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Paulo Simões: “A resiliência das redes elétricas é uma questão multifacetada”

A resiliência de uma rede de distribuição está na solução pensada, planeada e preparada para responder a eventos que ponham em causa o seu equilíbrio.

02 de Novembro de 2022 às 15:00
Ricardo Almeida
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"A resiliência numa rede de energia elétrica é, por natureza, um problema multidisciplinar, envolve aspetos técnicos e organizacionais", afirmou Paulo Simões, professor associado do departamento da engenharia informática da Universidade de Coimbra. Na perspetiva da engenharia informática, o que se pode oferecer a um operador de energia é a resiliência da rede de telecomunicações de suporte às operações e de monitorização da rede. Por outro lado, montar uma plataforma de computação que permita fazer a recolha e o tratamento dos dados nos vários pontos da rede para detetar tanto em indícios de avaria, numa lógica de "big data", como situações de intrusão intencional na rede.

Deu como exemplo um evento no início de 2013 em que uma tempestade provocou a queda de árvores, postos e linhas de energia entre outras destruições. "O principal problema que ficou por resolver não foi a reconstituição de rede de distribuição de energia elétrica, mas o que dependia de outros parceiros na resiliência da rede", observou Paulo Simões. Por exemplo, as operadoras de telecomunicações ficaram sem backups e a EDP Distribuição, antecessora da E-REDES, deixou de poder monitorizar a sua rede, acionar remotamente linhas, circuitos de backup e soluções alternativas, apoiar e coordenar as equipas no terreno. "Uma operação que podia ter sido recuperada em poucas horas ou em poucos dias, acabou, em alguns casos, por levar semanas por causa dos problemas de interdependência", concluiu Paulo Simões.

O limite é o "blackout"

"Em termos físicos, a resiliência é a propriedade que alguns materiais têm de poder voltar às suas condições iniciais depois de submetidos a determinadas alterações. A rede elétrica está sujeita a variações, as tensões estão em todos os pontos da rede com determinadas variações, mas aceitáveis", referiu José Ferreira Pinto, diretor da direção de gestão e operação do sistema da E-REDES e que opera 240 mil quilómetros de infraestrutura elétrica. Focou o fenómeno da resiliência elétrica, que é interior à rede elétrica, e em que pode haver um problema que faça perder o controlo e se tenha "o famigerado e conhecido ‘blackout’, que é toda a rede ficar desenergizada", disse José Ferreira Pinto. A resiliência de uma rede de distribuição está na resposta pensada, planeada e preparada para um evento desta magnitude, e, depois "na atuação ibérica, muito concertada entre nós, a rede de transporte e a rede espanhola, que respondeu como estava pensado, e, em três ou quatro segundos. Cerca de uma hora estava reposta a rede em Portugal e Espanha", disse José Ferreira Pinto.

A resiliência, nomeadamente ao nível das redes elétricas, é uma questão multifacetada. "Temos redes mais automatizadas, redes mais inteligentes, mas para isso precisamos de cada vez mais dados. Uma rede de energia já não é apenas os fios que levam os eletrõezinhos para alimentar as cargas utilizadas no final pelas pessoas", disse Álvaro Gomes, professor assistente do departamento de engenharia eletrotécnica e Informática da Universidade de Coimbra.

Medidas e estratégias

Para aumentar a resiliência da rede trata-se de implementar medidas ou estratégias que podem ser preventivas, de contenção, corretivas ou de restauração. As estratégias preventivas têm que ver com a robustez da rede, com as redundâncias, a flexibilidade de exploração, o planeamento, a antecipação dos eventos. "Quando falamos na questão das medidas de contenção ou de correção referimo-nos à gestão dos recursos que estão disponíveis na rede para reagir a um evento e à necessidade de reagir", salientou Álvaro Gomes.

José Oliveira, vice-presidente produto da Eneida.io, referiu-se sobretudo a rede elétrica, em particular de baixa tensão, na qual desenvolveram uma solução de monitorização e otimização da rede elétrica, e onde se têm ligado à rede novos ativos de distribuição, e de elevado consumo, como a mobilidade elétrica.

"Trabalhamos numa área de falhas em que a partir dessa análise de meio ciclo vamos detetando eventos que podem levar a futuros constrangimentos e até a potência e as quebras de serviço. O nosso trabalho é evitar quebras de serviço, ou participar na mais rápida reposição do serviço, portanto, completamos as formas de onda imediatamente antes e depois da falha, classificamos a falha e estimamos a localização e a distância à falha", explicou José Oliveira.