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Ter a melhor saúde ao mais baixo custo

Na transformação dos sistemas de saúde com baseados no valor o papel dos doentes é fundamental, porque “hoje em dia o doente já não quer só resolver o problema da morte. Quer ter qualidade de vida”, diz Ana Sampaio.

24 de Setembro de 2019 às 13:00
“Nem sempre o que é mais valorizado pelo doente é que o é oferecido”, afirma Ana Sampaio. DR
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Os projetos em cuidados de saúde baseados em valor em Portugal estão "disseminados pelo setor público, privado, social, nomeadamente misericórdias e associações", salientou João Marques-Gomes, CEO da Nova SBE Health Economics and Management.

Salientou que o VBH (Value Based Healthcare) é "condição necessária para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, porque a tendência é para o aumento de custos, devido à inovação e à tecnologia, por isso não podemos continuar a esbanjar dinheiro".

Os resultados de saúde e a qualidade dos serviços prestados "são parte integrante de boa medicina, é a aproximação da boa medicina à gestão, que passa a ter dados para tomar decisões", considera João Marques-Gomes. Acrescenta que a saúde baseada em valor "não tem a ver com a propriedade, é um framework para transformar os sistemas de saúde em todo o mundo, através da medição e disseminação dos resultados dos utentes/doentes de uma forma padronizada para que os beneficiários possam a ter a melhor saúde ao mais baixo custo".

Diferença entre práticas

Quando se faz a medição e a comparação de práticas e serviços surge "a variação de resultados", refere João Marques-Gomes, que dá o exemplo a taxa de reoperação depois de uma cirurgia da anca é de 18 vezes, isto significa que o melhor hospital na Alemanha tem uma taxa de reoperação 18 vezes inferior ao pior hospital. Na Suécia, uma cirurgia simples às cataratas tem uma variação da taxa de complicações de 36 vezes, significa que o melhor hospital tem resultados 36 vezes melhores que o pior hospital.

O VBH é condição necessária para a sustentabilidade do SNS, porque a tendência é para o aumento dos custos, devido à inovação e à tecnologia. JOÃO MARQUES-GOMES
CEO da Nova SBE Health Economics and Management

Na saúde baseada em valor os doentes são fundamentais. Como refere Rui Diniz, vice-presidente da José de Mello Saúde e administrador da CUF, quando se pensa no conceito de valor em saúde e se decompõe "a sua fórmula facilmente nos apercebemos da importância do envolvimento do doente em toda a sua metodologia".

O papel dos doentes

A colocação do "doente no centro da equação na medida em que só assim é possível avaliar a melhoria funcional e de qualidade de vida pela perceção do próprio. Desta forma, e conciliando com um outro conjunto de indicadores que definam os parâmetros de avaliação, é possível uma monitorização e melhoria contínua da qualidade e da prestação de serviços de saúde".

Pela experiência do programa de Value Based Healthcare na José de Mello Saúde, "quando corretamente enquadrado e informado, o doente sente a motivação de participar e até, discutir resultados com a sua equipa clínica. Este fator é fundamental para assegurar o sucesso da medição de valor em percursos clínicos que se prolongam no tempo".

Ana Sampaio, presidente da APDI (Associação Portuguesa de Doença Inflamatória do Intestino), sublinha que "nem sempre o que é mais valorizado pelo doente é o que é oferecido".

Dá o exemplo dos doentes que representa, "os doentes com doença inflamatória do intestino, as condições de acesso (rapidez) e higiene de uma casa de banho são muito importantes. Quantas vezes nos próprios serviços, ou até internamentos onde se encontram estes doentes, as casas de banho têm de ser partilhadas por mais que um doente em simultâneo ou se encontram longe, já para não falarmos condições de higiene das mesmas".

Segundo Ana Sampaio, é importante medir os resultados para saber quais as técnicas mais eficientes para "entregar" o melhor resultado ao doente, porque "hoje em dia o doente já não quer só resolver o problema da morte. Quer ter qualidade de vida".

Os profissionais de saúde

Para João Marques-Gomes uma das dificuldades de aplicação do modelo da saúde em valor é "o desconhecimento dos profissionais em relação a este modelo, o que faz com que a transformação não aconteça". Considera que há profissionais que sabem o que é a saúde baseada em valor e o que pode representar para os sistema de saúde mas tem dúvidas sobre os meios e a estratégia, enquanto há outros já ouviram falar mas não sabem do que se trata.

Para combater o desconhecimento, a Universidade Nova de Lisboa vai promover cursos de formação de saúde baseada em valor nos hospitais portugueses, lecionados por João Marques-Gomes professor na Nova Medical School e na Nova SBE. As sessões terão uma duração de quatro horas e não têm qualquer custo.

Esta ação tem por objetivo mostrar que medir os cuidados de saúde com base no valor que estes produzem para o doente é útil para todos os agentes do sistema de saúde, uma vez que esta informação permite que todos passem a fazer escolhas mais informadas, algo que não acontece atualmente.

Os profissionais de saúde passam a saber quais são as práticas clínicas que produzem os melhores resultados e os gestores das organizações de saúde têm oportunidade de montar sistemas que premeiem o bom desempenho das várias unidades de saúde, na medida em que conseguem identificar e definir esse bom desempenho.

Como refere João Marques-Gomes, além dos dados quantitativos, passam a ter acesso a dados qualitativos, conhecendo o verdadeiro impacto que determinado tratamento ou cirurgia tem de facto na qualidade de vida dos doentes.