- Partilhar artigo
- ...
"O país deve muito da sua história à floresta portuguesa", referiu Nuno Banza, presidente do conselho diretivo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Em seguida, fez uma digressão sobre as "seculares plantações de povoamentos florestais de pinheiro-bravo" como fonte de matéria-prima para a construção naval, a construção civil, os retábulos dos altares das igrejas "até à singela utilização como fonte de calor".
Mas a floresta é diversidade, porque, além de ser "fonte de uma matéria-prima nobre e sustentável, de baixo consumo energético, combate as alterações climáticas, não só para representar a fixação efetiva e permanente de carbono na sua esmagadora maioria dos usos", mas também para proteger o solo, estimular a biodiversidade, e garantir a retenção e a depuração das águas das chuvas, permitindo a recarga dos aquíferos subterrâneos e o equilíbrio da rede de cursos de água superficiais.
Nuno Banza salientou as transformações profundas nas últimas décadas que afetaram a floresta e o mundo rural, que perdeu os seus agentes, as pessoas, e deixou de ser fonte de recursos básicos suporte de vida das populações rurais. Além disso, a construção civil e construção naval reduziram "drasticamente os consumos da madeira" e a indústria de mobiliário passou a usar subprodutos de aglomerados de maior versatilidade e menor custo.
Territorialização de políticas
E sublinhou ainda a importância da indústria da cortiça e da produção de pasta de papel e seus derivados e de ecossistemas florestais com atividades de produção de grande valor acrescentado como as carnes de porco preto oriundas dos montados de sobro e azinho ou a produção de gado bovino de raças autóctones.
Os mais de 3 milhões de hectares com ocupação florestal asseguram ainda a função de sumidouro de carbono "sendo responsáveis pelo sequestro de aproximadamente 8,7 milhões de toneladas de CO2 equivalentes por ano", salientou Nuno Banza.
O presidente do conselho diretivo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas referiu o início do "caminho de territorialização de políticas que assenta no programa de reordenamento e gestão da paisagem, que assenta na criação de áreas integradas de gestão da paisagem e suas operações integradas, e assenta na criação de condomínios da aldeia, com base num programa de parcelamento da propriedade, mas que sobretudo assenta na proximidade com as pessoas e com os agentes do território".
Nuno Banza mostrou-se crítico "de uma certa radicalização do discurso de proteção, que não é só irracional como é perfeitamente injustificado". Alertou que "precisamos do papel ativo da sociedade para fazer, de facto, equilíbrio" entre a floresta de produção e a floresta de conservação, que "não são opostas, sendo que estas duas dimensões de um mesmo património. Os portugueses sabem há séculos compatibilizar a utilização da floresta com a proteção da biodiversidade".