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O turismo tem de ser pensado a longo prazo

“Temos de ter um olhar estrutural, porque há fenómenos conjunturais que não podemos alterar”, diz Afonso Tavares da Silva. Para Roland Bachmeier, a hotelaria e o turismo têm de ter uma visão a cinco, dez anos, “do que queremos fazer”.

16 de Julho de 2019 às 12:00
O debate sobre o turismo da Madeira contou a participação e as perspectivas de vários empresários do sector. Hélder Santos
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"O turismo da Madeira teve nos últimos três anos uma performance muito positiva. Entre 2015 e 2018 cresceu 15% em hóspedes, 8,7% em dormidas e 26,7% em proveitos e e o Rev/Par cresceu 23,5%", mostrou Roberto Santa Clara, presidente da Associação de Promoção da Madeira, criada em 2004.

Há vários fatores estão a condicionar o turismo madeirense. Na mobilidade área, faliram sete companhias aéreas em dois anos, e há dificuldade em substituir as companhias desaparecidas. O ressurgimento de outros destinos como a Grécia, a Turquia e o Egipto, por exemplo, a que se junta o Brexit, embora já se tenha sentido o impacto direto da desvalorização da libra.

"A estratégia de valor que resultou nos últimos anos tem de ser prosseguida", defende Roberto Santa Clara, que considera que se tem de discutir um novo plano estratégico para o turismo madeirense pois não se podem funcionar com o "achómetro", é necessário conhecimento".

"O Santander selecionou dois clusters para estudar e conceber ofertas específicas e, no caso do turismo, a Madeira foi escolhida para criar esse produto", revelou Vítor Calado, que sublinhou que não só financiam como acompanham os clientes, mesmo em feiras de turismo. E o banco foi um dos catalisadores da licenciatura de turismo na Universidade da Madeira, sublinhou Vítor Calado.

Preço dos voos aumenta

"A quebra no turismo é inevitável, por isso é mais importante fidelizar e apostar nos mercados tradicionais, do que procurar novos mercados, como o brasileiro ou norte-americano, pois não é fácil criar novas rotas", advertiu Afonso Tavares da Silva, CEO da Leacock Investimentos.

Roland Bachmeier, administrador do Grupo Galo Resort Hotels, alertou para o facto de que com a falência de cerca de 21 companhias aéreas, os constrangimentos ambientais e climáticos, a "Madeira se tem de preparar para o aumento dos preços do transporte aéreo para o dobro nos próximos cinco anos". Na sua opinião, a hotelaria e o turismo têm de ter uma visão a cinco, dez anos, "do que queremos fazer".

Por causa dos voos, importa mais fidelizar e apostar nos mercados tradicionais do que procurar novos  afonso tavares da silva
CEO Leacock Investimentos


Na sua opinião, "o turismo madeirense tem de ter mais força e ser mais flexível, pois há cada vez mais propostas alternativas com um valor excecional", e a resposta está nas propostas diferenciadoras em relação ao que existe.

Afonso Tavares da Silva diz que a Madeira está a três horas de voo do centro da Europa e que o tipo de turismo encaixa nas preferências da geração dos baby-boomers, que além tem disso têm mais dinheiro. "Temos de ter um olhar estrutural, porque há fenómenos conjunturais que não podemos alterar". Recorda que o facto de o Boeing 373 Max ter sido proibido de voar afetou 10% do transporte aéreo da Madeira.

"Em termos de animação turística, a Madeira tem 90% do que existe no mundo e temos a vantagem de que todas as empresas sabem receber bem o turismo", referiu Pedro Mendes Gomes, sócio gerente da Rota dos Cetáceos, uma empresa pioneira na Madeira no turismo natureza e sustentável.

"Todos estamos na economia digital. A Madeira não pode ficar por uns sites e umas apps, tem de criar uma infraestrutura tecnológica, para, através do Big data, analytics, realidade virtual, inteligência artificial, de recolha de informação que permita tomar decisões e proporcionar uma melhor experiência ao turista", referiu José Luís Freitas, consultor do Projeto Smartdest.


Madeira, uma incubadora natural de negócios

"Uma região ultraperiférica, pequena, com poucas economias de escala, não tem recursos naturais que lhe permitam produtos de exportação. O facto de ser uma ilha tem sido uma barreira ao crescimento. Mas há áreas em que as situações negativas são menos evidentes, como nas áreas das tecnologias, ou no turismo", disse Duarte Rodrigues, administrador do Grupo Sousa.

"Na Madeira, o turismo é como o futebol, tem imensos treinadores de bancada…", afirmou com ironia Bruno Freitas, CEO, Savoy Hotels & Resorts. Na sua opinião, "o turismo é um fator dinamizador e pode ser uma mola e um impulsionador de diversificação da economia regional, e um motor de desenvolvimento de outros setores como os serviços mas também a agricultura que existe produz sobretudo para a restauração e hotelaria".

Bruno Fernandes, economista do Santander sublinhou que "o turismo é uma das alavancas da economia madeirense, representa cerca de quarto do PIB. Cerca de 50% do emprego da região depende dos sectores do turismo, comércio e transportes".

Este peso faz com que Duarte Rodrigues defenda que não se deve colocar os ovos todos no mesmo cesto, por isso é importante a diversificação da economia, e apontou o caso do CNIM, porque éum motor de desenvolvimento da economia madeirense que "foge ao tradicional turismo", concluiu o administrador do Grupo Sousa, está no transporte marítimo, operações portuárias, logística, energia e turismo.

Educação e qualificação

Uma das apostas na diversificação é nas novas tecnologias. Para Luís Sousa, CEO da ACIN I-cloud Solutions, "a Madeira pode ser uma grande incubadora, como aconteceu em tempos passados, pois foi na Madeira que surgiu a primeira televisão por cabo, foi pioneira no gás natural, e devíamos olhar para a região como incubadora natural".

Para que se atinja este objetivo há um problema, admite Luís Sousa, e que tem a ver com "a falta de interesse do nosso país no sector educativo, pelo menos na área tecnológica". Por exemplo, a empresa concorreu a uma ação de formação no valor de 100 mil euros, ganhou, mas os conteúdos obrigatórios a lecionar estavam desatualizados 15 anos, e desistiu de fazer a formação. Bruno Freitas também referiu a "de qualificação intermédia".

Uma lição de literacia financeira

Uma das sessões teve a ver com a literacia financeira, módulo que foi dirigido por Jorge Líbano Monteiro, da ACEGE, que se destina sobretudo a alunos do ensino secundário entre o 10º e o 12º ano. Pretende ser um espaço de reflexão para gerir as responsabilidades das finanças pessoais e que seja "inspiradora para vida de cada um".

Funciona em torno de várias questões como a utilidade do dinheiro, o que move e quais são os objetivos de quem usa o dinheiro, o que é sucesso e a importância do controlo financeiro e a importância da ética na gestão financeira. Termina com dois exercícios práticos sobre o controlo financeiro e a ética na gestão financeira.