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Portugueses passaram de aforradores a consumidores

Tem havido falta de imaginação e inovação para proporcionar um determinado tipo de aplicações que levem a que empresas e as famílias voltem à poupança.

02 de Dezembro de 2019 às 13:30
Bloomberg
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"As taxas baixas têm afetado o negócio da banca e das seguradoras, sobretudo do ramo Vida", salientou Rui Leão Martinho, bastonário da Ordem dos Economistas. "Nos produtos com pouco risco as taxas de juro acabam por ser negativas", salientou Rui Alpalhão. "Tem havido falta de imaginação e inovação para proporcionar um determinado tipo de aplicações que levem a que empresas e famílias voltem à poupança", acrescentou Rui Leão Martinho.

Historiou que Portugal sempre foi um país de salários baixos mas com uma poupança muito razoável, que se foi reduzindo até ao mínimo. Hoje Portugal é um dos países que menos poupam na Europa. Em 2001 a taxa de poupança das famílias portuguesas era de 13% e passou para 6,5% em 2018. "Passamos de aforradores a consumidores puros", concluiu Rui Leão Martinho.

"Mas parece não haver tanto da parte das autoridades como dos operadores do mercado uma ideia de como é que podemos levar famílias e empresas a poupar, porque é essencial repor a situação", estimou o bastonário dos Economistas.

Na sua opinião, "devia-se já tentar ter uma ideia de como voltar a gerar poupança, e não tem de ser pela parte fiscal, se houver benefício fiscal tanto melhor, mas tem de haver a ideia de que é necessário ter poupança, que serve como almofada de segurança. Mas tem de se criar produtos de poupança".

Rui Martinho recordou as feiras da poupança que se faziam na FIL há cerca de 30 anos para vários públicos. "Não tem a ver apenas com a literacia financeira, mas explicar porque é que tem de haver poupança, tem a ver com pensar no futuro e que a economia é feita de ciclos".

Mercado de capitais europeu

Para António Seladas, Equity Analyst, AS Independent Research, era importante que houvesse um mercado de capitais na Europa, que se promovesse mercados de capitais quer de dívida quer de ações e essa devia ser uma função do regulador e das próprias autoridades até porque os "bancos têm grandes balanços, excessivos".

"Quando há problemas nos bancos estes caem nos governos, nas taxas de juro, e nos impostos. Prefiro perder 10% numa obrigação ou numa ação que comprei pela minha livre decisão do que perder 10% em impostos por alguém quem tomou a decisão", disse António Seladas.

"Dantes ganhava-se dinheiro com os depósitos, hoje em dia perde dinheiro, não querem depósitos. Depois aparecem operadores como o Revolut que vão conquistar quota de mercado rapidamente se os bancos continuarem a subir as comissões. O BCE devia pressioná-los para ter ativos mais baixos e estimular o mercado de capitais que é uma fonte de receita enorme para os bancos e sem risco, que é comissões, e com menos capitais próprios. É um discurso que não se ouve", culminou António Seladas.