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Tomás Moreira, membro do Conselho Geral da CIP, refere que o peso das exportações no PIB pode crescer muito mais, pois "o potencial de crescimento é global; se formos competitivos temos o mundo aos nossos pés. As nossas taxas de exportação e de penetração nos principais mercados são muito baixas". Acrescenta que "já não estamos na fase em que os produtos tinham pouca qualidade e o design e a concepção eram fracos. Hoje isso não acontece porque os produtos têm qualidade, são bem concebidos e as tecnologias são evoluídas".
Professor do ISCTE
António Gomes Mota alerta para a importância do segundo passo, depois da exportação, que é a internacionalização que implica ganhos de escala, dimensão e maior complexidade de gestão. O professor do ISCTE defende que "os campeões da internacionalização deveriam ter uma estratégia de porta-aviões e levar empresas mais pequenas para os mercados externos".
Com as actuais turbulências geoestratégicas compreende-se a importância da diversificação, pois uma empresa não pode "estar dependente de um cliente, de um mercado ou de uma região geográfica", diz António Gomes Mota. "É essencial a tendência para procurar mercados alternativos, até porque 94% das empresas têm 50% das suas exportações num único mercado", sustentou Nuno Sousa Pereira.
A qualidade da gestão
"A exportação foi uma necessidade de sobrevivência", diz Daniel Bessa, professor jubilado da Faculdade de Economia do Porto e atento observador da economia portuguesa nos últimos cinquenta anos. A Daniel Bessa persegue-o a dúvida sobre se quem exporta está a ganhar dinheiro. A sua desconfiança baseia-se no facto de o investimento ter tardado a arrancar e ainda mostrar uma grande debilidade. "Vender com prejuízo pode ser melhor solução do que fechar, porque assim não se perde o fixo, desde que pague o variável", mas se estivessem a ganhar dinheiro "estariam a investir". A função investimento melhorou em 2017 e pode ter "que ver com os fundos europeus, pois existe essa viciação. Era importante ver as contas de resultados dos exportadores para compreender quem ganha e quem perde", referiu. Nuno Sousa Pereira considera que "a rentabilidade da internacionalização demora tempo a concretizar-se e poderão não ser ainda visíveis os frutos desse trabalho".
Membro do Conselho Geral da CIP
"Um dos aspectos pouco referidos nos fóruns e debates é que a produtividade passa por melhorar a qualidade da gestão das empresas", referiu Alberto Castro. Adiantou ainda que a qualidade da gestão das empresas é baixa, mas as "mais bem geridas são por norma as exportadoras, o que significa que o crescimento das exportações resulta de uma aposta na qualidade da gestão".
Sublinhou a importância de um sistema bancário com condições, capacidade e reputação internacionais. Referiu, como exemplo, o facto de a Mota-Engil ter ganhado uma obra na Zâmbia e as garantias da CGD não terem sido aceites, tendo a construtora sido obrigada a recorrer a um banco turco.
O painel de debate
O tema "O Impacto do comércio internacional na economia portuguesa, as relações comerciais com Espanha e o efeito Brexit" foi moderado por André Veríssimo, director do Jornal de Negócios, e contou com a presença de António Gomes Mota, professor catedrático do ISCTE e chairman dos CTT, Daniel Bessa, economista, Nuno Sousa Pereira, director do Centro de Economia e Finanças da Faculdade de Economia do Porto, Tomás Moreira, membro do Conselho Geral da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, e Alberto Castro, economista e professor da Universidade Católica do Porto.
O Brexit e os fantasmas do proteccionismo
A saída do Reino Unido da União Europa cria preocupações nas empresas porque tornou o futuro mais incerto. Mas também se teme a fraca performance futura da economia britânica.
"O Brexit é um processo camaleão, com muitas cores e muitas formas", referiu António Gomes Mota, mas não o preocupa muito. Explicou que "pelo tipo de produtos que exportamos, não antevejo grandes problemas. Por outro lado, as pessoas qualificadas que estão no Reino Unido não deverão ser atingidas pelas medidas mais proteccionistas". A sua preocupação está na performance futura da economia do Reino Unido, que representou 9,5% das exportações lusas em 2016, porque quando "um grande mercado se constipa, as exportações portuguesas ressentem-se".
"O Reino Unido está com pouca pujança económica e as previsões de crescimento para os próximos anos indicam que ficará abaixo do crescimento da União Europeia; tem problemas de investimento e de produtividade, que estão abaixo da União Europeia e esta não tem uma grande performance nesses indicadores", referiu Nuno Sousa Pereira. O Reino Unido e Portugal, como seu parceiro comercial, "beneficiariam mais com uma rescisão amigável e um acordo comercial generoso entre o Reino Unido e a União Europeia". Daniel Bessa defendeu que para as empresas seria um factor de menor incerteza se o futuro acordo comercial com o Reino Unido fosse já negociado.
Economista e professor da Universidade Católica do Porto
O Brexit preocupa Tomás Moreira, membro da CIP e industrial de metalomecânica, pois o Reino Unido "é um dos principais destinos dos nossos produtos industriais". Traduz-se em várias incógnitas, como o preço a pagar pela saída, as características dos tratados comerciais que vão ser negociados, a questão aduaneira-alfandegária, a circulação ou a evolução da cotação da libra. "Qualquer um destes factores, por si só, seria uma tremenda dúvida, todos somados levam-nos a ser cautelosos". Mas os EUA também são uma preocupação, por causa das tendências proteccionistas e porque pode "surgir um tuit a dizer que as regras comerciais mudaram". Referiu que as empresas fazem os seus investimentos "na área comercial e industrial a longo prazo".
O crescente proteccionismo
A principal preocupação de Daniel Bessa é a "retracção a nível global do processo de globalização e o crescente proteccionismo de que o Brexit é um exemplo que representa um fecho de mercados". Assinalou "que a única potência mundial que hoje representa a abertura comercial é a China", pois em "todos os mercados mundiais importantes tem havido uma tónica proteccionista, é política e tem implicações a longo prazo".
Alberto Castro referiu que o Reino Unido "sempre foi um moderador e contrabalançou os conflitos e as afinidades de França e Alemanha, e, além disso, dava uma dimensão atlântica". Com o Brexit pode haver uma continentalização da Europa, "o que pode ser negativo para Portugal, acentuando a sua periferização e pode mesmo ser ostracizado. "É uma oportunidade para Portugal reforçar uma velha aliança e olhar para o Atlântico sem deixar a Europa" concluiu Alberto Castro.
O problema catalão e a dinâmica da economia
O Brexit e a questão soberanista da Catalunha são aspectos diferentes mas, segundo Nuno Sousa Pereira, são problemas relevantes porque "nenhuma economia produz todo o potencial quando tem problemas internos". A preocupação é que a Catalunha ponha em causa a recuperação da economia espanhola "cujo dinamismo tem contagiado a economia portuguesa". A Espanha é o principal parceiro comercial de Portugal para onde vão 21,1% das exportações de bens e serviços.
"Se a Catalunha correr mal, os resultados podem ser catastróficos para Portugal e para a Europa. No primeiro caso trata-se do impacto da economia espanhola em Portugal e no segundo pode ter um efeito de desagregação na Europa, abrir-se uma caixa de Pandora na Europa", assinalou Alberto Castro, para quem "as economias pequenas têm a perder com o proteccionismo e o potencial de desagregação".