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Rui Alpalhão: “Não percebo a ideia de se acabar com as recessões”

A economia dos Estados Unidos continua a crescer, mas há várias economias, como a do Reino Unido e a da Alemanha, em recessão, enquanto os outros países da Europa, com exceção de Portugal e Espanha, estão em estagnação.

Filipe S. Fernandes 01 de Março de 2024 às 18:00
Rina Guerra, Equity Portfólio manager do Banco Carregosa e Rui Alpalhão, professor associado convidado do ISCTE Business School David Cabral Santos
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"O otimismo que temos vivido nestes mercados, sobretudo desde novembro de 2023, mostra bem que os receios quanto a uma possível recessão, que estava prevista para o início de 2023, estão a dissipar-se. Se este cenário se concretizar, temos um mercado acionista antecipador e bastante otimista, em que a possibilidade de hard landing não se vai realizar. A economia americana pode ser uma economia que passe imune a esta possível recessão e é isso que os mercados estão a descontar neste momento", defendeu Rina Guerra, Equity Portfólio manager do Banco Carregosa, na mesa-redonda "Tendências de Investimento: Preparar a carteira de investimentos para 2024", que fez parte da conferência sobre "O Futuro dos Mercados Financeiros".

Rui Alpalhão, professor associado convidado do ISCTE Business School, definiu o mercado como "priced to perfection" e considerou que os mercados são realistas, "são a realidade, depois há as opiniões, que podem ser melhores ou piores". Disse que não acreditava na questão da perfeição, "porque o mundo perfeito seria maçador".

Depois de um período de subida de taxas de juro, como o que se assistiu, os efeitos na economia fazem-se sentir seis a 12 meses depois, ou até de 12 a 18 meses. "O que acho fantástico é acreditar-se que desta vez se carregou no travão e o carro não trava, deve ser a predominância dos carros chineses. Como ando num carro alemão, acho que vai travar. Se não travar é a primeira vez, e já leio uns livros de economia há uns anos", disse Rui Alpalhão. Considerou que, se for a primeira vez, se escrevem outros livros, o que já aconteceu, e a teoria económica muda. "Não estou muito convencido de que seja a altura para mudar de livro, por isso acho que a economia vai travar e não percebo a ideia de que se não travou imediatamente, não vai travar."

Em tom provocatório, acrescentou que não percebia a "ideia de se acabar com as recessões. Nas economias que conheço, há dois tipos, as que descem sempre e as que sobem e descem, e estas são melhores do que as que descem sempre". Rui Alpalhão referiu-se ainda "ao pavor da inflação". "Quando comecei a trabalhar ainda fiz aplicações overnight e não fiquei assim tão mal. Claro que há inflação." Afirmou que esperaria um landing e "fico surpreendido se não houver, mas estamos cá para ser surpreendidos. O Reino Unido está em recessão e, portanto, já aterraram".

"Do ponto de vista económico, os Estados Unidos estão bem e a crescer, a Europa é como se tivesse uma recessão porque há um ano e meio que a economia não cresce, o rumo natural esperado de uma economia é de 1,5 a 2% e estamos estagnados na Europa, exceto em Portugal e Espanha. Mas a Europa está estagnada e há uma perda económica significativa que não se reflete ainda no mercado de trabalho", assinalou João Leão, professor do ISCTE Business School.

"É evidente que as economias já aterraram, temos o Reino Unido e a Alemanha em recessão, por exemplo. A economia que não aterrou foi a dos Estados Unidos, que cresceu 2,5% em 2023 e, este ano, prevê-se 1,5%, o que não é espetacular ", concordou Pedro Santos, Private Banking, sócio e chief investment officer da True Magma. Neste momento, não são os mercados que estão errados. "A expectativa de cortes de taxas que os bancos centrais estão a lançar para o mercado é que está inadequada com a realidade", referiu. Aduziu com razões. A primeira pela fraqueza da economia e é "evidente que a Europa não aguenta juros a estes níveis estando há dois anos sem crescer. Por exemplo, nos Estados Unidos as taxas de juro a 10 anos estão nos 4,35% e a inflação está nos 3%. Há qualquer coisa que não bate certo e acho que os mercados acionistas estão a antecipar, embora os mercados obrigacionistas não o tenham feito, e acho que a oportunidade de investimento este ano está nos mercados obrigacionistas em obrigações de bom risco e com maturidade mais longa para beneficiar desta queda de taxas de juro que estou à espera", afirmou Pedro Santos.