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O investimento sustentável tem vindo a conquistar interesse junto dos investidores mundiais. E, segundo um estudo da Allianz GI, os portugueses estão entre os que dão maior relevância a estratégias que privilegiem os três critérios do investimento sustentável: ambiente, factores sociais e bom governo (ESG, na sigla em inglês). Apesar da aposta crescente por parte das gestoras em estratégias sustentáveis, a Allianz GI defende que isto é só o começo de um movimento.
São várias as gestoras que, nos últimos anos, anunciaram o lançamento de fundos ESG ou que colocaram o investimento sustentável nas suas prioridades. Uma aposta que não surge por acaso. Fundos de impacto e que cumprem os três critérios de sustentabilidade deverão assumir uma relevância cada vez maior, antecipa a Allianz GI, uma das gestoras pioneiras no lançamento de fundos sustentáveis e socialmente responsáveis.
a regulação assim o exige.
O trabalho infantil é intangível, mas se a empresa for boicotada torna-se tangível. Para avaliar uma empresa a três/quatro anos avaliaria critérios
de ESG [ambiente, sociais e de bom governo]. Isabel Reuss
Diretora global de análise ISR de Allianz Global Investors
Isabel Reuss, diretora global de análise ISR de Allianz Global Investors, argumenta que aposta em critérios sustentáveis é uma "mudança que vai ter que acontecer, em primeiro lugar porque os clientes querem e, em segundo, porque a regulação assim o exige". Numa apresentação na cerimónia Melhores Fundos 2019, a gestora destacou que, enquanto para avaliar uma empresa para um horizonte temporal de um ano usa critérios financeiros, já "para avaliar uma empresa a três/quatro anos avaliaria critérios ESG".
Ao contrário do que acontecia há uns anos, práticas socialmente irresponsáveis, critérios que não respeitam o meio ambiente ou que põem em causa a sustentabilidade geram reações negativas junto dos consumidores. É por isso que a reputação tem valor e pode influenciar o comportamento financeiro de uma empresa.
"Por exemplo, o trabalho infantil é intangível, mas se a empresa for boicotada torna-se tangível", explica a diretora global de análise ISR de Allianz GI. Temas como a desigualdade de género, salarial, a prática de comportamentos com impacto negativo na sociedade ou má conduta no governo da sociedade tenderão a ser contabilizadas pelos investidores, com as gerações mais novas preocupadas com o impacto que causam na sociedade. Mais do que os retornos importa o tipo de comportamentos que se privilegia.
Portugueses na vanguarda
É nos países do Sul da Europa que os investidores mostram maior apetência para investir em fundos sustentáveis. Portugal está no topo de uma lista de dez países europeus onde a Allianz GI realizou um inquérito para avaliar a disponibilidade dos clientes de retalho para investir em produtos que cumprem critérios de ambiente, sociais e de governo. Segundo o estudo conduzido pela gestora alemã, 92% dos portugueses mostraram-se interessados em questões de sustentabilidade e 87% admite que investiria em fundos que cumprem objetivos de sustentabilidade.
A seguir a Portugal surgem na lista Itália e Espanha, com os clientes do Sul da Europa a mostrarem-se mais atentos ao investimento sustentável. Cerca de 30% dos inquiridos refere que quer investir em empresas com estratégias que realmente promovam uma mudança e 27% dizem que querem mudar o mundo.
Presidente da APFIPP
Ao contrário dos investidores, entre os consultores financeiros ainda há muito espaço para evoluir. Segundo o estudo, os consultores financeiros têm ainda alguma relutância em recomendar este tipo de produtos aos investidores. Mas, Isabel Reuss espera que a nova regulação para os mercados financeiros ajude a estabelecer melhorias a este nível, na medida em que os consultores terão que questionar os investidores sobre o investimento sustentável quando estão a estabelecer o seu perfil de risco.
José Veiga Sarmento, presidente da APFIPP, também destaca a importância do investimento sustentável, colocando esta temática entre os desafios que a indústria de fundos enfrenta. A falta de poupança é outro dos problemas.
Presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários
"É preciso terminar com o tabu segurança social e falar abertamente" sobre a necessidade de poupar para o futuro, destacou o responsável na noite dos "óscares" dos fundos. O mesmo responsável acredita que a indústria precisa de "preparar propostas criativas e construtivas que convençam os portugueses que poupar é preciso".
A sustentabilidade é também um dos temas aos quais a CMVM tem dado especial atenção. Gabriela Figueiredo Dias, presidente da entidade, recorda que o regulador organizou a sua conferência anual sobre este tema, tendo ainda lançado uma reflexão sobre finanças sustentáveis. "Lançámos uma consulta pública com um nível de sucesso que não esperávamos", destacou a responsável. Gabriela Figueiredo Dias salientou ainda que Portugal é um "país na Europa recordista na redução de emissão carbónica", mais uma prova que mostra a importância da sustentabilidade no país.
Os fundos de investimento vencedores
Os prémios Melhores Fundos 2019, uma iniciativa da APFIPP e do Negócios, distinguiram os melhores produtos em 18 categorias. Algumas não foram premiadas por não existir um número suficiente de fundos que cumprissem os critérios do regulamento. O vencedor de cada categoria é determinado com base na rendibilidade ajustada pelo risco, tendo como referência os últimos três anos. O processo de escrutínio e validação dos prémios contou com a colaboração da auditora BDO.