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Turismo: Ideias lançadas para desenvolvimento futuro

O sol e a praia estão consolidados na oferta turística portuguesa. O golfe também é já um ponto de atracção. Mas há outras ideias para que o pacote a apresentar ao turista seja mais completo e diversificado.

08 de Novembro de 2016 às 14:44
Palácio da Pena: No segundo ponto mais alto da Serra de Sintra encontra-se o Parque e Palácio da Pena, obra de D. Fernando II. Expoente máximo do Romantismo do século XIX em Portugal, esta obra tem referências arquitectónicas de influência manuelina e mourisca.
João Miguel Rodrigues/Correio da Manhã
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Painéis de São vicente como experiência única e imperdível
A ideia foi deixada por António Filipe Pimentel, director do Museu Nacional de Arte Antiga. Portugal tem de saber e conseguir cruzar educação, cultura e turismo. "É fundamental", declarou no "think tank" dedicado ao tema turismo. Por um lado, internamente. São três pilares que têm de estar relacionados. "O turismo tem de ser entendido não como uma bolsa, mas pensar que tem de contribuir para a activação desse circuito." António Filipe Pimentel vai mais longe. Há 15 ou 20 factores apontados pelos estrangeiros para virem a Lisboa, mas nenhum está relacionado com o património ou a cultura. O que significa, diz o responsável do Museu Nacional de Arte Antiga, que qualquer uma das razões apontadas pode ser "transplantável para outro país". A cultura e o património não podem. E dá um exemplo: "Quem vai a Paris ou Roma tem experiências insubstituíveis. São museus a céu aberto." Em Portugal, acrescenta, "o sol e a praia não são experiências imperdíveis, têm alternativa; a nossa gastronomia tem alternativa". Tem, pois, de se criar um composto.

"Portugal nunca trabalhou a sua marca a esse nível, na criação de algo que culturalmente nos coloque na primeira divisão." E fala dos Painéis de São Vicente, "a única obra-prima do século XV com 60 personagens representadas". Portugal não faz perceber que "o mundo inteiro não pode deixar de ter a experiência de ver os painéis". Mas essa afirmação estratégica não se encomenda. Tem, também, de passar pela investigação histórica e divulgação internacional.

"É um património alienável em Portugal e um activo económico que nos posiciona na categoria A. E é o que efectivamente fará com que Portugal seja uma experiência única e imperdível e que resista a todas as oscilações."

Comboios turísticos
Outra ideia que emergiu nesta reflexão para o sector foi a de se promover os comboios históricos, associando-os a vertentes culturais. Também Jorge Rebelo de Almeida, presidente da Vila Galé, corrobora que a associação entre turismo e cultura é "fundamental", mas assume que "ainda vivem muito separados". Rebelo de Almeida acredita que estes comboios históricos no Norte, Sul e Centro poderiam garantir um empurrão dos turistas para outros locais.

Turismo equestre
Outra aposta de que fala Jorge Rebelo de Almeida que se devia promover, a nível turístico, em Portugal é o que está relacionado com a actividade equestre. "O país se não tiver diferenciação, somos iguais em todo o lado", acredita.

Aproveitando esta proposta, Manuel Carrasqueira Baptista, presidente da Parques de Sintra - Monte da Lua (entidade que gere o património histórico de Sintra), lembra que o Palácio de Queluz tem a única biblioteca nacional dedicada à arte equestre que está aberta ao público: a Biblioteca de Arte Equestre D. Diogo de Bragança, VIII Marquês de Marialva. Segundo o site da Parques de Sintra, "além da consulta das publicações, é possível observar 165 gravuras, duas pinturas, uma casaca de cavaleiro tauromáquico e uma réplica de cavalo ajaezado com gualdrapas e xairel de finais do século XVIII".

Sintra tem criado mais pólos de interesse
Lembrando que Sintra foi, pela primeira vez na Europa, classificado pela UNESCO património mundial numa conjugação entre a parte verde e a construtiva, Manuel Carrasqueira Baptista diz que tem sido estratégia da empresa Parques de Sintra - Monte da Lua criar novos pólos de interesse que possam puxar mais visitantes.

O Palácio da Pena é, do seu portefólio, o mais visitado, mas a empresa tem conseguido puxar turistas para outro património, apostando na recuperação. O Palácio da Pena, Monserrate, Capuchos, Queluz, todos têm sido alvo de trabalhos de recuperação. Foi ainda criado novo pólo de visita com a recuperação do Chalet da Condessa, que tinha sido destruído por um incêndio em 1999 e que só agora foi recuperado.

85% dos visitantes do património da Parques de Sintra são estrangeiros, mas Manuel Carrasqueira Baptista garante que os portugueses estão a visitar mais Sintra. Mas não há ainda, diz, saturação de turismo. No entanto, volta a falar da necessidade de criar novos pólos de interesse.

Qual é o ícone da gastronomia portuguesa?
De Espanha, falamos de tapas. Do Japão, do sushi. E Portugal? Qual é o ícone da nossa gastronomia? Bacalhau? Pastel de nata? Carne de porco alentejano? Há as sete maravilhas da gastronomia portuguesa, mas, admite o chef Kiko Martins, "não há um produtor unificador". O chefe, no entanto, até encontra um que pode ser distintivo em Portugal: as sopas.

Ainda assim, apesar de não haver um ícone da gastronomia, acredita que o turista vem também à procura da comida quando chega a Portugal. Mas lamenta que ainda existam na restauração casos de "chica-espertice" que vê no turista uma forma de ganhar mais algum dinheiro de forma rápida. "Essa lógica pode matar-nos", acrescenta.

Lisboa está na moda, mas pode continuar
Há muitos habitantes que se queixam, em Lisboa, da quantidade de turistas. Mas os agentes do sector contrapõem essas vozes anti-turismo. "Os turistas dão animação à cidade", garante Jorge Rebelo de Almeida, que até vai criticando as críticas às obras em Lisboa. "Pode mudar a cara de Lisboa", e isso, acrescenta, fica essencialmente para quem vive na capital.

Para Kiko Martins, "Lisboa é vista como uma cidade da onda, 'cool', a visitar", mas o chef acredita que não é apenas uma moda. Lisboa e Portugal: "Veio para ficar. Está consolidado."


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