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Notícia

Os mercados financeiros segundo o Banco de Portugal

Sobre a evolução dos mercados financeiros, Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal, deu a perspetiva dos bancos centrais, dizendo que, neste cenário de inflação, de perspetivas de crescimento económico mais reduzidas, e dos efeitos da resposta da política monetária, os mercados financeiros sofreram algum impacto.

19 de Dezembro de 2022 às 17:00
O debate Tendências de Investimento contou com a participação de Pedro Santos, João Queiroz e Rui Alpalhão. Pedro Ferreira
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Neste mercado, assistiu-se "a uma subida acentuada das taxas de rentabilidade, em particular, nos prazos mais curtos, acompanhando o aumento das expectativas e posterior concretização das subidas de taxas de referência, o que aconteceu", disse Hélder Rosalino. Mas alertou que há alguma redução e alteração da inclinação das curvas de rendimentos no final de 2022, que tem presente estas expectativas de recessão ou de abrandamento da economia em 2023.

Hélder Rosalino salientou que as taxas de juro reais ainda estão muito negativas no curto prazo, porque as taxas de inflação são de quase 10% e as taxas diretoras estão, no caso do Banco Central Europeu, em 1,5% e a do Fed em 4%. "As taxas de juro reais de curto prazo estão negativas, mas as taxas de juro reais a médio e a longo prazo subiram significativamente e elas são dadas pelas taxas de inflação implícitas nos swaps de inflação a cinco anos. Neste caso, antecipa-se a inflação a cinco anos e espera-se que a taxa de juro real esteja positiva na área do euro e nos Estados Unidos", afirmou Hélder Rosalino.

Referiu ainda que "as taxas de juro da dívida portuguesa têm-se mantido a níveis inferiores às das dívidas públicas italiana e espanhola, desde 2020, e isso tem sido positivo, o que demonstra confiança na economia portuguesa e nas finanças públicas portuguesas".

Mercado das ações

"Perdas, clima de aversão a risco, elevada volatilidade, é isto que caracteriza o mercado de ações num contexto de perspetivas menos favoráveis para o crescimento económico de acentuadas subidas das taxas de juro", considerou Hélder Rosalino.

A volatilidade dos mercados acionistas é mais elevada do que no período pré-pandemia. Hélder Rosalino destacou "a volatilidade implícita nas obrigações, e nas opções sobre obrigações, do Tesouro dos Estados Unidos" e que é superior nas obrigações do que nas ações. "Isto não era de todo normal porque o mercado das obrigações, em princípio, é um mercado mais estável que o mercado acionista, mas a aversão ao risco, as taxas de juros e a inflação levam a esta volatilidade".

As obrigações do Tesouro e as de dívida privada estão a registar em 2022 os piores retornos, desde pelo menos 2000. As ações estão a registar desvalorizações, que, numa perspetiva histórica, não são particularmente expressivas. O abrandamento da atividade económica e a subida das taxas de juro poderão contribuir para o aumento da incerteza e conduzir à reavaliação dos preços dos ativos.

Mercado cambial

Há de facto uma queda do euro desde meados de 2021, um fortalecimento do dólar associado ao ciclo agressivo de subida da taxa de juro do Fed e a fluxos de safe haven. "Há um papel que o dólar continua a desempenhar em períodos de incerteza e naturalmente isso leva à valorização do dólar e, em particular, ocorreu com o início da guerra na Ucrânia", explicou Hélder Rosalino.

Após uma subida pronunciada, o indicador de stress sistémico do sistema financeiro tem vindo a descer nas últimas semanas, refletindo uma melhoria das condições nos mercados monetário e de capitais.