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Francisco Dias da Silva: “A indústria têxtil não vai acabar em Portugal”

A indústria tem qualidade e capacidade de trabalho, mas precisa de criatividade, design e de entrar em mercados que outros países e forças de trabalho não têm.

22 de Outubro de 2024 às 14:30
José Reis/Movephoto
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Foto em cima: Francisco Dias da Silva, Paulo Natal, Ramiro Brito, e Samuel Dias da Costa, no debate ‘A indústria portuguesa e os caminhos para o futuro’.

"Portugal tem um problema estrutural de burocracia e de falta de impercetibilidade fiscal. Já nem falo se os impostos são altos ou baixos, mas do primeiro passo, que é percebermos como se articulam e como funcionam", afirmou Ramiro Brito, presidente da Associação Empresarial do Minho e líder do Grupo Érre, no debate sobre a indústria portuguesa e os caminhos para o futuro, que decorreu em Braga, na conferência do Prémio Portugal Inspirador, uma iniciativa do Negócios, Correio da Manhã e CMTV, com o apoio do Banco Santander e dos knowledge partners, Informa DB, Accenture e Nova SBE.

Portugal tem um problema estrutural de burocracia e de falta de impercetibilidade fiscal.Ramiro Brito
Presidente, Associação Empresarial do Minho

Para Samuel Dias da Costa, administrador das Malhas Sonix, os preços do gás foram o maior desafio recente, no seu caso, "tiveram um impacto muito maior do que a pandemia de Covid-19, porque durante a pandemia tivemos, sobretudo, congelamentos de encomendas. Mas o gás tem um impacto brutal e silencioso. Há dois anos, o preço estava entre os 20 e 25 euros, chegou aos 300 euros e, hoje, pagamos 40 euros".

O administrador da Sonix, do Grupo Diastêxtil, afirmou ainda que o foco está na retribuição líquida, ou seja, no que as pessoas conseguem levar para casa no final do mês: "Existem bastantes iniciativas em termos de pacote salarial, mas não se pagam contas com satisfação, boa disposição e ‘goodwill’.

A relação com as pessoas

"Hoje, a relação com as pessoas é essencial. Antigamente, podíamos passar um ano sem ter uma conversa geral com o pessoal para falar sobre a estratégia do negócio. Hoje, isso é importante, pois as pessoas gostam de saber o que está na mente de quem as dirige", salientou Francisco Dias da Silva, presidente da Silsa-Confecções.

Francisco Dias da Silva destacou ainda a introdução da tecnologia "nas confecções, que nos permitiu crescer exponencialmente em termos de quantidade e qualidade, tornando-nos, de certa forma, mais competitivos. Não temos marcas próprias e, por isso, tivemos realmente de nos tornar muito mais competitivos. O gestor contou que a Silsa teve uma fábrica no Bangladesh e conheceu as dificuldades e a situação "miserável das pessoas, a quantidade de horas de trabalho por tão pouco salário, e abandonámos essa produção". Foram empurrados pelos grupos económicos, "porque não havia capacidade em Portugal, nem no Norte de África, para as quantidades desejadas", afirmou.

A indústria têxtil não vai acabar em Portugal; tem é de ser criativa e encontrar mercados que os outros, com mão de obra barata, não têm. Francisco Dias da Silva
Presidente da Silsa Confecções

Atualmente, mantêm apenas uma operação em Marrocos e decidiram apostar no design e na qualidade. "A indústria têxtil não vai acabar em Portugal; tem é de ser criativa e encontrar mercados que os outros, com mão de obra barata, não têm. Podem ter preços muito competitivos, mas dificilmente têm a nossa qualidade e a nossa capacidade de trabalho", disse Francisco Dias da Silva.

A mobilidade e o emprego

"A indústria representa cerca de 38% da procura externa do setor empresarial e 50% das exportações portuguesas, o que demonstra bem a capacidade das empresas de competir em mercados globais, altamente competitivos, e representa 23% do valor acrescentado bruto", afirmou Paulo Natal, head of Retail & Remote Banking do Santander. Acrescentou que o setor industrial é composto por 45 mil empresas, que representam cerca de 10% do tecido empresarial e cerca de 21% do emprego.

As empresas não são todas iguais, sendo necessário, com os empresários, encontrar soluções diferenciadas e adequadas a cada empresa. Paulo Natal
Head of Retail & Remote Banking, Santander

Na indústria têxtil, por exemplo, que predomina nesta região, "as empresas não são todas iguais, sendo necessário, com os empresários, encontrar soluções diferenciadas e adequadas a cada empresa, contando com a simplificação e digitalização que temos implementado no banco."

A mobilidade e as redes de transportes públicos foram temas colocados na agenda. "Há muita dificuldade em fazer com que os trabalhadores cheguem aos seus locais de trabalho ou em encontrar habitação perto desses locais, devido aos preços elevados da habitação e a um sistema de mobilidade fragmentado, dividido em vários sistemas e subsistemas que, muitas vezes, nem sequer comunicam entre si", disse Ramiro Brito.

A mobilidade tem implicações na capacidade de atrair talento.Samuel Dias da Costa
Administrador da Malhas Sonix

Samuel Dias da Costa considera que "a mobilidade tem implicações na capacidade de atrair talento", porque, por exemplo, "uma pessoa de Guimarães, para trabalhar em Barcelos, onde temos as nossas empresas, gasta 400 euros por mês em portagens ou demora uma hora e meia diariamente para chegar ao destino".

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