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Portugal tem uma década para cumprir os três eixos definidos na estratégia nacional para o mar: criação do conhecimento, proteção do oceano e promoção da economia azul sustentável. No âmbito da iniciativa "Mar Sustentável", organizada pelo Jornal de Negócios e o Fórum Oceano, com o patrocínio da Câmara Municipal de Oeiras e com o apoio institucional do gabinete do secretário de Estado do Mar, foi realizada a conferência "Transformação energética: o papel estratégico da economia azul", que teve como patrocinador a EDP. Neste evento, o secretário de Estado do Mar, José Maria Costa, recordou esses objetivos do país quanto ao aproveitamento sustentável do maior recurso natural de que dispõe e ao seu potencial como cluster de energia.
Os oradores convidados do webinar "Transição energética: o papel estratégico da economia azul" foram Andreia Ventura, administradora do grupo ETE, familiar, de capital exclusivamente português, com 83 anos de atividade, o qual trabalha no setor das operações marítimas e portuárias; e Rui Marcelino, CEO da empresa Almadesign, que, entre outros, desenvolve projetos no design de transporte marítimo. Ambos explicaram o que já está a ser feito na transição energética no setor portuário e do transporte marítimo e o que ainda está por fazer.
A maior lacuna parece ser a inexistência de uma perspetiva holística ou integrada de todas as áreas ligadas ao mar ou aos oceanos, como frisou Rui Marcelino.
Portugal está bem posicionado na economia azul por causa da sua "elevada disponibilidade de recursos energéticos offshore", realçou o secretário de Estado do Mar na abertura do evento. Um potencial que, segundo José Maria Costa, "tem vindo a ser comprovado no terreno com projetos de inovação tanto na área da energia eólica offshore como na energia das ondas".
Um dos projetos mais importantes para o país é, por exemplo, o "desenvolvimento do cluster do hidrogénio" no porto de Sines, com um significativo investimento.
Para o vice-presidente da Câmara Municipal de Oeiras, autarquia anfitriã da iniciativa, "o mar é uma oportunidade que se abre nas próximas décadas". Francisco Rocha Gonçalves foi, no entanto, crítico na sua intervenção: "O mar português tem sido totalmente mal aproveitado nas últimas décadas, estamos a viver uma crise energética sufocante, ao nível do recurso que escolhemos, o gás natural, primeiro com a dependência face à Argélia, depois com a Nigéria."
Afinal, o tempo de navegar neste valioso recurso azul observando os critérios ESG (Environmental, Social e Governance) é agora. E esse foi um ponto consensual na sessão de debate do "Mar Sustentável".
Transporte marítimo na rota certa
Com o conhecimento profundo das várias áreas ligadas ao mar em que o grupo ETE opera, a administradora Andreia Ventura assegurou que na transição energética e economia azul "muito tem sido feito pela International Maritime Organization" (a Organização Marítima Internacional). De que tomada de ação se fala? "Na mudança para o uso de combustíveis mais sustentáveis nos navios, na escolha do hidrogénio como uma das soluções, da energia elétrica e da possibilidade de utilização combinada de vários modelos energéticos no transporte marítimo. Um navio é um ativo muito caro e que dura muitos anos. Tem de haver capacidade de ir prevendo a sua adaptação para que não fique obsoleto com as novas exigências do ponto de vista ambiental".
O grupo ETE, repartido por 40 empresas, emprega 1143 pessoas em diferentes geografias, incluindo Bélgica (porto de Antuérpia), Cabo Verde, Colômbia e Uruguai. É com essa experiência global que Andreia Ventura pode dizer que a preocupação com a descarbonização nas operações portuárias já "não é apenas dos concessionários, das empresas privadas que exploram e fazem a movimentação de mercadorias dos portos, mas também das administrações portuárias, sinto isso de norte a sul, porque estamos em todos os portos do continente".
O próprio grupo ETE está a seguir a rota da transição energética. "Temos feito muito investimento na adaptação das gruas, dos pórticos para todos passarem a trabalhar com energia elétrica, as novas gruas que temos comprado já são elétricas e tem havido também uma preocupação de os navios ligarem a terra, de fazerem ligação direta".
Até no setor de movimentação das mercadorias já é notória a preocupação ecológica. Por exemplo, no porto de Leixões, "para que não haja poeiras para a cidade" quando se está a mover carga. O mesmo acontece com "os perímetros de contenção, a rega de algumas mercadorias", exemplificou a administradora do grupo ETE. "Há uma consciência grande e uma mudança nesta área que tem sido feita de forma discreta e é de iniciativa privada e pública."
