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Tecnologia pode ajudar à uberização da saúde

A tecnologia é importante para fazer face à doença, como referiu Joel Selanikio, mas a conjugação de esforços entre países e organizações é decisiva salientou Larry Brilliant.

04 de Outubro de 2016 às 10:56
Sara Matos
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O potencial do "big data" na saúde pode levar a uma espécie de uberização da saúde com o aparecimento de plataformas tecnológicas capazes de fazer a ponte entre os pacientes e os cuidados de saúde sublinhou Joel Selanikio, CEO da Magpi, na primeira Be Well Global Health Conference que se realizou no passado 1 de Outubro. Foi organizada pela MSD e pelo Negócios e com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Câmara Municipal de Lisboa.

Joel Selanikio, médico pediatra, que trabalhou em sistemas de informação em Wall Street, sublinhou a oportunidade que os telemóveis representam para a melhoria e a produtividade dos sistemas de saúde, a que se ainda junta a capacidade de armazenagem e análise de dados de que as tecnologias de informação hoje são capazes. São um produto massificado e que permite a conectividade e deu um exemplo prático vivido quando entre Dezembro de 2014 e Janeiro de 2015 foi líder no Centro de Tratamento do ébola em Lunsar, Serra Leoa. Explicou que uma das formas de se conseguir rapidamente determinar os focos da doença foi pedir que as pessoas desde as mais remotas aldeias da Guiné, Serra Leoa e Libéria enviassem uma mensagem a dizer ébola#0.

Referiu ainda que a tecnologia poderia simplificar ainda mais a burocracia associada à prática clínica. Nos Estados Unidos, um médico passa uma hora com o paciente e duas a preencher dossiês e relatórios clínicos. Com a tecnologia, o médico poderia libertar uma hora para a prática clínica.

A conferência foi aberta por Larry Brilliant, presidente do Skoll Global Threats Fund, que tem como coroa de glória, da sua vida de médico de saúde pública nos Estados Unidos ou ao serviço da OMS, a erradicação da varíola entre 1973 3 1976 na Índia, que matava mais de dois milhões de pessoas. Em 1979, foi co-fundador da Seva Foundation, que, juntamente com o Aravind Eye Hospital devolveu a visão a mais de 3 milhões de pessoas em 20 países.

Salientou que as forças que defendem o regresso às fronteiras e ao interior dos países que hoje se fazem sentir, como o Brexit, os nacionalismos, os fundamentalismos, podem colocar em causa o modelo global de combate às epidemias e às doenças, o que "implica colaboração entre todos". Não deixou de mostrar a sua esperança nas crescentes parcerias entre instituições de saúde pública, cujos méritos defendeu, e fundações privadas, empresas e multinacionais. Neste caso estão o CORDS (Connecting Organisations for Regional Disease Surveillance), um grupo de vigilância em rede de doenças regionais, agências da ONU e fundações, e uma unidade no seio da Organização Mundial de Saúde (OMS) chamado de Global Outbreak Alert and Response Network (GOARN) da OMS, que prevê uma resposta imediata após a detecção dos primeiros casos de certos patógenos e programas de treinamento como o programa EPI da CDC e os programas TEPHINET globais. Fez referência ainda à necessidade de combater as ameaças globais como as alterações climáticas, as pandemias, a proliferação nuclear, a segurança da água e os conflitos regionais.

A conferência teve como conferencista final foi Eric Weiner que relatou a sua viagem pelo mundo em busca da felicidade que plasmou no livro "A Geografia da Felicidade". Como referiu, "durante anos, cobri inúmeras catástrofes, naturais ou provocadas pelo homem. Mas em 'A Geografia da Felicidade' decidi contar o outro lado da história visitando alguns dos países mais felizes do mundo". Não há fórmulas mágicas, mas existem formas de vida e de convivência que permitem que a felicidade seja possível.

A saúde e a Síria  Jorge Sampaio, "chairman" da conferência e enviado especial do secretário-geral da ONU para a Luta Contra a Tuberculose (2006-2007), pediu ainda às mais de 3 mil pessoas dedicadas à área da saúde que apoiassem e ajudassem na formação complementar para 200 médicos da Síria para evitar que, depois do fim de uma guerra fratricida e sangrenta, não se suceda uma crise sanitária. Desde o início da guerra na Síria, foram mortos mais de 700 médicos, cerca de 50% dos profissionais de saúde fugiram do país e muitos estudantes de Medicina abandonaram os estudos. O projecto SOS - Focus on Syrian Medical Students & Doctors está integrado na Plataforma Global de Assistência a Estudantes Sírios, que o ex-presidente lançou em 2013 e já permitiu a cerca de 135 estudantes universitários sírios prosseguirem os seus estudos.