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Os oligopólios digitais da distribuição

"Num momento em que a indústria do turismo corre bem, quem tem ganho mais é a Google, a segunda é a Booking ou a Priceline, a terceira é Expedia. Não são os hoteleiros são os intermediários" afirma José Theotónio.

02 de Maio de 2017 às 11:49
Rodrigo Machaz, director-geral do Memmo Hotels, alerta para o risco de ser "Booking-dependente". Inês Lourenço
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"Nos anos 80 a distribuição no Algarve era feita pelas 'tour operators', que ficavam com 40% das receitas e os hoteleiros eram seus reféns. Felizmente que a 'tour operation' daquela época morreu" recorda Rodrigo Machaz, director-geral do Memmo Hotéis. A internet mudou o panorama, o consumidor ganhou mais poder e proximidade, apareceram novos operadores. Mas o oligopólio que os operadores tradicionais, como a Tui e Thomas Cook, demoraram 50 anos a fazer, controlando 2/3 dos 'packages' turísticos que se vendiam na Europa em 2000, foi conseguido em menos tempo pelos operadores online como a Booking e as suas várias marcas, e a Expedia com as suas próprias plataformas, que têm 2/3 das transacções nas reservas que se fazem em hotéis e cruzeiros, refere José Theotónio, CEO do Grupo Pestana.

"Gosto da Booking embora perceba a ameaça que representa sobretudo para os 'Booking-dependentes' que abrem hotéis, colocam-nos na Booking e não se preocupam com a distribuição: dura enquanto a maré estiver cheia" admite Rodrigo Machaz. Adianta que no Memmo 38% das reservas são directas através dos canais próprios. "A Booking é boa para captar o cliente pela primeira vez e permite chegar a gente a que nunca se chegaria, mas temos uma vantagem que a Booking não tem, é que por enquanto o cliente dorme no nosso hotel" diz.

A Booking é o melhor amigo

"Não tenho nada contra a Booking, é o meu melhor cliente tendo passado a Tui o ano passado" diz José Theotónio. Mas está ciente dessa dependência e da necessidade de atrair os clientes para as plataformas do Pestana. "Num momento em que a indústria do turismo corre bem, quem tem ganho mais é a Google, a segunda é a Booking ou a Priceline, a terceira é Expedia. Não são os hoteleiros são os intermediários" analisa José Theotónio.


14%
Cerca de 14% dos estrangeiros que vieram a Lisboa reservaram pela Airbnb.


"A hotelaria sempre teve uma guerra com a Booking, que na Europa atingiu um peso dominante", diz Eduardo Miranda. "No alojamento local ninguém sabe o que é receber uma reserva directa. Vemos as plataformas como parceiros naturais porque é um mercado fragmentado, não tem a necessidade de construir uma imagem de marca tão forte com a angariação directa de clientes". Na área do alojamento local dos centros urbanos a Airbnb representa cerca de 70% do mercado em Lisboa, basta ver a taxa turística. Cerca de 14% dos estrangeiros que vieram a Lisboa reservaram pela Airbnb tendo esta recolhido 1,74 milhões de euros desde Maio a dezembro de 2016 de taxa turística da Câmara Municipal de Lisboa.

Estas plataformas digitais "têm um modelo de negócio muito bom, são nativos digitais e respondem ao modo como o cliente hoje se comporta na marcação e para ter esta supremacia em relação aos concorrentes é porque são melhores, muito fortes em agregação, investem muito em melhorias e todos os dias a plataforma de marcação é melhor".

Preço mais transparente

"A internet trouxe uma transparência no preço, que passou a ser semelhante em todos os canais e em todos os mercados" refere José Theotónio. "Recordo-me há muitos anos na Madeira quando só trabalhávamos o mercado de lazer havia preços diferentes para o mercado inglês, escandinavo, alemão para o mesmo quarto e o mesmo serviço e a justificação que os comerciais davam é que uns podiam pagar mais que outros e pagavam".  Hoje as unidades hoteleiras têm os preços online os "meta-searchers" reúnem os preços dessas unidades nos vários canais de distribuição "por isso temos de ter uma uniformidade de preços porque é a forma de não perder a face perante o cliente" acrescenta José Theotónio. Aliás é uma das dificuldades das empresas hoteleiras é gerir a complexidade de canais.