O ecossistema do mar
Rui Marcelino, CEO da empresa Almadesign, lembrou que a empresa que lidera completa 25 anos, motivo para uma edição interna comemorativa cujo primeiro capítulo se intitula "People, Planet and Growth". "São os três pilares da sustentabilidade: social, ambiental e económica." Enquanto empresa ligada à inovação que desenvolve produtos para a área rodoviária, ferroviária e aeronáutica, só nos últimos três a quatro anos é que a Almadesign teve projetos no setor do mar, referiu Rui Marcelino, para mostrar como este recurso natural tem estado esquecido nas parcerias. "Desde o início da empresa sempre tentámos trabalhar na área do mar e foi onde encontrámos mais resistência em termos de entrada da inovação, da colaboração e no próprio virar-se para os outros setores para perceber de onde a inovação pode vir."
Sobre as formas de armazenamento de energia e propulsão, o CEO da Almadesign entende que não se pode pensar numa única fonte energética de futuro porque há várias soluções e as escolhidas dependem das embarcações e do tipo de viagens, de curto, médio ou longo curso. "Vamos ter uma proliferação de soluções alternativas. Por exemplo, o hidrogénio pode ser usado como combustível e como gerador de energia elétrica."
"Gostava que Portugal olhasse para isto não numa perspetiva pura energética ou logística, mas a englobar tudo o que a economia do mar pode trazer. Porque não tornar a energia eólica ou das ondas do mar mais próxima das rotas marítimas que temos da costa e porque não associar a presença das plataformas offshore aos recursos de aquacultura, à investigação do mar, à preservação dos recursos marítimos em vez de mudarmos as coisas avulso? Porque não se aborda tudo de forma integrada?", questionou. No fundo, trata-se de "olhar para a energia numa perspetiva de banda muito mais larga".
Os oradores convidados do webinar "Transição energética: o papel estratégico da economia azul" foram Andreia Ventura, administradora do grupo ETE, familiar, de capital exclusivamente português, com 83 anos de atividade, o qual trabalha no setor das operações marítimas e portuárias; e Rui Marcelino, CEO da empresa Almadesign, que, entre outros, desenvolve projetos no design de transporte marítimo. Ambos explicaram o que já está a ser feito na transição energética no setor portuário e do transporte marítimo e o que ainda está por fazer.
A maior lacuna parece ser a inexistência de uma perspetiva holística ou integrada de todas as áreas ligadas ao mar ou aos oceanos, como frisou Rui Marcelino.
Portugal está bem posicionado na economia azul por causa da sua "elevada disponibilidade de recursos energéticos offshore", realçou o secretário de Estado do Mar na abertura do evento. Um potencial que, segundo José Maria Costa, "tem vindo a ser comprovado no terreno com projetos de inovação tanto na área da energia eólica offshore como na energia das ondas".
Um dos projetos mais importantes para o país é, por exemplo, o "desenvolvimento do cluster do hidrogénio" no porto de Sines, com um significativo investimento.
Para o vice-presidente da Câmara Municipal de Oeiras, autarquia anfitriã da iniciativa, "o mar é uma oportunidade que se abre nas próximas décadas". Francisco Rocha Gonçalves foi, no entanto, crítico na sua intervenção: "O mar português tem sido totalmente mal aproveitado nas últimas décadas, estamos a viver uma crise energética sufocante, ao nível do recurso que escolhemos, o gás natural, primeiro com a dependência face à Argélia, depois com a Nigéria."
Um navio é um ativo muito caro e que dura muitos anos. Tem de haver capacidade de ir prevendo a sua adaptação para que não fique obsoleto com as novas exigências do ponto de vista ambiental. Andreia Ventura
Administradora do grupo ETE
"O que vamos fazer em relação aos recursos do subsolo marítimo? Às energias que temos no nosso mar?", questionou o autarca, admitindo estar a ser deliberadamente provocador.Administradora do grupo ETE
Afinal, o tempo de navegar neste valioso recurso azul observando os critérios ESG (Environmental, Social e Governance) é agora. E esse foi um ponto consensual na sessão de debate do "Mar Sustentável".
Transporte marítimo na rota certa
Com o conhecimento profundo das várias áreas ligadas ao mar em que o grupo ETE opera, a administradora Andreia Ventura assegurou que na transição energética e economia azul "muito tem sido feito pela International Maritime Organization" (a Organização Marítima Internacional). De que tomada de ação se fala? "Na mudança para o uso de combustíveis mais sustentáveis nos navios, na escolha do hidrogénio como uma das soluções, da energia elétrica e da possibilidade de utilização combinada de vários modelos energéticos no transporte marítimo. Um navio é um ativo muito caro e que dura muitos anos. Tem de haver capacidade de ir prevendo a sua adaptação para que não fique obsoleto com as novas exigências do ponto de vista ambiental".
