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Sem informação não há modelo baseado em resultados

Para se passar para um modelo de saúde baseado em resultados é necessário fazer investimentos, por isso a mudança de modelo de financiamento implica uma transição e uma forma progressiva.

Filipe S. Fernandes 28 de Dezembro de 2018 às 16:45
Heriberto Jesus, presidente da IASAÚDE Inês Gomes Lourenço
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Na Região Autónoma da Madeira existe um sistema integrado em que há ligação de sistemas entre os cuidados primários e os cuidados hospitalares. No entanto, o financiamento do sistema de saúde como um todo é feito tendo como foco a produção. Mas, com o envelhecimento da população e a carga de doença aumentam os custos, o que acaba num sub-financiamento do sistema. "Com subfinanciamento é difícil implementar medidas para as quais não se tem dinheiro", admitiu Heriberto Jesus, presidente do Conselho Directivo do IASAÚDE (Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais da Madeira).

João Oliveira, presidente do conselho de administração do Hospital de Vila Real, defendeu que tem de haver mais autonomia nos hospitais, pois a autonomia é o motor de projectos para desenvolver a organizações.

Nos últimos anos, a produtividade dos hospitais tem crescido significativamente tanto em consultas como em cirurgias, com o financiamento estável. "O que quer dizer que os hospitais estão a ser cada vez menos financiados", indicou João Oliveira.

Standards ICHOM

"Somos pagos a um custo mais baixo mas temos de produzir muito mais para atingir os mesmos encargos, até porque há custos de estrutura. Um hospital tem actividade clínica, não clínica e um sem número de processos que tem de garantir. É o caso das urgências, que tem de existir", rematou o líder do Hospital de Vila Real.

Se se tem subfinanciamento é difícil implementar medidas para as quais não se tem dinheiro. Por isso é difícil mudar do paradigma da produção para o dos resultados. Heriberto Jesus
presidente do Conselho Directivo do IASAÚDE


João Oliveira considera que não se pode pensar em "mudar o modelo de financiamento de um dia para o outro sem formas de transição e de forma progressiva". Para se passar para um modelo de saúde baseado em resultados é necessário "um investimento volumoso em sistemas informáticos para se obter informação. Não há investimentos em sistemas de informação, no que é a produção, há mais de dez anos", assinalou.

Os standards ICHOM baseiam-se em informação, em dados, por isso sem sistema de informação uniformizados dificilmente se conseguem medir resultados. "Temos sistemas informáticos que têm mais de 20 anos de implementação, que estão desarticulados entre cuidados primários e cuidados hospitalares. Tudo isto impossibilita medir, ter dados em saúde de doentes ou de uma determinada doença que passa no hospital. Sem esses dados, falar em medição de resultados, é difícil", finalizou João Oliveira.

Mais informação

O sistema de saúde tem de dar um salto tecnológico como implementação da interoperabilidade dos sistemas de informação, do ponto de vista do doente, que tem de ter um papel mais activo na gestão da sua doença.

"As pessoas precisam de perceber a informação que lhes é transmitida, e no sistema actual em que os profissionais têm tempos muito reduzidos para dedicar a cada uma das pessoas, muitas vezes não há tempo para as pessoas perceberem o que se está a passar e como é que podem ter um papel activo em gerir as suas situações", salientou Daniel Simões, membro da direcção do GAT.

Na área do HIV houve ganhos de anos de vida e passou de doença como sentença de morte a doença crónica. Como recordou Daniel Simões, "no HIV, historicamente, o que foi conseguido não foi a pessoa estar no centro, que é uma discussão mais recente, mas a pessoa estar à mesa. A perspectiva das pessoas em toda esta discussão era e é essencial".

Alertou para o facto de o valor ser visto de forma diferente pelo sistema e os profissionais e pelas pessoas. "Estas vêem grandes valores em pequenas coisas em termos de qualidade de vida e do próprio sistema".

Em termos de actos, para o utente que tem de regularmente se deslocar ao sistema de saúde pode implicar mais visitas, mais profissionais, mais locais, é uma "experiência terrível". Se o sistema for financiado em actos, há tendência para manter o doente neste sistema.