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"Portugal necessita de trabalhar e desenvolver o seu modelo económico, ou seja, atrair mais investimento, modernizar-se e tornar-se menos burocrático", defende Rui Barros, managing director da Accenture Portugal, responsável pela área de tecnologia. O país está acompanhar as novas lógicas de negócio. "Por exemplo, no retalho estamos a assistir ao crescimento acelerado dos pure players digitais e à reinvenção dos players mais tradicionais."
Quais foram os principais drivers das mudanças provocadas pela pandemia de covid-19 nas organizações em termos de tecnologia e de lógicas de negócio? Qual foi o impacto em Portugal?
O comércio eletrónico aumentou, e Portugal não foi exceção. Os dados da SIBS indicam um valor de 10% antes da pandemia, que depois subiu para 18%. Os hábitos de compras mudaram, a sociedade está a mudar e as empresas têm de a acompanhar.
Sabemos hoje que as empresas líderes na transição digital e com práticas sustentáveis têm quase três vezes mais probabilidade do que as empresas concorrentes de virem a ser "tomorrow’s leaders". Esta dupla transformação está ainda a decorrer e implica incentivar modelos de negócio impulsionados pela sustentabilidade e dotados de tecnologia, admitindo que a sustentabilidade e a tecnologia não são prioridades que possam ser encaradas de forma separada.
Portugal está na corrida, no sentido em que está a acompanhar as novas lógicas de negócio. Por exemplo, no retalho estamos a assistir ao crescimento acelerado dos pure players digitais e à reinvenção dos players mais tradicionais, nomeadamente com integração híbrida da experiência digital e física. O crescimento exponencial do comércio eletrónico durante a pandemia acelerou esta transformação.
Quais são as principiais dificuldades para a reinvenção das organizações provocadas pela aceleração da transformação digital? Em Portugal há desafios adicionais?
Precisamos de criar condições para atrair e reter talento. Em Portugal, existe escassez de talento tecnológico qualificado, o que acaba por constituir um obstáculo na transição e na oferta de serviços digitais. Para uma economia digital saudável é necessário trabalhar as competências dos colaboradores. Para além de ações de reskilling e upskilling, e de aumento necessário da formação em tecnologias de informação, temos também de atrair talento estrangeiro qualificado, porque o nacional não nos chega.
Ocupamos o 19.º lugar no Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade. O nosso indicador da tecnologia digital nas empresas encontra-se abaixo da média europeia, em 16.º lugar. Em Portugal, o número de empresas que utilizam as capacidades de computação na cloud e efetuam análises de volumes elevados de dados no suporte à sua atividade é inferior à média da União Europeia. Depois quem lidera esta transformação em Portugal são as grandes empresas e existe, ainda, uma adoção reduzida nas PME.
É essencial investir na digitalização das empresas e na capacitação das pessoas para que se possa inverter esta situação. Portugal deve apostar na integração de inteligência artificial, adoção de recursos na cloud, capacidades de realidade aumentada e conectividade 5G.
Esta pandemia também teve impacto na organização e no trabalho da Accenture Portugal? Quais foram as principais mudanças?
Um pouco por todo o mundo, e num curto espaço de tempo, a Accenture pôs grande parte dos seus clientes a trabalhar à distância. Algumas empresas já tinham bases para o fazer, e para essas foi mais fácil, as outras tiveram de se adaptar. As empresas que tinham investido na digitalização das suas operações e em soluções tecnológicas inovadoras nativas na cloud aceleraram esta transição sem qualquer disrupção.
A cloud passou a ser o nosso maior foco, já o era antes da pandemia e agora acentuou-se. No final do ano passado lançámos uma área, neste momento essencial, a Cloud First, que visa acelerar a transição digital e a migração de clientes para a cloud. Com um investimento de 2,5 mil milhões de euros para os próximos três anos, centralizámos numa única área o acesso a uma rede global de cerca de 70 mil profissionais com profundos conhecimentos de cloud, um conjunto integrado de capacidade de dados, infraestrutura e aplicações integradas, um forte ecossistema de competências e uma cultura de mudança, juntamente com soluções de indústria.