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O investimento que se mede pelas boas práticas

A crescente procura por fundos que privilegiam critérios de sustentabilidade, associada às novas exigências regulatórias, vão determinar um crescimento deste tipo de investimentos, antecipa a Allianz GI.

03 de Julho de 2019 às 11:30
Isabel Reuss, diretora global de análise ISR de Allianz Global Investors, defende que o interesse dos investidores e as exigências dos reguladores vão suportar a aposta no investimento sustentável. Miguel Baltazar
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O investimento sustentável tem vindo a conquistar interesse junto dos investidores mundiais. E, segundo um estudo da Allianz GI, os portugueses estão entre os que dão maior relevância a estratégias que privilegiem os três critérios do investimento sustentável: ambiente, factores sociais e bom governo (ESG, na sigla em inglês). Apesar da aposta crescente por parte das gestoras em estratégias sustentáveis, a Allianz GI defende que isto é só o começo de um movimento.

São várias as gestoras que, nos últimos anos, anunciaram o lançamento de fundos ESG ou que colocaram o investimento sustentável nas suas prioridades. Uma aposta que não surge por acaso. Fundos de impacto e que cumprem os três critérios de sustentabilidade deverão assumir uma relevância cada vez maior, antecipa a Allianz GI, uma das gestoras pioneiras no lançamento de fundos sustentáveis e socialmente responsáveis.

[A aposta no investimento sustentável] é uma mudança que vai ter que acontecer, em primeiro lugar porque os clientes querem e, em segundo, porque
a regulação assim o exige.

O trabalho infantil é intangível, mas se a empresa for boicotada torna-se tangível. Para avaliar uma empresa a três/quatro anos avaliaria critérios
de ESG [ambiente, sociais e de bom governo].
Isabel Reuss
Diretora global de análise ISR de Allianz Global Investors


Isabel Reuss, diretora global de análise ISR de Allianz Global Investors, argumenta que aposta em critérios sustentáveis é uma "mudança que vai ter que acontecer, em primeiro lugar porque os clientes querem e, em segundo, porque a regulação assim o exige". Numa apresentação na cerimónia Melhores Fundos 2019, a gestora destacou que, enquanto para avaliar uma empresa para um horizonte temporal de um ano usa critérios financeiros, já "para avaliar uma empresa a três/quatro anos avaliaria critérios ESG".

Ao contrário do que acontecia há uns anos, práticas socialmente irresponsáveis, critérios que não respeitam o meio ambiente ou que põem em causa a sustentabilidade geram reações negativas junto dos consumidores. É por isso que a reputação tem valor e pode influenciar o comportamento financeiro de uma empresa.

"Por exemplo, o trabalho infantil é intangível, mas se a empresa for boicotada torna-se tangível", explica a diretora global de análise ISR de Allianz GI. Temas como a desigualdade de género, salarial, a prática de comportamentos com impacto negativo na sociedade ou má conduta no governo da sociedade tenderão a ser contabilizadas pelos investidores, com as gerações mais novas preocupadas com o impacto que causam na sociedade. Mais do que os retornos importa o tipo de comportamentos que se privilegia.

Portugueses na vanguarda

É nos países do Sul da Europa que os investidores mostram maior apetência para investir em fundos sustentáveis. Portugal está no topo de uma lista de dez países europeus onde a Allianz GI realizou um inquérito para avaliar a disponibilidade dos clientes de retalho para investir em produtos que cumprem critérios de ambiente, sociais e de governo. Segundo o estudo conduzido pela gestora alemã, 92% dos portugueses mostraram-se interessados em questões de sustentabilidade e 87% admite que investiria em fundos que cumprem objetivos de sustentabilidade.

A seguir a Portugal surgem na lista Itália e Espanha, com os clientes do Sul da Europa a mostrarem-se mais atentos ao investimento sustentável. Cerca de 30% dos inquiridos refere que quer investir em empresas com estratégias que realmente promovam uma mudança e 27% dizem que querem mudar o mundo.

A indústria precisa preparar propostas criativas e construtivas que convençam os portugueses que poupar é preciso.  José Veiga Sarmento
Presidente da APFIPP


Ao contrário dos investidores, entre os consultores financeiros ainda há muito espaço para evoluir. Segundo o estudo, os consultores financeiros têm ainda alguma relutância em recomendar este tipo de produtos aos investidores. Mas, Isabel Reuss espera que a nova regulação para os mercados financeiros ajude a estabelecer melhorias a este nível, na medida em que os consultores terão que questionar os investidores sobre o investimento sustentável quando estão a estabelecer o seu perfil de risco.

José Veiga Sarmento, presidente da APFIPP, também destaca a importância do investimento sustentável, colocando esta temática entre os desafios que a indústria de fundos enfrenta. A falta de poupança é outro dos problemas.

Lançámos uma consulta pública sobre finanças sustentáveis com um nível de sucesso que não esperávamos. Gabriela Figueiredo Dias
Presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários


"É preciso terminar com o tabu segurança social e falar abertamente" sobre a necessidade de poupar para o futuro, destacou o responsável na noite dos "óscares" dos fundos. O mesmo responsável acredita que a indústria precisa de "preparar propostas criativas e construtivas que convençam os portugueses que poupar é preciso".

A sustentabilidade é também um dos temas aos quais a CMVM tem dado especial atenção. Gabriela Figueiredo Dias, presidente da entidade, recorda que o regulador organizou a sua conferência anual sobre este tema, tendo ainda lançado uma reflexão sobre finanças sustentáveis. "Lançámos uma consulta pública com um nível de sucesso que não esperávamos", destacou a responsável. Gabriela Figueiredo Dias salientou ainda que Portugal é um "país na Europa recordista na redução de emissão carbónica", mais uma prova que mostra a importância da sustentabilidade no país.

Premiados

Os fundos de investimento vencedores

Os prémios Melhores Fundos 2019, uma iniciativa da APFIPP e do Negócios, distinguiram os melhores produtos em 18 categorias. Algumas não foram premiadas por não existir um número suficiente de fundos que cumprissem os critérios do regulamento. O vencedor de cada categoria é determinado com base na rendibilidade ajustada pelo risco, tendo como referência os últimos três anos. O processo de escrutínio e validação dos prémios contou com a colaboração da auditora BDO.