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Biquíni, a invenção atómica

Chamaram-lhe "átomo", pela dimensão, mas depois procuraram um nome mais explosivo. "Biquíni" é o nome de uma ilha do Pacífico onde decorreram testes nucleares. A peça surge em 1946 e em Portugal só se generaliza três décadas depois.

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No início chamavam-lhe "átomo", por ser a mais pequena das peças que uma mulher podia exibir em público. Lançada em Julho de 1946, a invenção dos franceses ficaria para sempre ligada ao pós-guerra. Na sua versão moderna, a peça foi rebaptizada de "biquíni", o nome da ilha no Pacífico onde os Estados Unidos fizeram os primeiros testes nucleares depois da segunda guerra mundial. Com o objectivo de sublinhar o carácter "bombástico" da novidade.


De tal forma que quando quis mostrar pela primeira vez estas "quatro peças de nada", numa das descrições da altura, o francês Louis Réard (que divide os créditos da versão moderna do biquíni com Jac-ques Heim) terá tido dificuldade em encontrar uma modelo profissional, contam os livros sobre a história da peça que podem ser consultados no Museu do Traje.


Micheline Bernardini, "stripper" do Casino de Paris, foi a bailarina que se deixou escolher. Com uma piscina como pano de fundo, a jovem de 19 anos aparece nas fotos com um biquíni estampado com o desenho de uma página de jornal.


Na década de 50 o biquíni é exibido no corpo de actrizes como Brigitte Bardot, mas ainda é rejeitado pela maior parte das mulheres. "O protótipo na década 50 é uma mulher serena, elegante, muito segura de si, mas distante, contida", explica Maria João Mota Veiga, professora da Escola de Moda de Lisboa. "Não é uma mulher arrojada e atrevida".

 

 

Até meados do século, na Nazaré, a nudez do corpo era controlada pelos cabos de praia. O biquíni é trazido pelas francesas. Na maioria dos países ocidentais, o biquíni generaliza-se nos anos 60. Em Portugal, terá de esperar mais uma década.

 


Enquanto em Cannes um avião promovia nas praias "o fato de banho mais pequeno do mundo", nos Estados Unidos os fabricantes resistiam. "As mulheres americanas ficariam escandalizadas", segundo conta um livro sobre a introdução do biquíni.


Dóris Santos, directora do Museu da Nazaré - que organizou uma exposição que documentou a transformação desta praia de pescadores numa "praia de banhos", desde o final do século XIX - lembra que por altura da primeira guerra os fatos de ir ao banho eram uma espécie de vestidos compridos, feitos de lã, que não deixavam sequer ver os tornozelos.


Da década de 20 em diante, passam a ser vestidos de alça, que deixam ver os braços e que caem sobre pequenos calções. A exposição do corpo estava, aliás, bastante regulada. "Havia editais que saiam nas capitanias que regulamentavam as barracas, os toldos, a colocação de barcos dos pescadores. E havia também prescrições relativamente à postura, nomeadamente quando à obrigatoriedade de usar fatos que resguardassem o corpo". As ordens eram acatadas "sob o olhar vigilante dos cabos de mar", explica Dóris Santos.

 

 

30

Centímetros. É o comprimento mínimo necessário do tecido para fazer um biquíni, de acordo com uma costureira brasileira que produz em Portugal.

 


"Diz-se que os primeiros biquínis que apareceram na praia da Nazaré eram das francesas", conta a directora do Museu, a partir da documentação reunida para a exposição. "Recolhemos memórias de senhoras [portuguesas] que só usavam fato de banho noutra praia, que não a Nazaré". Quando a praia era perto de casa preferiam usar roupa normal.


É nos anos 60, na década em que as mulheres começam regularmente a usar calças, que o uso do biquíni também se generaliza um pouco por todo o mundo. "A moda torna-se liberal, democrática e unisexo", resume Maria João Mota Veiga. A música "Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini", do cantor Brian Hyland, ajuda a popularizá-lo.


Na mais cosmopolita praia do Tamariz, no Estoril, há fotos dos anos 60 onde surge um grupo de mulheres de biquíni. Mas não seriam a maioria, explica Maria João Mota Veiga, da Escola de Moda de Lisboa. A democratização do biquíni em Portugal teve de esperar mais uma década. "Pelo 25 de Abril, evidentemente. Só em meados da década de 70 temos a possibilidade de usar livremente a roupa". 

 

 

 

Origem da palavra


Biquíni


"Biquíni" é o nome de uma pequena ilha no Pacífico que faz parte das Ilhas Marshall. Ficou mundialmente conhecida porque aí decorreram os primeiros testes nucleares dos Estados Unidos após a II Guerra Mundial. Durante mais de dez anos, a partir de 1946, foram detonadas mais de vinte bombas nesta ilha.


As poucas dezenas de habitantes regressaram no final dos anos 70, mas foram novamente retirados porque se detectaram altos níveis de material radioactivo no corpo.


Os primeiros testes nucleares depois da II Guerra começaram em Julho de 1947, precisamente no mês em que Louis Réard apresentou em Paris a peça de roupa de banho mais pequena de sempre.

 

 

 

Curiosidades da História


 

 

 

Século III
Há mosaicos na Villa Romana del Casale, na Sicília, em Itália, que já nos séculos III e IV mostravam mulheres com trajes de duas peças, parecidos com os biquínis. Os livros que mostram estas imagens explicam que se supõe que este tipo de traje fosse utilizado para fazer exercício.

 

 

 

 

 

1952
O biquíni moderno é apresentado logo após a segunda guerra mundial. Na década seguinte, conquista o cinema. Em 1952 é lançado o filme "Manina, la fille sans voile" (ou "Manina, the girl in the Bikini"). As cenas em biquíni de Brigitte Bardot, que na altura tinha 18 anos, terão sido contestadas pelo pai.

 

 

 

1960
É nos anos 60 que o biquíni se generaliza. A popularização da peça ganha fôlego com uma música de Brian Hyland. "Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini" conta a história de uma rapariga tímida que usa um biquíni pela primeira vez. Em Portugal isso aconteceu sobretudo uma década depois, nos anos 70.

 

 

 

 

Onde é fabricado


O Brasil é o país de referência dos biquínis, mas há brasileiros que os produzem em Portugal. Valcinete Lopes Lima, 40 anos, foi criada "numa fábrica de lingerie, entre agulhas e tesouras" no Brasil, mas veio para Portugal em 2001. Depois de alguns anos a confeccionar para outras marcas, lançou o seu próprio negócio, que emprega sete pessoas.


A Fio Rosa tem uma colecção própria (com preços a partir de 69,99 euros) e faz biquínis exclusivos (entre 150 e 250 euros). A colecção pode ser consultada no "site" da marca ou na loja, na Rua Passos Manuel, em Lisboa. Este ano, segundo explica, a Fio Rosa produziu 5.000 biquínis (contra os 2.000 do ano passado).


A maior parte da matéria-prima é importada da Europa e do Brasil. Portugal fornece o fio e o elástico.

 

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