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Ricardo Mexia: “Não mudou rigorosamente nada na saúde pública após a pandemia”

29 de Março de 2023 às 16:00
Ricardo Mexia, epidemiologista, liderou o processo da pandemia Pedro Catarino
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"Não estamos preparados para uma nova pandemia e não mudou rigorosamente nada na saúde pública após a pandemia", lamenta Ricardo Mexia, epidemiologista e médico de saúde pública do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, que esteve na liderança desse processo em Portugal, enquanto presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP).

A verdade é que "há 20 anos que existe uma reforma da Saúde Pública (SP), sem que consigamos implementar um milímetro que seja dessa mesma reforma", destacou, explicando que "a chamada reforma dos cuidados de saúde primários (CSP) foi uma reforma da Medicina Geral e Familiar em que a Saúde Pública foi a reboque".

Os sistemas de informação são um tema crítico nessa reforma, considerando o responsável que "é essencial dotar a SP de um sistema de informação próprio". "Todos os setores têm sistemas de informação robustos e dedicados e a SP não tem, precisamente quem devia até ter o sistema mais robusto porque precisa de tomar decisões e da forma mais informada possível", sublinhou. De acordo com o especialista e também presidente da mesa da Assembleia Geral da ANMSP, o tema da autonomia é igualmente vital para essa reforma, lembrando que "a Saúde Pública tem uma dupla tutela, da Autoridade de Saúde e das Administrações Regionais de Saúde, o que provoca dicotomias".

Precisamente por isso, "uma das questões em cima da mesa seria autonomizar a SP", que, na opinião de Ricardo Mexia, "ficou erradamente acantonada nos CSP, porque a Saúde Pública é transversal a toda a saúde". Ou seja, " precisa de ter independência técnica e evitar situações como a que tivemos nesta pandemia de justificar tecnicamente as opções políticas". Depois, "é fundamental alocar recursos, pois a transferência do Orçamento do Estado para a área da SP é muito reduzida, e, sem meios, é muito difícil de fazer o que quer que seja".

Na prática, como destacou, "é preciso que haja perceção política de que um investimento nesta área é sustentável e que permitirá no futuro, melhorar aquela década de vida final que em Portugal temos com muito má qualidade e incapacidade".