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A inovação é extremamente importante no contexto empresarial atual. Rui Coutinho, executive director do Nova SBE Innovation Ecosystem, acredita que a competitividade futura das empresas portuguesas está associada à resolução de problemas, especialmente num contexto de permanente disrupção que caracteriza, de forma estrutural, a era global em que vivemos, na medida em que é a inovação que permite que as empresas se mantenham relevantes, atualizadas e duradouras, acompanhando e liderando as mudanças no mercado. Em entrevista, Rui Coutinho garante que a Nova SBE assume a responsabilidade de orquestrar este ecossistema para, através de inovação aberta e colaborativa, cocriar e cogerar impacto real.
Hoje, que importância tem a inovação no contexto empresarial?
Com a evolução tecnológica e a crescente mudança nos padrões de consumo, as empresas precisam de ser mais criativas e inovadoras para se destacarem e atraírem clientes. Tenho dito que é fundamental que as empresas construam, a partir da inovação, o seu novo legado. "Disruption eats legacy for breakfast"; tenho dito isto à exaustão nos últimos cinco anos...
Por fim, a inovação também pode e deve ter um impacto positivo no mundo, ajudando a resolver problemas sociais e ambientais. E essa é também uma responsabilidade das empresas que pode e deve ser endereçada através de uma estratégia e uma prática estruturadas de inovação.
A inovação está diretamente ligada aos índices de competitividade?
Sim, a inovação está diretamente ligada aos índices de competitividade de uma empresa. A competitividade é a capacidade de uma empresa competir com sucesso no mercado, e a inovação é uma das principais formas de aumentar essa competitividade. Quando uma empresa inova, ela pode oferecer produtos ou serviços diferenciados, com melhores modelos de negócio, em relação aos concorrentes, o que pode aumentar a sua participação de mercado. Além disso, a inovação pode melhorar a eficiência da empresa, o que resulta em custos mais baixos e, consequentemente, em preços mais competitivos para os clientes.
Para além disso, a inovação funciona também como vantagem competitiva por antecipação, isto é, ajuda a empresa a acompanhar e antecipar as mudanças no mercado e na tecnologia, mantendo-a atualizada e preparada para liderar – não apenas enfrentar – desafios futuros.
Como tem sido a história da inovação em Portugal?
Portugal tem feito um caminho assinalável, especialmente nos últimos 25 anos, do ponto de vista da inovação. As empresas têm compreendido que a sua competitividade tem de estar no valor acrescentado e não nos baixos custos. E vemos muitos setores da nossa economia a fazerem esse movimento – talvez a metalomecânica e o calçado sejam os exemplos mais claros disso. Por outro lado, também do ponto de vista das políticas públicas, em particular no que concerne ao ensino superior e à ciência diz respeito, o salto foi quase quântico.
Porém, não temos sido capazes de escalar esta visão para a generalidade das nossas empresas. Em especial quando o nosso tecido empresarial é constituído eminentemente por PME (e não existe escala para trabalhar a inovação de forma crítica). Complementarmente, não temos sido capazes de fazer acompanhar essa evolução na inovação de uma evolução substancial na qualidade da nossa gestão. Acho que nos faz falta um "choque de gestão", que definitivamente catapulte as nossas empresas e a nossa economia para os padrões de competitividade que necessitamos.
Hoje, como se encontra Portugal no capítulo da inovação quando comparado com os restantes países europeus?
No European Innovation Scorebord somos 19.º em 27 países. Isso mostra o caminho que temos pela frente. Repito, o nosso desafio é acelerar a escalabilidade da incorporação de inovação na generalidade do tecido empresarial. Em alguns setores estamos, seguramente, muito acima desse lugar. Mas a verdade é que esses bons exemplos – que queremos celebrar no Prémio Nacional de Inovação – tendem ainda a ser a exceção e não tanto a regra.
Como podemos melhorar este indicador?
Julgo que Portugal precisa de uma estratégia mais integrada e mais estrutural que "ataque", de forma decisiva e transformadora, o problema crónico geral de falta de competitividade da sua economia. E o tema não é apenas inovação, o tema é melhor gestão nas empresas – precisamos de um "choque de gestão" –, mais e melhor concorrência, melhor ambiente de negócios, melhores (e mais simplificados) procedimentos administrativos, um sistema fiscal mais previsível e indutor de competitividade (e concebido não apenas como gerador de receita para o Estado), um sistema educativo mais moderno, um sistema legal mais veloz e eficaz e sistemas de incentivos mais racionais e mais orientados ao impacto que geram a médio e longo prazo e menos focado na sua própria taxa de execução. Esta preocupação sobre a taxa de execução do PRR, por exemplo, devia ser antes uma discussão sobre o impacto real e efetivo do PRR na melhoria da nossa competitividade. Ou seja, é preciso que o aumento da competitividade seja encarado como desígnio nacional e que, nesse sentido, exista uma visão para a economia do país.
Mas então, basicamente, o que falha em Portugal no contexto da inovação?
Falha a gestão e falha um ambiente empresarial que estimule essa inovação. Isto significa que a responsabilidade é muito das empresas. Os padrões de gestão orientados para resultados imediatos são ainda dominadores, seja por falta de escala, de massa crítica e de recursos financeiros, seja por falta de gestão mais sofisticada – e esse é um problema de capacitação. Temos quatro escolas de gestão e negócios nos rankings das melhores do mundo; temos de ser capazes de tirar melhor partido disso e melhorar substancialmente a qualidade da gestão das nossas empresas.
A covid-19 teve um forte impacto nos processos de inovação?
