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Muito capital, poucas empresas

O mercado de fusões e aquisições está num seller's market, pois há muita liquidez e a oferta é superior à procura, o que faz valorizar os activos. Mas era também importante que os reguladores em Portugal tivessem meios e força para exercer as suas funções.

25 de Maio de 2018 às 11:14
A conferência realizou-se quarta-feira na Fundação Gulbenkian, numa organização do Jornal de Negócios e da PLMJ Inês Gomes Lourenço
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"Para o Estado ser um bom árbitro, é importante que os reguladores tenham os meios técnicos e financeiros, para poderem ser fortes e independentes e enfrentar empresas poderosas, mas há o risco de os reguladores portugueses não terem esses meios", declarou Diogo Perestrelo, sócio da PLMJ durante a conferência Fusões & Aquisições - A Economia em Movimento, que hoje se realizou na Fundação Gulbenkian, numa organização do Jornal de Negócios e a PLMJ. "Os reguladores têm de ter força. Faltam-lhes meios para responder com celeridade, como o Banco de Portugal, que não está a responder em tempo útil", acrescentou Duarte Schimdt Lino, sócio da PLMJ.

Em 2017, foram realizadas 359 operações, conhecendo-se apenas valores referentes a 148, que geraram um negócio de 14 mil milhões de euros. É o maior valor desde 2014 e, como referiu Diogo Perestrelo, este crescimento esteve em linha com o que sucedeu a nível europeu. Mas, o primeiro trimestre de 2018 revela um abrandamento na Europa e em Portugal. Nos primeiros três meses, registou-se uma queda de 19% em relação ao primeiro trimestre de 2017. Foram feitas 73 operações e movimentaram-se 3,1 mil milhões em 30 operações, segundo o relatório trimestral da TTR.

"É um bom momento para as fusões e aquisições em Portugal num contexto de taxas de juro baixas, activos interessantes a preços atractivos e economia a crescer", referiu Pedro Siza Vieira, ministro Adjunto na abertura da conferência. Acrescentou que vai ser feita a revisão dos regimes fiscais de apoio ao investimento, e que será introduzida uma maior flexibilidade e benefícios fiscais às fusões e aquisições

Na sua opinião, a economia portuguesa está num momento positivo, com um crescimento económico feito com bases saudáveis, com as empresas exportadoras a ganharem uma quota de 20% nos últimos dez anos. O saldo da balança comercial tem sido positivo há cinco anos e a posição líquida internacional tem melhorado. Referiu ainda que o crescimento económico tem sido impulsionado pelo investimento privado, e que "o stock mais elevado de investimento estrangeiro foi atingido em 2017".

Como riscos para Portugal, o ministro enunciou não só o volume de dívida pública e privada, pois qualquer subida na taxa de juro pode originar um problema, como a escassez de disponibilidade de recursos humanos, com alguns sectores a atingirem o pleno emprego. Sublinhou que nos últimos dados sobre o desemprego, o que mais baixou foi o dos desempregados de longa duração com mais de 45 anos. Observou, ainda, que é necessário capital "para assegurar ganhos de escala e para aumentar a produtividade e os ganhos de quota internacional".

Liquidez procura alvos

Os sectores dominantes nas fusões e aquisições em Portugal são o imobiliário, em que se incluem os portefólios de imobiliário e as cadeias hoteleiras, as tecnologias e a saúde. O sector financeiro tem perdido importância depois do apogeu em 2014. As operações são cada vez mais de fundos, tendo sido registadas 54 operações em 2018 em que intervieram fundos, referiu Diogo Perestrelo.

Na sua análise, afirmou que hoje as vendas são de activos consolidados e não de activos em stress para serem comprados, como aconteceu durante o período da troika. Salientou que existe um seller's market, pois há muita liquidez e a oferta é superior à procura, o que faz valorizar os activos.

Diogo Perestrelo revelou que os financiamentos das operações de fusões e aquisições têm uma crescente participação de bancos estrangeiros, há uma grande diversificação de financiadores e as questões contratuais implicam garantias como os penhores mercantis entre outras fórmulas. "Estamos a fazer uma operação de aquisição em Espanha feita sem o recurso a qualquer banco", exemplificou João Talone, sócio-fundador do private equity, Magnum Capital.

O sócio da PLMJ chamou a atenção para os riscos que há na atracção de investimento estrangeiro como a corrupção, devido à multiplicação de casos envolvendo empresa e gestores relevantes, o definhamento do mercado de capitais, o problema da Catalunha e a desaceleração do investimento chinês.

Os chineses das empresas

"Portugal é o décimo país em que a China mais investiu entre 2000 e 2017, e o investimento chinês representa 5% do PIB português", disse Diogo Perestrelo, sócio da PLMJ. Referiu, ainda, que a China é hoje um dos grandes investidores globais e há uma crescente preocupação europeia com os investimentos chineses. Nuno Ribeiro da Silva, CEO da Endesa, acrescentou que este foi um dos factores para decisão europeia de "retoma das golden shares para empresas estratégicas, o que foi feito em 48 horas". Salientou ainda que o facto de empresas chinesas, detidas pelo Estado, serem accionistas em Portugal da REN, caso da State Grid of China, e da EDP, caso da China Three Gorges (CTG), pode gerar problemas em Bruxelas à OPA da à EDP feita pela CTG, pois pode ser alegada uma reverticalização do sector.