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PME Líder são o motor da economia

A primeira edição das PME Líder Talks, promovida pelo Novo Banco, abriu com a intervenção de Paulo Portas. Portugal recuperou “para níveis de 2019 ainda em 2022” por força do setor empresarial privado, lembrou o vice-presidente da CCIP.

14 de Abril de 2023 às 14:30
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As Pequenas e Médias Empresas (PME) Líder faturam mais de 46 mil milhões de euros, empregam 326 mil pessoas, exportam cerca de oito mil milhões de euros (20% no total das exportadoras) e têm uma autonomia financeira média de 57%.

O retrato das PME Líder em Portugal mostra-as como o motor da economia nacional. Um estatuto que lhes confere um ‘selo de garantia’ pela sua capacidade de gestão e de inovação, criado há 15 anos pelo IAPMEI - Agência para a Competitividade e Inovação -, e que tem vindo a atrair cada vez mais empresas nacionais.

Em 2021 foram distinguidas 10255 empresas, um número que subiu para 12550 em 2022, e que se estima seja semelhante este ano.

A expectativa foi avançada por Luís Guerreiro, presidente do IAPMEI, que marcou presença na primeira edição das PME Líder Talks, promovida pelo Novo Banco, que decorreu esta terça-feira no Convento de S. Francisco em Coimbra.

Sob o mote ‘PME Líder como motor da economia’, a iniciativa abriu com a intervenção do vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), Paulo Portas, que destacou os atuais contextos geopolítico e geoeconómico como fonte de riscos, mas também de oportunidades, para as empresas nacionais. O ex-governante reconhece a imprevisibilidade e volatilidade dos mercados, bem como a assimetria das crises globais, como fatores de incerteza para quem gere negócios, mas acredita que o país tem condições de evitar o cenário de recessão que pode ocorrer na Europa. "Portugal recuperou para níveis de 2019 ainda em 2022, muito por força do setor privado, e mais rápido do que se antecipava e do que as cinco maiores economias da Europa que só agora estão a recuperar", recorda.

Os quatro fatores

Nesta perspetiva de recuperação e de dinamização do crescimento económico, Paulo Portas salienta quatro fatores essenciais para afastar o fantasma da recessão em Portugal, dois dos quais "frequentemente contestados e comentados em conversas de café", ironiza. Em primeiro lugar, o turismo, que em 2022 atingiu os valores mais altos de sempre, batendo os números de 2019 que foi considerado um ano excecional. O setor tem atualmente um peso de cerca de 18% no Produto Interno Bruto (PIB) nacional e, de acordo com o desempenho nos primeiros meses deste ano, tudo indica que o ritmo de crescimento se manterá.

A compra de ativos por estrangeiros - outra questão que nem sempre é consensual - é, na opinião do vice-presidente da CCIP, fundamental para ajudar a economia a crescer. Portugal continua a ser atrativo pela sua estabilidade política e segurança. E, como considera Paulo Portas, o investimento estrangeiro contribui para olear a máquina económica e para dinamizar os negócios de forma transversal a todos os setores, para arrecadar impostos e para fomentar o emprego qualificado.

O mix energético nacional, sem dependência da Rússia, é outro fator que considera muito positivo e que ajuda a evitar desequilíbrios económicos e um agravamento excessivo dos preços da energia. "Apesar dos preços altos, motivados pelo contexto de guerra, Portugal tem como principais fornecedores os Estados Unidos e a Nigéria, o que lhe confere maior margem de manobra na gestão desta questão", diz.

Os fundos do PRR não se repetem, são extraordinários,e exigem, por isso, que a sua aplicação seja competente e eficiente. Paulo Portas
Vice-presidente da CCIP
Por último, a aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é um elemento essencial para que o seu impacto seja real e útil para a economia e o setor empresarial nacional. "São fundos que não se repetem, são extraordinários, e exigem, por isso, que a sua aplicação seja competente e eficiente", defende. Um papel que cabe ao Estado monitorizar e acompanhar para que nada tenha de ser devolvido. Paulo Portas recorda que o impacto de uma correta aplicação do PRR poderá chegar aos 0,7% do PIB, uma percentagem que pode parecer reduzida, mas que "é muito relevante".

Em jeito de conclusão, o vice-presidente da CCIP deixou ainda algumas mensagens para as PME nacionais que acredita serem o real motor da economia. Paulo Portas recomenda que insistam na internacionalização e tenham atenção aos benefícios que se podem retirar da recentralização de muitas das cadeias de produção em mercados ocidentais sem, contudo, criarem dependência de um só mercado.

O vice-presidente da CCIP deixou ainda o alerta para que as empresas estejam cientes de que o triângulo de conforto proporcionado por um cenário sem inflação, juros baixos e dívida controlada já não existe, nem se perspetiva a curto prazo, o que traz desafios de tesouraria adicionais.