O grupo ETE, repartido por 40 empresas, emprega 1143 pessoas em diferentes geografias, incluindo Bélgica (porto de Antuérpia), Cabo Verde, Colômbia e Uruguai. É com essa experiência global que Andreia Ventura pode dizer que a preocupação com a descarbonização nas operações portuárias já "não é apenas dos concessionários, das empresas privadas que exploram e fazem a movimentação de mercadorias dos portos, mas também das administrações portuárias, sinto isso de norte a sul, porque estamos em todos os portos do continente".
O próprio grupo ETE está a seguir a rota da transição energética. "Temos feito muito investimento na adaptação das gruas, dos pórticos para todos passarem a trabalhar com energia elétrica, as novas gruas que temos comprado já são elétricas e tem havido também uma preocupação de os navios ligarem a terra, de fazerem ligação direta".
Até no setor de movimentação das mercadorias já é notória a preocupação ecológica. Por exemplo, no porto de Leixões, "para que não haja poeiras para a cidade" quando se está a mover carga. O mesmo acontece com "os perímetros de contenção, a rega de algumas mercadorias", exemplificou a administradora do grupo ETE. "Há uma consciência grande e uma mudança nesta área que tem sido feita de forma discreta e é de iniciativa privada e pública."
O ecossistema do mar
Rui Marcelino, CEO da empresa Almadesign, lembrou que a empresa que lidera completa 25 anos, motivo para uma edição interna comemorativa cujo primeiro capítulo se intitula "People, Planet and Growth". "São os três pilares da sustentabilidade: social, ambiental e económica." Enquanto empresa ligada à inovação que desenvolve produtos para a área rodoviária, ferroviária e aeronáutica, só nos últimos três a quatro anos é que a Almadesign teve projetos no setor do mar, referiu Rui Marcelino, para mostrar como este recurso natural tem estado esquecido nas parcerias. "Desde o início da empresa sempre tentámos trabalhar na área do mar e foi onde encontrámos mais resistência em termos de entrada da inovação, da colaboração e no próprio virar-se para os outros setores para perceber de onde a inovação pode vir."
Porque não tornar a energia eólica ou das ondas do mar mais próxima das rotas marítimas que temos da costa? Rui Marcelino
CEO da Almadesign
Uma dinâmica que, admite, tem vindo a mudar nos últimos anos. Rui Marcelino, que enquanto CEO da Almadesign integra a Fundação Oceano, defende que o "mar se desenvolve com o restante ecossistema" e a ligação entre os diferentes ‘clusters’ é fundamental: o do mar com o da aeronáutica, o do espaço e o da defesa, o ferroviário. "Trabalhando na área de design funcionamos como o ovo para a omeleta, fazemos a cola. O design cria uma visão que permite saber para onde estamos a ir."CEO da Almadesign
Sobre as formas de armazenamento de energia e propulsão, o CEO da Almadesign entende que não se pode pensar numa única fonte energética de futuro porque há várias soluções e as escolhidas dependem das embarcações e do tipo de viagens, de curto, médio ou longo curso. "Vamos ter uma proliferação de soluções alternativas. Por exemplo, o hidrogénio pode ser usado como combustível e como gerador de energia elétrica."
"Gostava que Portugal olhasse para isto não numa perspetiva pura energética ou logística, mas a englobar tudo o que a economia do mar pode trazer. Porque não tornar a energia eólica ou das ondas do mar mais próxima das rotas marítimas que temos da costa e porque não associar a presença das plataformas offshore aos recursos de aquacultura, à investigação do mar, à preservação dos recursos marítimos em vez de mudarmos as coisas avulso? Porque não se aborda tudo de forma integrada?", questionou. No fundo, trata-se de "olhar para a energia numa perspetiva de banda muito mais larga".
O primeiro ferry elétrico da Península Ibérica O grupo ETE e a Almadesign estão a trabalhar em conjunto num projeto para o qual a empresa liderada por Andreia Ventura ganhou um concurso internacional lançado pela Câmara de Aveiro: a construção de um ferry elétrico, movido a bateria, para uma travessia em São Jacinto, em Aveiro, o primeiro do género na Península Ibérica. "Resolvemos juntar mais um conjunto de empresas portuguesas porque o ferry tinha de ser bom, bonito e funcional", afirmou Andreia Ventura. A Vera Navis, gabinete de arquitetura náutica, fez o projeto do ferry, e duas outras empresas ficaram com o design e a arquitetura, a Almadesign e a Costa Lima, respetivamente, adiantou a administradora. "Já está no final da construção, começa a navegar no primeiro trimestre do próximo ano." A capacidade é para mais de 200 passageiros, faz uma ligação curta que evita a distância maior desse percurso na via terrestre e no verão também é esperada adesão por causa do turismo.