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Transição energética: “Redes serão mais inteligentes e resilientes”

José Ferrari Careto, presidente da E-Redes, explica como a eletrificação do consumo, aliada à mobilidade elétrica, ao aumento da produção distribuída e ao maior aproveitamento das fontes renováveis, está a transformar o setor elétrico.

25 de Maio de 2022 às 14:00
José Ferrari Carreto, presidente da E-Redes, frisa que a atual realidade traz também desafios acrescidos. Inês Gomes Lourenço
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AE-Redes, enquanto operador da rede de distribuição, tem procurado estar na linha da frente da transformação, sendo um facilitador da promoção da transição energética. José Ferrari Careto, presidente da empresa, explica que com a transição energética "as redes terão de ser cada vez mais inteligentes e resilientes para garantir a fiabilidade do fornecimento de eletricidade, numa sociedade cada vez mais descarbonizada e eletrificada."

Como é que a E-Redes projeta o futuro? Qual pode ser o aporte das instituições académicas e científicas? E como é que a E-Redes está preparada em termos de I&D?
A E-Redes tem uma estratégia bem definida para fazer face aos desafios colocados pela transição energética. Essa resposta está plasmada num "roadmap" de evolução tecnológica e inovação, que organiza esta ambição em objetivos de visão estratégica e domínios de negócio, estabelece metas claras e prioridades em termos de novas iniciativas e tem um modelo de governo próprio, que inclui uma representação das áreas da empresa ligadas à gestão das parcerias tecnológicas e académicas necessárias. A transição energética é uma realidade no presente e a E-Redes, como operador das redes de distribuição, é absolutamente fundamental enquanto facilitadora dessa transição.

Neste momento, 75% da geração distribuída está conectada diretamente à E-Redes, há 1.600 postos de carregamento de veículos elétricos ligados à nossa infraestrutura e cerca de 85 mil clientes produzem e consomem a sua própria energia, com necessidades específicas, nomeadamente de informação. A E-Redes está apostada em tudo fazer, em conjunto com os seus parceiros de negócio, para assegurar, no que lhe compete, o sucesso da transição energética no nosso país.

Instalámos cerca de 20 mil contadores inteligentes por semana, estandojá cerca de 4,2 milhões em funcionamento. Contamos garantir cobertura nacional em 100% até 2024, com vantagens para o cliente, como o registo automático do consumo energético. José Ferrari Careto, Presidente da E-Redes 
Em paralelo, estamos envolvidos numa operação logística de grande envergadura, fundamental para a transição energética, com a substituição dos contadores tradicionais por contadores inteligentes. Instalamos cerca de 20 mil contadores por semana, estando já cerca de 4,2 milhões em funcionamento. Contamos garantir cobertura nacional em 100% até 2024, com vantagens para o cliente como o registo automático do consumo energético, o fim das estimativas ou a possibilidade de solicitar alterações contratuais à distância.

Adicionalmente, para aumentar a qualidade de serviço, temos vindo a utilizar de forma muito intensa ferramentas digitais que nos permitem ser mais eficientes, melhorar a relação com os nossos clientes e assegurar que as diferentes tarefas se realizem de forma mais confortável e segura.

Em termos de sustentabilidade e de descarbonização da produção e consumo de eletricidade quais são os principais objetivos?
Com a transição energética, as redes terão de se tornar cada vez mais inteligentes e resilientes para garantir a fiabilidade do fornecimento de eletricidade, numa sociedade cada vez mais descarbonizada e eletrificada.

Foi com esse propósito que lançámos, em 2020, o InovGrid 2030, um projeto para dotar a rede elétrica de equipamentos mais inteligentes, capazes de otimizar as operações e a gestão da energia, e assegurar uma nova plataforma de envolvimento dos consumidores. Queremos ainda acelerar a digitalização de serviços com um investimento acumulado entre 2021-2025 de 595 milhões de euros. Em 2021, este investimento foi de 120 milhões de euros.

No domínio da eficiência energética, pretendemos fomentar a integração da infraestrutura de carregamento de veículos elétricos. Desde 2018, já foram realizadas 40 mil novas ligações à rede de pontos de carregamento de acesso público e privados. Só no ano passado foram realizadas 4.390 novas ligações.

No âmbito da integração da produção renovável, o compromisso até 2025 é o de alcançar cerca de 80 mil novas ligações de Unidades de Produção para Autoconsumo (UPAC), 205 novas ligações de PRE (Produção em Regime Especial) e UPP (Unidades de Pequena Produção). Em 2021, realizaram-se quase 41 mil novas ligações UPAC e 13 PRE mais UPP.

Quanto à redução de emissões de dióxido de carbono teremos evitado, até 2025 e graças à instalação de LED na iluminação pública, a emissão de 172 mil toneladas de CO2. Destaca-se ainda o incremento do potencial de poupança na iluminação pública através de um sistema de telegestão ponto-a-ponto, o FlexIP, com uma plataforma que pode ser utilizada diretamente pelos municípios.

Como medidas de eficiência energética interna, estamos a reforçar a frota elétrica ligeira e a instalar unidades de produção para autoconsumo nos nossos edifícios. Das 20 UPAC instaladas em 2021 foram produzidos 346 MWh de energia renovável, que evitaram a emissão de 70 toneladas de CO2. Até 2025, estimamos evitar, com a aplicação destas duas medidas, a emissão de 522,5 toneladas de CO2.

Qual é o balanço da implementação da estratégia de modernização e automatização da rede de distribuição nacional? E em relação à automação e digitalização das operações da E-Redes?
O balanço é muito positivo. As redes de distribuição têm sofrido uma evolução profunda, sobretudo ao nível do planeamento, da evolução dos ativos que as constituem e da inteligência da automação com que são exploradas. A renovação tecnológica, a par da introdução de ativos de rede mais fiáveis e com elevados níveis de sensorização, tem permitido a implementação de alarmísticas e maior agilidade na resolução de incidentes. A título de exemplo, podemos referir o Tempo de Interrupção Equivalente da Potência Instalada, que, em 2021, foi 49 minutos, o que evidencia uma redução de 30% na última década.

A esmagadora maioria destas evoluções das redes tem ocorrido nos níveis de tensão mais elevados. Com o novo paradigma colocado pela transição energética, em que se prevê, por exemplo, a massificação de produção distribuída, o crescimento acelerado da mobilidade elétrica e novas formas de interação dos consumidores com a rede, começa a ser evidente que será necessário replicar e adaptar parte das estratégias bem-sucedidas de comando e controlo às redes de baixa tensão.

Esta realidade traz também desafios. A capacidade de recolher e tratar milhões de dados e a cibersegurança de toda a infraestrutura, sobretudo tendo presente que a E-Redes presta um serviço público essencial, bem como a adoção de ferramentas de trabalho voltadas para o processamento de grandes desses volumes de informação e para a execução de tarefas repetitivas, como são os RPA (Robotic Process Automation) e os assistentes virtuais.