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Carlos, como é que é? Vai correr ou está à espera que lhe chame um táxi?". A ironia é de Vasco Dias, fuzileiro e treinador de bootcamp que, todos os dias, das 19h30 às 20h30, tem como missão principal "dar cabo deles". Eles, os alunos, correm ofegantes à volta do imenso relvado do Parque da Cidade de Loures, depois de realizarem várias séries de flexões, abdominais e saltos, sob as ordens do treinador. A expressão do fuzileiro é severa, as indicações dão pouca margem a brincadeiras e, não fossem os equipamentos coloridos dos alunos, e juraríamos a pés juntos estar a assistir a um treino militar de jovens recrutas. E não estaríamos muito longe da verdade, como explica Vasco Dias.
" O bootcamp é um treino militar dado a civis. Actualmente, os instrutores são todos fuzileiros, e a filosofia que nós aprendemos é a que transmitimos aos nossos instruendos aqui fora: o espírito de corpo, a perseverança, o trabalho em conjunto, o respeito pelo instrutor", explicita.
Sónia Correia, ex-atleta profissional, é a 'camisola amarela' que vai liderando a corrida e incentivando os colegas com um "vamos", "não desistam" quando as pernas já fraquejam a meio do treino. Tem 34 anos, é investigadora na área de história e confessa-se "fanática" pelo treino militar, que pratica há mês e meio. "Ouvi falar do bootcamp, vim experimentar uma aula e a partir daí fiquei completamente fanática", conta. "Este é o meu momento de relaxamento do dia, o meu momento 'zen'. Venho para aqui levar uma tareia descomunal mas no final a sensação é de leveza completa e vou para casa sempre bem-disposta".
Além da melhoria da condição física, o alívio do 'stress' é precisamente um dos benefícios destacados por Vasco Dias, que não permite sequer que os alunos falem de trabalho durante o treino. Se forem apanhados, a conversa pode muito bem resultar numa série de flexões para a turma inteira, com o "alto patrocínio" do falador, que é o mesmo que dizer que acabam todos a "encher", como dita a boa disciplina militar.
"Eles chegam aqui e sabem que, das 19h30 às 20h30, têm um instrutor militar que tem como função dar cabo deles", explica o treinador. "Durante uma hora não têm que se preocupar se a empresa está bem ou não está, se têm de enviar documentos amanhã. Sabem que, durante uma hora, têm alguém que vai mandar neles, não são eles que estão a mandar. Portanto, fazem ctrl+alt+del e, até às 20h30, são meus".
"Eugénia, quer chá e umas bolachinhas? Vamos lá a trabalhar", grita o treinador, enquanto ao fundo se ouve o "três", "quatro", "cinco" da contagem sincronizada das flexões. As vozes vão ficando mais roucas à medida que o final do treino se aproxima, mas ninguém desiste. Se há coisa que aqui se aprende é que nunca se desiste. E muito menos se deixa um camarada para trás. "Isto realmente puxa por nós e o espírito de equipa é óptimo", confessa Eugénia Tomás, fotógrafa de 39 anos. "Pratico há cinco meses, e tenho notado muito mais resistência e mais força".
No campo de treino, nem o relógio escapa à rigidez militar, e às 20h25 em ponto começam os alongamentos que darão a aula por terminada. O semblante fechado do treinador começa a dar espaço a um sorriso simpático, e já se ouvem conversas e risos aqui e ali. Pôs-se uma noite fria no Parque da Cidade mas as t-shirts estão molhadas. Missão cumprida.
A funcionar desde 2010, a Bootcamp Portugal é apenas uma das escolas que se dedica ao ensino desta modalidade desportiva, que tem conquistado cada vez mais adeptos no nosso País. A actividade, que consiste num treino ao estilo militar, é praticada ao ar livre, em qualquer tipo de solo, e quaisquer que sejam as condições atmosféricas. Faça chuva ou faça sol.
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Perguntas a
Leila Ahmedova
Sócia gerente da Bootcamp Portugal
Como é que surgiu a ideia de criar a Bootcamp Portugal?
Sou finlandesa e vivi cinco anos na Irlanda antes de chegar a Portugal, há quatro. Reparei que aqui não existia esta modalidade e decidi abrir a empresa em 2010. Diziam-me sempre: "em Portugal não vai funcionar, as pessoas não vão rastejar na relva, não vão andar à chuva, nem penses". A verdade é que fizemos três aulas experimentais, apareceu imensa gente, e as pessoas acabaram por se inscrever.
E, quatro anos depois, já há muitos portugueses a praticar?
Sim, já há muitas pessoas a praticar. Temos cerca de 220 alunos. Em Lisboa já damos aulas em seis sítios (Jamor, Loures, Estádio Universitário, Parque das Nações, Belém, Monsanto) e no Norte em dois (Porto e Gaia). Agora, o Bootcamp já não é uma coisa tão estranha.
Quem é que pode praticar esta modalidade? E é necessário equipamento específico?
Toda a gente pode fazer bootcamp, de qualquer idade. Normalmente, quem se inscreve são pessoas que querem aumentar a sua resistência, melhorar a condição física e também perder peso. Para praticar só precisa de um equipamento normal de treino, e um impermeável, se quiser, para os dias de chuva.
Com que regularidade se pratica?
Em Lisboa temos aulas todos os dias da semana. As pessoas que escolhem o pacote com acesso livre (que custa 39,5 euros por mês) podem praticar até sete dias por semana se quiserem. Normalmente, fazem duas a três aulas por semana, mais uma ao fim-de-semana.
Quais são, para si, os grandes benefícios do bootcamp?
O grande benefício é treinarmos ao ar livre. Outra coisa muito importante é o convívio e a camaradagem, que são coisas que as pessoas valorizam muito. Em termos físicos, dá resistência, tonifica o corpo e contribui muito para a perda de peso e gordura.