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“Os doentes em lista de espera não são o principal problema, este reside sobretudo nos doentes que não estão na lista de espera e, que quando aparecem, estão num estado muito mais grave. São os doentes que há mais de um ano não têm consulta e não voltaram”, alerta Fernando Araújo, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de São João. Este problema revela as atuais dificuldades de comunicação e apela a uma maior colaboração, por exemplo, com as autarquias, para que haja uma maior proximidade com os doentes com necessidades de cuidados.
“Não se consegue comunicar com os hospitais porque quando se passa a barreira do geral e se chega às especialidades não se consegue obter respostas com facilidade, por outro lado, não há resposta aos emails e os gabinetes do cidadão, quando existem, demoram muito a dar respostas”, refere Ana Sampaio, presidente da Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino.
A responsável acrescenta que, “por causa da pandemia, é complicada a deslocação ao hospital para fazer a marcação de consultas” “O circuito físico deixou de fazer sentido, mas os circuitos digitais nem sempre correspondem até porque há grande iliteracia digital nos mais idosos”, conclui. Ana Sampaio sugere, por isso, que seja dado o contacto do serviço, já que nem sempre é possível obter o do médico e que haja tempos máximos de resposta aos emails.
Futuro digital
Filipa Mota e Costa, diretora-geral da Janssen Portugal, sugere que se reflita e se tirem lições e aprendizagens do plano de vacinação, adicional ao SNS, tanto pela sua forma de organização, estabelecimento de prioridades, como pela comunicação e articulação com o sistema.
Em relação ao segundo grande tema da conferência, ou seja, as prioridades no pós-covid para o sistema e os hospitais, Fernando Araújo salienta que a autonomia hospitalar deveria ganhar outra dimensão e ter um aprofundamento como forma de se conseguir cimentar.
Por sua vez, Alexandre Lourenço, presidente da APAH – Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, defendeu a criação de condições para inovação e na prestação de cuidados e dos processos, mas alerta que a transformação digital do modelo de saúde terá de ter em conta a população com um grau elevado de iliteracia digital. Neste sentido, Filipa Mota e Costa e Ana Sampaio salientam tanto a centralidade do doente na reforma do sistema, como o papel de liderança para que se façam as reformas “doa a quem doer”, como frisa Ana Sampaio, a que se juntam as prioridades, os objetivos e uma linguagem comum.
O futuro da saúde é digital
Neste caminho digital, Filipe Costa, deputy director of Operations do Hospital da Luz, sublinha a necessidade do recurso a dados que, para serem utilizados pelo big data e data analytics, têm de ser estruturados. E isto implica, por exemplo, uma homogeneização dos dados, o que não é possível com relatórios com textos e conceitos não uniformizados pelos médicos.
As questões chave
Tema I: "O Pós-Covid: Prioridades para o Doente"
Tecnologia & comunicação
Novos canais de comunicação com os doentes e instituições de saúde: acompanhamento, agendamento de consultas e outras intervenções.
Valor das teleconsultas e como facilitar o acesso a quem delas precisa.
Como criar uma base de dados que permita melhor conhecimento acerca das doenças e qualidade de vida do utente.
Recuperação da atividade
Qual o impacto clínico no pós-covid?
Como recuperar a atividade assistencial que ficou para trás.
Como recuperar os diagnósticos em atraso? Rastreio oncológico e outros.
Cumprimento dos TMRG (tempos máximos de resposta garantidos) e soluções no caso de serem ultrapassados.
Acesso
Contributo das autarquias para maior proximidade do cidadão.
Como chegar aos utentes que não contactaram com os sistemas de saúde e não estão identificados nas listas de espera?
Acesso à medicação hospitalar mais próximo do domicílio do utente.
Impacto de resultados na cadeia de valor em consequência das medidas de seleção que criaram restrições no acesso
Tema II: "O Pós-Covid: Prioridades para o sistema e hospitais"
Financiamento & Autonomia
Financiamento plurianual dos investimentos na saúde.
Financiamento da inovação em saúde: acesso vs. sustentabilidade
Autonomia hospitalar: o que aprendemos durante a fase covid?
Tecnologia
O que é ou será o sistema de saúde na era digital?
Cultura interna e processos preparados para a transformação digital.
Como permitir acesso de dados de saúde ao doente, quer no SNS ou no privado.
Integração de cuidados
Papel dos hospitais na integração de cuidados.
Reorganização do sistema na integração de cuidados centrado na maior eficiência para a produção de resultados para os doentes e respetiva monitorização ativa.
Outros tópicos
Que lições a tirar do plano de vacinação? Organização, estabelecer prioridades, etc.
Como reorganizar o sistema em função das necessidades do doente?
Condições para a inovação do modelo de cuidados e aumento da participação do doente/famílias.