Inovação e criatividade

Num país cujo setor empresarial é maioritariamente composto por pequenas e médias empresas, as PME Líder assumem uma particular relevância pela sua dinâmica, mas também pelo exemplo que transmitem. "O impacto e a forma como se distinguem assenta no crescimento e na maturidade que atingem através da sua capacidade de inovação e de criatividade, o que as torna mais competitivas", acredita o presidente do IAPMEI, Luís Guerreiro, que falou no debate que se seguiu à intervenção de Paulo Portas. O debate foi moderado pela diretora do Jornal de Negócios, Diana Ramos, e contou ainda com as participações de Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, e João Duque, economista e professor no ISEG.

Na perspetiva do responsável do IAPMEI, o facto de o tecido empresarial nacional ser muito diverso confere-lhe caraterísticas que o tornam igualmente mais ágil e resiliente. "Apesar de as empresas mais inovadoras estarem concentradas nas zonas litorais, assistimos atualmente a um movimento de proximidade entre o setor empresarial e as universidades que contribui para uma maior e mais transversal dinâmica", acredita Luís Guerreiro, acrescentando que a digitalização é outro elemento fundamental para que as empresas caminhem em direção à inovação.

Há setores muito vigorosos que servem de exemplo a outros, nomeadamente, o turismo, a agricultura ou as empresas. Luís Ribeiro
Administrador do Novo Banco
Luís Ribeiro reforçou esta ideia recordando que as empresas precisam de capitalização para investir e inovar, especialmente num contexto de incerteza como o atual. Ainda assim, o administrador do Novo Banco destacou setores "muito vigorosos que servem de exemplo a outros, nomeadamente o turismo, a agricultura ou as empresas exportadoras em geral".

Na perspetiva do turismo, Luís Araújo recordou que, apesar de este ter sido um dos setores mais afetados pela pandemia, as receitas cresceram 15,4% em 2022, por comparação a a 2019. Para que se mantenham estes ritmos de crescimento, a oferta tem que ser sustentável na vertente económica, social e ambiental, alertou o presidente do Turismo de Portugal. Esta preocupação permitirá reposicionar o país como um destino de qualidade e em linha com as exigências ESG.

Já de forma transversal, João Duque acredita que a estimativa de crescimento na ordem de 1,5%, apresentada pelo ISEG, é realista, mas defende que é preciso que as empresas e as marcas nacionais ganhem dimensão internacional. "As 500 maiores empresas em Portugal são pequenas quando comparadas com as 500 maiores marcas mundiais", apontou. O economista defendeu que é possível transformar esta questão cultural com incentivos "mas não pode haver disfunção entre o organismo que apoia as empresas e um governo que não apoia, a não ser no discurso".

Para finalizar uma tarde de debate, a palavra foi dada aos empresários no painel ‘Caminhos para o crescimento’, que serviu para partilha de experiências. Fernando Daniel Nunes, Administrador do Grupo Visabeira, Daniel Redondo, CEO da Licor Beirão, Célia Carmo, CFO da Grupel, e Rosinda Castanhas, CEO da Vhumana, partilharam a sua visão em temas como a inovação, a internacionalização, a captação de talentos e outras oportunidades e desafios com que se deparam no dia-a-dia. Em comum, a perspetiva já avançada por Paulo Portas, de que para internacionalizar é preciso planeamento e cautela, conhecimento da realidade externa e diversificação de mercados, áreas de negócio ou de produtos.

A capitalização, tema debatido no painel anterior, é outro dos pontos em que estes quatro empresários concordaram. "A tesouraria é o ponto fraco nas PME", sublinhou Célia Carmo, alertando para a necessidade de as empresas evitarem dar passos em falso. Ficam as dicas para outros empresários. Agilidade, foco, colaboração e capacidade para atrair e reter os melhores talentos, um dos desafios atualmente mais complicados.

A primeira PME Líder Talk contou ainda com a presença do Secretário de Estado da Economia, Pedro Cilínio, que quis deixar uma mensagem positiva aos empresários, destacando o desempenho da economia nacional e o crescimento das exportações, e apontando algumas oportunidades que o país deve aproveitar. "É preciso manter apostas claras e renovar outras", disse. O governante destacou a importância da criação de novas cadeias de valor, nomeadamente, do hidrogénio, do lítio ou da mobilidade elétrica, e da colaboração entre empresas - à semelhança do que está a acontecer nas Agendas Mobilizadoras no PRR - para ganhar escala e acesso a novos mercados. "Temos pela frente uma corrida de fundo, e as PME Líder estão em excelente posição de aproveitar o contexto", concluiu.