A pandemia da covid-19 não teve, na minha opinião, um impacto significativo nos processos de inovação em todo o mundo. Por um lado, a pandemia acelerou a necessidade de digitalização em muitos setores, o que levou a uma maior procura por soluções digitais inovadoras. Para além disso, mudou também alguns hábitos de consumo de muitas pessoas, o que criou oportunidades para empresas capazes de se adaptar e de inovar na forma como responderam a esses novos hábitos. Mas, simultaneamente, a pandemia e a crise económica que a acompanhou criaram dificuldades financeiras a muitas empresas e, em alguns casos, atrasou ou interrompeu muitos processos de inovação, incluindo a colaboração entre empresas e universidades, o que teve, seguramente, um impacto negativo a longo prazo.
Qual o papel de instituições como a Nova SBE nesta matéria?
Enquanto escola pública de negócios, acreditamos que temos um papel importante e não o enjeitamos. Temos procurado desafiar todas as convenções e normas, trazendo para dentro da escola as empresas e as entidades públicas. Somos um exemplo de colaboração ímpar em Portugal. Criámos um ecossistema de inovação pioneiro em todo o mundo, onde alunos, professores, investigadores, startups, empresas e entidades públicas colaboram todos os dias, de forma sistemática e estruturada, para desenvolver inovação de produtos, serviços, processos e modelos de negócio que enderecem os desafios de competitividade e, simultaneamente, resolvam desafios societais. Acreditamos que a competitividade futura das nossas empresas estará associada também à resolução de problemas sociais e ambientais e assumimos a responsabilidade de orquestrarmos este ecossistema para, através de inovação aberta e colaborativa, cocriarmos e cogerarmos impacto real. E, neste contexto, assumimos em pleno as nossas missões: capacitar uma nova geração de talento, investigar e produzir conhecimento de ponta e valorizar esse conhecimento através da inovação, servindo a sociedade.
Quem deve liderar a inovação? O Estado ou o mundo empresarial? Os dados de 2021 do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional (IPCTN) indicam um aumento do investimento em inovação e desenvolvimento (I&D), em que o setor privado é responsável por 57% do investimento nacional.
A liderança da inovação é uma questão complexa e não pode ser atribuída exclusivamente ao Estado ou ao mundo empresarial. Ambos têm papéis importantes a desempenhar na promoção da inovação. Por um lado, o Estado tem o papel de estabelecer um ambiente favorável à inovação, por meio de políticas públicas eficientes e indutoras de desenvolvimento económico e competitividade, por exemplo. Além disso, o Estado também pode ser um importante financiador da investigação e desenvolvimento – nomeadamente através do sistema científico e tecnológico de cariz público, em que os benefícios são compartilhados com a sociedade como um todo.
Por outro lado, diria que o mundo empresarial tem o papel mais importante a desempenhar na condução da inovação, na medida em que são as empresas que realmente desenvolvem e implementam a inovação no seu dia a dia, criando os produtos e os serviços que melhoram a vida das pessoas. E esses dados mostram como as empresas têm abraçado esse desafio em Portugal.
Qual a importância de iniciativas como o Prémio Nacional de Inovação?
É absolutamente fundamental mostrar e celebrar os melhores exemplos de inovação que são desenvolvidos no país. É preciso mostrar que é possível, que temos tudo o que é necessário, que não estamos presos a um destino de empobrecimento e que há muito que as empresas portuguesas perceberam que os seus fatores de competitividade já não residem em custos baixos, mas sim na capacidade de acrescentar valor real, através do design, do conhecimento e da inovação. É uma economia do conhecimento e da inovação que queremos continuar a desenvolver e, nesse sentido, premiar os bons exemplos, celebrar aqueles que arriscam, que se atrevem, que não se resignam, é olhar para o futuro, é apontar caminhos. Mais do que o prémio em si, a iniciativa pretende mobilizar Portugal para a inovação. E esse propósito é absolutamente claro para nós.
Porque se associaram ao PNI?
Através do nosso ecossistema de inovação, a Nova SBE decidiu assumir o seu papel de ator e orquestrador de inovação. Enquanto universidade pública temos o dever e a responsabilidade de ser também um mobilizador da nossa sociedade para a importância da competitividade e inovação. Por isso não hesitamos em nos associar a esta iniciativa.
No evento do próximo dia 14 vai falar sobre "O Estado da Inovação". Qual a principal mensagem que pretende transmitir aos presentes?
Mais do que olhar para trás, vou procurar olhar para a frente. Vou procurar discutir com os presentes aquilo que é preciso fazer para abraçarmos, de uma vez por todas, este desígnio da competitividade através da inovação. Vou provocar, certamente... E vou procurar inspirar e mobilizar, de forma prática, as empresas para aquilo que, na minha opinião, deve ser a sua primeira prioridade: a construção do seu próximo legado.
Prémio Nacional de Inovação O Prémio Nacional de Inovação terá a sua conferência de lançamento no próximo dia 15 de fevereiro, no Terminal do Porto de Leixões. O evento irá contar com a presença de Diana Ramos, diretora do Jornal de Negócios, Francisco Barbeira, administrador do BPI, e António Miguel Ferreira, managing director da Claranet.
Pedro Brito, associate dean da Nova SBE, fará a apresentação do prémio, enquanto Rui Coutinho, executive director do Innovation Ecosystem da Nova SBE, será o primeiro keynote speaker do dia, abordando o tema "O Estado da Inovação".
Vasco Portugal, CEO da Sensei Tech, irá apresentar a "Innovation Story", cedendo depois o palco ao debate "Desafios da Inovação em Portugal", que contará com a participação de Afonso Eça, diretor executivo do Centro de Excelência de Inovação e Novos Negócios do BPI, Ana Casaca, diretora de inovação da Galp, Joana Mendonça, presidente da Agência Nacional de Inovação, e Sérgio Silvestre, diretor-geral de Inovação da Claranet Labs.
Pode fazer aqui a inscrição na conferência