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"Se analisarmos as economias do ponto de vista do crescimento do PIB nas maiores economias mundiais EUA, Reino Unido, China, Zona Euro e Japão em 2020, verificamos que a covid-19 fez com que o PIB caísse brutalmente, depois houve uma recuperação bastante forte mas estamos a assistir atualmente a um ligeiro abrandamento. Tanto nos EUA como na China estamos com algum crescimento mas com sinais de abrandamento e com uma ligeira retração na China foi afetada por alguns confinamentos, a disrupção na cadeia logística e os problemas no imobiliário como a Evergrande entre outras do imobiliário residencial", analisou Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa.
Filipe Silva considerou que a inflação "está a ser mais persistente do que inicialmente se pensava. Tivemos dois picos na Zona Euro e nos Estados Unidos bastante fortes e para já não estamos a ver uma inversão dessa tendência. Na sua opinião os fatores foram a disrupção entre a oferta e a procura porque tem existido grande procura mas as empresas não têm tido ao nível de stocks capacidade de abastecer toda a procura".
"Partia-se de uma baixa acentuada provocada pela paragem na economia mundial no ano anterior, e temos tido uma evolução drástica dos preços quer na energia tanto no gás natural como no petróleo, quer nos transportes com o custo do contentor de Xangai para Roterdão e de Xangai para Nova Iorque os valores que andavam nos 3 mil a 4 mil dólares dispararam para os 16 mil dólares, o preço do transporte de mercadorias disparou e é um fator que tem um peso muito grande. A disrupção na cadeia de distribuição é revelada pelo prazo para entrega de produção de chips andava pelas 12 semanas e está neste momento nas 25 semanas", assinalou Filipe Silva. Sublinha que "todos estes fatores acabam por ser negativos no curto prazo, mas a médio prazo vão tender para a média mas poderemos não chegar aos preços anteriores".
Retirada de estímulos
As expectativas de inflação medidas continuamente durante cinco anos na Zona Euro e nos Estados Unidos mostram que estamos mais ou menos ao nível que os bancos centrais querem. Se olharmos para a Zona Euro estamos nos 2%, o objetivo do banco central, e nos Estados Unidos nos 2,5%. Tudo isto nos faz crer que apesar de estarmos a ter estes picos de inflação a prazo vamos voltar para esta tendência e por ter a inflação a descer e estabilizar.
"Mas tudo aponta para uma normalização da inflação no próximo ano e esta será transitória, mas a inflação pode pressionar os bancos centrais e provocar alterações nas taxas de juro", advertiu Filipe Silva.
A FED já iniciou a sua retirada de estímulos mas dissociada de uma mexida nas taxas de juro, para evitar o que aconteceu na crise financeira de 2008-2011. Por sua vez o BCE abrandou o programa de compras de emergência pandémico e ficou claro que o programa finda em 2022, sendo que continua com outros programas de estímulos como o programa de compra de ativos com cerca de 20 biliões mensais e este programa vai continuar enquanto for necessário, porque a Europa continua muito endividada e é importante que o BCE continue a dar suporte.
As dívidas das empresas estão no pico mais alto de sempre mas como as empresas têm conseguido fazer o rollover da dívida para prazos mais longo e com taxas mais baixas têm capacidade para pagar os custos da sua dívida, e a liquidez que as empresas têm também está nos valores mais altos de sempre.
As empresas S&P500 pagavam pela sua dívida uma taxa de juro de 3,6%. "Estamos no período da história com maior montante de dívida e com os maiores custos, apesar de os custos serem baixos. As subidas das taxas de juro não podem ser muito abruptas porque ser uma bola de neve e criar um problema no setor financeiro. As subidas das taxas de juro têm de ser sempre controladas pelo impacto que poderão ter no mercado tanto nos mercados de renda fixa como as obrigações como no crescimento das empresas e nas suas ações", referiu Filipe Silva.