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Não é possível falar do potencial das empresas portuguesas sem falar da eficiência do Estado português, diz Pedro Reis, ex-presidente da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), no Encontro Fora da Caixa que decorreu no TECMAIA, na Maia, um evento organizado pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) com o Jornal de Negócios.
Na intervenção de Pedro Reis, que focou o investimento, a inovação e a qualificação, o economista abordou os desafios à internacionalização, num momento em que pairam no ar questões como crise, inflação ou abrandamento económico. Para os próximos meses, e como catalisador para libertar crescimento económico, “ou pelo menos melhorar as expectativas”, o especialista apontou a necessidade de um abrandamento da intensidade do conflito na Ucrânia. “Como investidores, obviamente as pessoas colocam a questão se estamos perante o prolongamento do conflito ou de envolvimento de novos protagonistas, mesmo que não seja de grandes potências, mas dos denominados conflitos regionais oportunistas”, que de alguma forma aproveitam a distração do mundo para cavalgar e resolver agendas locais.
Pedro Reis destacou o facto de o mundo ter mudado no sentido de passar agora a valorizar não só a eficiência, mas também a segurança. “Não nos concentramos apenas na especialização, na eficácia máxima das cadeias de valor e da distribuição, da sua engenharia de processos e produção pelo mundo fora. Agora, concentramo-nos num conceito que vai ganhar tração, que é o de autonomia estratégica, de competências, recursos e centros de competência e desenvolvimento de setores críticos. O que pode ser bom para Portugal.” Bom no sentido de que, de outra forma, o país teria de “cavalgar” um crescimento muito fulgurante para ter oportunidades. “O facto de o mundo não estar apenas horizontalizado, mas mais verticalizado em termos globais pode acelerar e trazer para Portugal centros de desenvolvimento já que as grandes empresas não vão querer estar apenas focados e a investir em determinadas zonas de influência.”
A força dos recursos humanos
“Portugal pode, e deve, ser uma potência exportadora”, disse na sua intervenção Pedro Reis. Para este economista, devemos por isso olhar a maior parte das políticas e decisões públicas pelo impacto que têm na competitividade e produtividade das empresas exportadoras nacionais. “Se fizermos esse exercício, muita da discussão desaparece e muitas das bifurcações ficam claras”, esclareceu. Mais: mesmo do ponto de vista do desiderato de um país, que é criar uma sociedade mais humanista, equilibrada e com mobilidade social, saudável e sustentável, “não há modelo possível que não passe pelo crescimento económico”. E, no seu entender, não há crescimento económico que não seja assente no setor privado.
O ex-presidente da AICEP diz que, no fundo, nomeadamente no capítulo da internacionalização, tudo se resume ao talento e qualidade dos recursos humanos. “A força de um país está na força da sua classe média. A força das empresas está na qualidade dos seus recursos humanos.”