as no site para que os outros praticantes possam obter as coordenadas. Sendo praticante, poderá também participar nos eventos, que são reuniões de geocachers locais ou de organizações de geocaching. A página do evento especifica a hora e fornece as coordenadas da sua localização.

 

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