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Samuel da Rocha Lopes: "Bancos podem desaparecer e ainda não o sabem"

A digitalização crescente vai continuar a mudar de maneira profunda o negócio bancário e os mercados financeiros, tal como tem vindo e está a acontecer de forma disruptiva com outros sectores da actividade económica

24 de Setembro de 2018 às 13:30
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"Os bancos tradicionais, de grandes e sólidos edifícios, estão a desaparecer, e o pior é que alguns desses bancos ainda não o sabem", diz Samuel da Rocha Lopes, professor convidado da Nova SBE. "A digitalização crescente vai continuar a mudar de maneira profunda o negócio bancário e os mercados financeiros, tal como tem vindo e está a acontecer de forma disruptiva com outros sectores da actividade económica", adianta. Mas não deixa de salientar que "os bancos sempre souberam aproveitar bem as vantagens da inovação tecnológica ao longo dos últimos anos, e no geral com grandes benefícios para a sociedade".

Os bancos sempre souberam aproveitar bem as vantagens da inovação.Samuel da Rocha Lopes
Professor convidado da Nova SBE

Por sua vez, Renato Paço, director executivo da Claranet, é menos apocalíptico e assinala que, ao contrário do que se verificou noutras indústrias, "não temos assistido ao aparecimento de startups que criem uma disrupção tal que ameace os incumbentes, como aconteceu com o Airbnb na hotelaria, a Amazon nos livros, a Netflix nos videoclubes, a Uber nos táxis".

Carlos Moedas, comissário europeu da Inovação, referiu recentemente que a directiva de pagamentos vai mudar a banca. Samuel da Rocha Lopes considera que esta alteração é, de facto, disruptiva para o sector bancário". Explica que a disrupção é notória porque as barreiras à entrada de novos concorrentes reduziram-se drasticamente, num sector tradicionalmente protegido por licenças muito difíceis de ser obtidas por autorizações dos reguladores.

O teste dos pagamentos

Além disso, ficou definido que a informação bancária individual é do cliente e não do banco, e como tal, pode autorizar a concessão da sua informação a outras instituições financeiras. Os bancos ficam assim obrigados a abrir o acesso dessa informação, obrigando-se também a garantir a confidencialidade de dados e segurança tecnológica.

Esta área tem sido um foco de inovação e de concorrência com os pagamentos imediatos, as aplicações móveis nos telemóveis e outros dispositivos de comunicação, os porta-moedas electrónicos, e o comércio electrónico.

Como diz Samuel da Rocha Lopes, "mesmo os bancos enquanto intermediários destes pagamentos e transferências de valores podem vir a ser desnecessários com o desenvolvimento de iniciativas de pagamentos 'peer-to-peer', com a utilização de blockchain entre quem paga e quem recebe o valor, mesmo entre jurisdições e em 'real-time' (bitcoin e ether), um negócio também apetecível para as grande empresas tecnológicas (Apple e respectivo iMessenger a permitir pagamentos). Neste último caso, os bancos usando as actuais infraestruturas estão em clara desvantagem, a não ser que adoptem também a tecnologia blockchain entre eles, o que tem estado a acontecer".

Futuro da banca

Oportunidades e desafios

É sempre muito difícil prever o impacto futuro das inovações tecnológicas dado o potencial de direcções que desencadeia. Mas é nestas alturas que existem não apenas desafios como novas oportunidades também para os bancos que já existem.

• Clientes de instituições financeiras com possibilidade de maior poder de negociação
• Bancos com necessidades de investimentos significativos em tecnologia
• Bancos com maiores necessidades de investimentos no tratamento de informações de clientes
• Concessão de crédito sem necessidade de bancos


Cenários de desenvolvimento

As fintech estão em ascensão, penetrando nos mercados de serviços bancários, de pagamentos e de gestão de activos. Muitas das fintech começaram como startups no sector não-bancário e muitos bancos acabaram por as adoptar.

• Parcerias entre bancos e fintech
• Fintech sozinhas em certos nichos do sector bancário
• Ascensão das grandes empresas tecnológicas