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"Existem dificuldades que sentimos sempre, independentemente de a tecnologia ser inteligência artificial, pois há aqui um denominador comum: as pessoas", assinalou Daniel Luz, head Application Management Services da Eviden Iberia, na mesa redonda organizada pelo Negócios, em parceria com a Eviden, para debater a transição digital e a Inteligência Artificial (IA). Daniel Luz admitiu que essa dificuldade não existe apenas do lado dos clientes, mas também surge na própria consultora.
Daniel Luz considerou que "os processos que temos em desenvolvimento, com os Co-Pilots e outras ferramentas que surgem, aceleram tanto o processo que todos os envolvidos - sejam os especialistas do negócio do cliente, os desenvolvedores ou os testadores - se sentem ameaçados, até pelas próprias tecnologias". Acrescentou ainda que "temos casos em que, por vezes, o cliente demonstra maior abertura para a adoção da tecnologia e para a utilização de inteligência artificial do que a própria equipa de consultoria residente".
Presidente da Imprensa Nacional Casa da Moeda
Dora Moita, presidente da Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM), deu o exemplo da criação do armazém inteligente na INCM, onde a automação e a robotização foram implementadas, seguidas de dois anos de negociações com as organizações representativas dos trabalhadores.
Mudanças organizacionais
Assim como na lei de Pareto, "a parte da tecnologia resolve-se em 20% do tempo, e os restantes 80% são dedicados a resolver os problemas dentro da organização. Quando não existem problemas organizacionais nem de processos, então não se trata de um projeto de transformação digital", afirmou Dora Moita.
Head of Corporate Transformation & Intelligent Process Automation dos CTT
"A nossa estratégia não é passar um processo de papel para o digital, mas repensar os processos e a grande dificuldade está nas pessoas, porque as mudanças são também organizacionais", disse Carlos Machado Silva, head of Corporate Transformation & Intelligent Process Automation dos CTT. Deu o exemplo do mito de Sísifo, que foi condenado por Zeus a rolar uma grande pedra com as suas mãos até ao cume de uma montanha, e sempre que estava quase a alcançar o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até ao ponto de partida, o que mostra que já na antiguidade o trabalho inútil era visto como o maior castigo. "Temos muitos sísifos nas nossas empresas que estão todos os dias a fazer tarefas que não acrescentam qualquer valor. O grande desafio da transformação digital, é identificar estas pessoas e através de gestão de mudança fazer com que percebam que podem fazer outras coisas", disse Carlos Machado Silva. Sublinhou que "sempre que automatizamos algum processo, fazemos inquéritos de satisfação às pessoas que foram substituídas por robôs.
O nível de satisfação das pessoas com as novas funções, que, no início, se viam ameaçadas por serem substituídas, atinge os 80% e sentem que estão a acrescentar valor à organização e que finalmente estão a utilizar o cérebro".