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Os bancos centrais criaram inflação do preço dos ativos

“Uma combinação de inflação alta nos preços dos ativos e a subida das taxas de juro, num mercado com taxas de juro baixas, pode provocar uma queda significativa dos preços dos ativos globalmente”, afirmou Rui Alpalhão.

22 de Novembro de 2021 às 17:30
Sérgio Monteiro, partner do fundo Horizon. Duarte Roriz
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"Esta crise é atípica, o que levou a uma queda e a uma recuperação sem precedentes. Este processo de inflação tem um pico e depois há efeito de alisamento no futuro", afirmou Rui Alpalhão, professor associado convidado do Departamento de Finanças do ISCTE Business School. "Os preços vão subir e devem ter um impulso significativo que irá gradualmente transformar-se numa situação de inflação mais tradicional da mesma forma que a evolução do PIB evoluirá. Não se vê como não possa subir a inflação."

"Considero que a inflação parece mais permanente do que transitória", concordou Sérgio Monteiro, ex-consultor do Banco de Portugal e partner do fundo Horizon. "Em Portugal, em muitos setores ainda não chegou aos salários, mas em muitos países e em muitas áreas já chegou e nestes casos é impossível deter a inflação porque o custo de produção aumenta e há outros fatores. Há países que o consumo é muito mais no PIB como é o caso de Portugal que ainda tem um hedge entre o PIB e a inflação por via do consumo. Mas em Portugal existe esta dependência do Estado, o que faz com que o consumo seja menos uma almofada para a inflação".

Rui Alpalhão sublinhou o asset price inflation e "que não tem a ver com a pandemia mas com o inchaço dos bancos centrais que tem provocado um asset-price significativo price to earnings de 100. Os balanços dobraram e agora triplicam".

Preços dos ativos

Na sua opinião, os preços dos ativos estão afastados dos valores fundamentais, questão para a qual a comunidade académica e investidora está mal preparada. Estes preços devem-se, segundo Rui Alpalhão, a uma acumulação de liquidez muito significativa. "Havia limitações como o padrão-ouro que levavam a pressões da liquidez, mas que não havia assim muito. Agora é a liquidez que se quiser, o que permitiu a que Mario Draghi tenha dito, quando era presidente do BCE, que faria o que fosse preciso até pôr a rotativa a funcionar".

A economia tem sido afetada por muitas disrupções não tem criado o efeito tradicional que resulta da teoria monetária que é a inflação, porque o crescimento económico não o tem permitido. "Mas tem criado o asset-price inflation com abundância até porque as taxas de juro têm estado historicamente baixas e portanto as variações do nível de inflação tem um impacto no pricing dos ativos que não teriam se as taxas de juro estivessem mais altas, uma variação de alguma expressão nos níveis de inflação tem um impacto superior nos preços dos ativos", disse Rui Alpalhão.

"As taxas de juro negativas que já vêm de algum tempo fizeram com que a liquidez se tornasse abundante. A questão do aumento dos preços dos ativos do risk-adjusted return está inadequado e só as high yield bonds é que não são compradas pelos banco centrais", afirmou Sérgio Monteiro.

É um fenómeno que já existe há algum tempo e está todos os dias no racional da decisão de investimentos como o fundo Horizon, que investe em infraestruturas, ativos regulados, setores de atividade mais protegidos de ciclos económicos. "Não é possível ter certos riscos de natureza fiscal, regulatórios e outros e ter taxas de rentabilidade de 3%, isto não é adequado nem ajustado. Existem muito ativos que estão assim pelo duplo efeito de excesso de liquidez no mercado e excesso de liquidez nos fundos de investimento", concluiu Sérgio Monteiro.