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Daniel Bessa, professor jubilado da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, é o presidente do júri do Prémio Floresta e Sustentabilidade e sublinha que as várias entidades a quem o prémio se dirige que "confiem no júri, que, pela sua extensão e pela independência dos seus membros, não se encontra capturado por nenhum dos potenciais concorrentes".
Espera "que os potenciais concorrentes, sobretudo das empresas e, em particular, das empresas maiores, que ‘venham a jogo’, mostrar-nos as suas ‘habilidades’, pelo mero ‘prazer de virem a jogo’: uma terá de ‘ganhar’, sendo momentaneamente ‘chamada à boca de cena’, na certeza de que nenhuma empresa concorrente tem a perder o que quer que seja e de que o conjunto, o setor, se verá valorizado, de todos os pontos de vista, tanto mais quanto mais potenciais candidatos ‘vierem a jogo’".
Qual a importância da floresta para a economia portuguesa e como é que poderia acrescentar mais valor?
Como economista, valorizaria a importância da floresta enquanto um dos maiores recursos naturais de que o país dispõe. Há também o mar, mas esse, por inutilizado, ainda não chega a ser recurso. É por isso que as exportações de produtos industriais de base florestal, mais do que pelo seu peso no total de exportações de mercadorias do país, na casa dos 10%, se distinguem pelo elevadíssimo peso do valor acrescentado nacional nessas exportações, seguramente superior aos 70%. Em nenhum outro grande setor industrial nacional, mesmo exportando mais, encontramos uma tão elevada incorporação de valor acrescentado nacional.
Espero que, a prazo, a "estatística económica" seja capaz de registar contributos da floresta para a qualidade de vida coletiva, como os relativos ao oxigénio, à biodiversidade ou à natureza de que usufruímos, hoje negligenciados, porque não encontramos ainda a melhor forma de os contabilizar.
Na sua opinião o que é deveria mudar nas políticas florestais para tornar o setor mais atrativo ao investimento e à inovação?
No setor florestal, como em qualquer outro, diferentes atores pedem às políticas diferentes orientações, em concordância com os seus interesses, com a sua ideologia e com a sua visão do mundo. O que me parece necessário é que se chegue a um consenso, ou a um compromisso duradouro, libertando a política florestal portuguesa do reparo que lhe é mais comum, vindo praticamente de todos estes atores: o seu caráter errático, ao serviço das idiossincrasias dos sucessivos ocupantes da "cadeira ministerial". Nada se me afigura mais pernicioso para o investimento e para a inovação do que o caráter errático destas políticas, sendo sempre preferível uma orientação definida e previsível.
O que é que os próprios empresários do setor, que tem vários segmentos muito diferenciados em termos de capacidade de investimento, exportação e inovação, poderiam fazer melhor?
Esta questão, trazendo-me para a "minha praia", deixa-me sempre mais à vontade, para não dizer mais seguro. Por mais diferenciados que sejam, e são-no, os empresários do setor (pelo segmento em que operam; pela suas dimensões, com impacto em variáveis tão importantes como a capacidade de investimento, exportação e inovação), o que se espera, melhor, se exige de todos e cada um deles é que melhorem as suas práticas de gestão, em todas as frentes. É a melhoria dessas práticas de gestão que justifica resultados tão assinaláveis como os que têm vindo a ser conseguidos pelas empresas portuguesas mais representativas em segmentos como, por exemplo, os do papel e da pasta de papel ou da cortiça. Dos mais pequenos, e sabemos como predominam, com uma expressão avassaladora, espero, como condição sine qua non, níveis acrescidos de associativismo e de cooperação, não apenas entre si mas também com agentes exteriores, nomeadamente fornecedores de bens e serviços e, entre estes, o sistema científico e tecnológico português.