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Ângela Marques, com Francis Obikwelu, e Carolina Duarte.
Em 22 de agosto de 2004, Francis Obikwelu completou os 100 metros em 9,86 segundos na final de atletismo dos Jogos Olímpicos de Atenas, conquistando a medalha de prata, a primeira de um velocista português. Quatro anos antes, em Sydney, quando ainda representava a Nigéria, um problema no joelho impediu-o de treinar e correr, levando um médico a vaticinar o fim da sua carreira de atleta.
Foi operado em Toronto, no Canadá, mas a intervenção correu mal, resultando em tromboses que o deixaram hospitalizado durante três meses. "O médico disse-me para deixar o atletismo, e eu respondi-lhe que estaria nos Jogos Olímpicos em Atenas e que lhe mandaria uma foto, o que fiz. Sou, por natureza, uma pessoa com uma força tremenda. Quando quero alguma coisa, sigo esse sonho", afirmou Francis Obikwelu, ex-atleta olímpico, durante a sessão "Mais que uma Medalha: Coragem, Resiliência e Superação", na cerimónia em que se galardoaram os vencedores da 2.ª edição do Prémio Portugal Inspirador.
Uma das pessoas que assistiram a essa prova, que levou Portugal à euforia, foi Carolina Duarte, que fazia corta-mato na escola. Ficou tão entusiasmada que decidiu inscrever-se no atletismo do Belenenses. Esta atleta, que tem apenas 10% de visão, explicou: "Não tenho visão central, isto significa que não vejo a cara de ninguém na sala. Poderia escolher o caminho da frustração, de estar sempre aborrecida com o mundo, a reclamar com toda a gente, mas isso não resolvia o meu problema. Não vou ver melhor por reclamar".
Medalha com a filha ao colo
Vinte anos depois, a 7 de setembro de 2024, Carolina Duarte completou os 400 metros T13 em 55,52 segundos, conquistando a medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos de Paris. Foi uma vitória forjada anos antes, quando se preparava para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, adiados de 2020 para 2021 devido à pandemia. "Treinava como se não houvesse amanhã, quando descobri que estava grávida de três meses. Era então a número um do ranking mundial. Pensei, não vou a Tóquio, vou ser mãe e, daqui a três anos, estarei a lutar pelas medalhas outra vez, de certeza em Paris".
Para alcançar esse objetivo, nunca deixou de praticar desporto. Vinte dias após o nascimento da filha, Carlota, recomeçou os treinos, culminando na vitória em Paris.
A história destes dois vencedores baseia-se no talento, mas, como disse Francis Obikwelu, "9 segundos demoram quatro anos a treinar". "O talento faz muita diferença numa fase inicial, mas, quando se fala em profissionalismo, o trabalho faz toda a diferença. O talento é importante, mas não é fulcral", afirmou Carolina Duarte. E destacou que o que caracteriza os atletas de alta performance é serem "extremamente disciplinados, resilientes e com uma grande capacidade de superação".
Francis Obikwelu defende que o talento representa apenas 20%, enquanto os restantes 80% dependem do trabalho. "Muita gente tem talento, mas a distinção surge do trabalho que fazemos todos os dias porque, para ser melhor, há que treinar cada vez melhor." Acrescentou ainda outro elemento essencial: "Para ser o melhor, tem que se ter sempre esse objetivo. Como atleta, sempre disse ‘vou ganhar’ e nunca ‘vou tentar ganhar’, porque, para tentar ganhar, fico em casa. Não sabia se ia ser número um ou bater recordes, mas sentia que ia ganhar porque já tinha treinado para isso."
Este atleta adota uma atitude marcada por uma visão positiva e focada no presente. "O passado já foi, nunca vou falar do passado. O meu pensamento baseia-se no princípio de que, se hoje não consigo, amanhã tento outra vez."
Carolina Duarte partilha uma perspetiva semelhante, afirmando que "a vida é feita de escolhas. Fazemos 30 mil escolhas por dia. Posso sempre optar por viver um obstáculo, deixar que ele me atrapalhe e bloqueie, ou então tentar dar a volta. O facto de ver mal só me ajuda a desenvolver outras ferramentas para superar os meus obstáculos diariamente."
Considerou que o caminho do sucesso exige mais inovação e sustentabilidade, que são pilares essenciais para as empresas, e que é "fundamental que acrescentemos valor ao que exportamos, que sejamos mais competitivos, que sejamos únicos".
Ambição é chave
Ana Dias sublinhou que a ambição é uma palavra-chave para "criar produtos e serviços de alto valor acrescentado com forte incorporação tecnológica, que possam competir com sucesso nos mercados internacionais, e, para construir empresas sólidas e inovadoras, que gerem riqueza e que tenham um impacto positivo na sociedade".
Na sua opinião, o Prémio Portugal Inspirador é um reconhecimento, mas também uma oportunidade para demonstrar que "é possível transformar Portugal num país mais inovador, mais justo e mais próspero" e que estas histórias de superação e sucesso nos inspirem a todos, porque, como este prémio nos lembra, "o futuro de Portugal está nas nossas mãos", concluiu Ana Dias.