Outros sites Medialivre
Notícia

O PRR não tem muitas verbas para a floresta

As políticas de combate aos incêndios rurais são focadas no fogo, políticas florestais na floresta. Têm zonas de interseção, mas um dos males atuais é confundir-se os incêndios rurais com a floresta, o que acontece no PRR.

09 de Julho de 2021 às 15:00
Francisco Gomes da Silva: indústria é a primeira interessada em que as florestas de produção sejam sustentáveis. David Santos
  • Partilhar artigo
  • ...

"São vários milhões de euros que anualmente a indústria de pasta de papel aplica nestes programas e fomento tecnológico, que nos últimos três anos abarcaram mais de 33 mil hectares de floresta de pequenos proprietários privados", refere Francisco Gomes da Silva, diretor-geral da CELPA. Esta inovação bebe no conhecimento florestal que germina nas universidades e nos centros de investigação e que se transforma em inovação e tecnologia. Neste processo contam com os investimentos relevantes em I&D da indústria da pasta e do papel.

O que é deveria mudar nas políticas florestais, desde os fogos às medidas regulatórias?
O maior problema da politica florestal em Portugal é não reconhecer que os maiores problemas da nossa floresta são de base económica: a falta de gestão, ou o abandono, como se queira dizer, resulta do facto de muitas das atividades de base florestal não gerarem valor suficiente para remunerar os recursos que nela são envolvidos.

Muitas vezes é porque uma parte significativa dos bens e serviços produzidos tem o caráter de bens públicos, tal como a fixação de CO2, a promoção de biodiversidade ou mesmo a proteção da paisagem, que o mercado, ou seja, a população portuguesa não está disponível para pagar. Se a isto juntarmos o facto de uma parte dos bens ou serviços produzidos pela floresta terem sido substituídos por outros, temos a maior parte da equação do abandono explicada.

Mudar a política, neste caso, seria remunerar estes bens/serviços através de políticas públicas - a chamada remuneração dos serviços de ecossistemas, em vez de se pôr toda a ênfase nos custos adicionais que o proprietário florestal tem de suportar para proteger a sociedade.

A segunda mudança seria admitir de forma clara que a floresta de produção é, desde que gerida de forma sustentável, geradora de diversos valores que a sociedade hoje considera. A floresta de conservação, que maximiza estes valores (serviços de ecossistemas) existe sempre em áreas bem mais reduzidas e insuficientes para providenciar todos estes serviços. A floresta de produção tem, pois, de ser considerada para esses efeitos.

Finalmente é importante não confundir as políticas de combate aos incêndios rurais com políticas florestais. As primeiras são focadas no fogo, as segundas são focadas na floresta. Claro que têm zonas de interseção, mas um dos males atuais é confundir-se demasiadas vezes a questão dos incêndios rurais com a floresta. E depois concluímos, por exemplo, que o PRR (Programa de Recuperação e Resiliência) tem muitas verbas para a floresta. Não tem.

Qual pode ser o papel das indústrias de celulose e papel no combate às alterações climáticas e à sustentabilidade?
O desafio do clima tem de ser vencido também através do sequestro de carbono, para além do importante papel da diminuição das emissões. Ora, são as florestas de produção, e em particular os povoamentos à base de espécies de rápido crescimento, aquelas que alcançam taxas de sequestro de CO2 mais elevadas (medidas em ton CO2/ano). Ou seja, estas florestas, que muitos teimam em ver como florestas "menos interessantes", são essenciais para vencer o desafio da neutralidade carbónica, passo essencial para vencermos o desafio do clima. A indústria é a primeira interessada em que as florestas de produção sejam geridas de forma sustentável, pois essa é a garantia de que terão matéria-prima no futuro.