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Notícia

Moda e turismo, dois recursos da Beira Baixa

A Dielmar partiu de Alcains e tenta criar uma base forte em Portugal para crescer internacionalmente. O Grupo Natura IMB Hotels fez da Serra da Estrela o seu cluster turístico e agora prepara-se para novos projectos fora da região.

17 de Maio de 2017 às 15:00
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Ana Paula Rafael, CEO da Dielmar,  diz que as vitaminas da empresa são o design e a inovação.

"O culto e know how da arte da alfaiataria tradicional que mantemos ainda, passadas mais de cinco décadas, é a principal marca que nos caracteriza e diferencia. A capacidade de manutenção da tradição e da qualidade, o bom corte e os detalhes da alfaiataria, acrescentando-as e vitaminando-as com inovação e design" é o que diferencia a Dielmar segundo Ana Paula Rafael.

Factura quase 14 milhões de euros, tem 400 trabalhadores e produzem 700 calças e 500 casacos diariamente. "Com 52 de experiência, a preocupação com a modelagem e com o design das peças mantém-se a mesma e permite-nos criar peças únicas e exclusivas à medida do sonho de cada cliente, sempre com a mesma paixão" remata Ana Paula Rafael. Acrescenta que "a moda, a inovação e o design são ingredientes que adicionamos à tradição e que hoje caminham de mãos dadas. Todo o processo de construção das peças foi implementado tendo em conta os tradicionais processos de alfaiataria, mantendo operações manuais concertadas com as operações de uma indústria evoluída e de tecnologia actual".

470 quartos na Serra da Estrela

A Serra da Estrela é o esteio do grupo Natura IMB Hotels. Mas como refere Luís Veiga," de alguma forma temos uma oferta segmentada e produtos diferenciadores como é o caso do H2Otel, Puralã e Lusitânia". Tudo começou nos anos 1990, a família Manuel Brancal, da Covilhã, que tem uma fábrica têxtil de lanifícios e uma rede de lojas de fios para tricotar, Tricots Brancal decidiu apostar no imobiliário e no turismo. Começou por investir num country club, o Clube de Campo da Covilhã, seguindo-se o Covilhã Parque Hotel, na altura uma residencial, o Hotel de Turismo da Covilhã com uma zona de spa, o Hotel Vanguarda e Hotel Lusitânia na Guarda, e o H2otel, hotel de montanha construído de raiz, com área termal integrada, tendo a concessão das Termas de Unhais da Serra. Hoje a sua oferta atinge os 470 quartos.

Ficha da Dielmar

Volume de negócios (2016) - 13,5 milhões de euros
Número de colaboradores - 400
Principais produtos e serviços - Fatos, casacos, fraques, smokings, casacas, coletes, calças, sobretudos, gabardines, parkas, calções e bermudas. Em outsourcing, com desenvolvimento e design próprio tem ainda camisas, gravatas, lenços de peito, botões de punho, malhas, sapatos, cintos, meias, roupa interior, óculos e relógios.
Principais mercados geográficos - O mercado europeu, com a Espanha, França e Reino Unido à frente. Outros mercados,como por exemplo os EUA, apresentam crescimentos interessantes.

Ficha do Grupo Natura IMB Hotels

Volume de negócios (2016) - Cerca de 10 milhões de euros
Número de colaboradores - 198
Produtos e serviços - Hotelaria
Mercados geográficos - Portugal, Espanha, França, Brasil, Israel, EUA 


"É assumido actualmente que uma das áreas de crescimento no futuro é a associada ao turismo de saúde e bem-estar, para além do desporto / turismo activo. É nessas áreas que temos oferta construída e nalguns casos, em curso" diz Luís Veiga. Segundo este gestor, "temos neste momento em carteira projectos fora da região, sendo que no destino Serra da Estrela o crescimento só se concretizará se tiver condições para integrar o nosso ADN". O grupo Brancal factura cerca de 16,5 milhões de euros com as lãs, as lojas, o imobiliário e o turismo, que vale cerca de 60% das receitas.

Acessórios em outsourcing

A rede de lojas da Dielmar tem seis lojas e a estratégia passa por consolidar em Portugal e crescer internacionalmente. "Ter uma rede de lojas Dielmar em Portugal e contar com o apoio dos portugueses, é indispensável para fazer crescer a marca e a sua notoriedade em Portugal, para dar músculo ao seu crescimento lá fora" diz Ana Paula Rafael. Em 2016, os produtos Dielmar foram vendidos para 20 países, tendo as exportações representado 62% do volume de negócios, e tem presença no retalho multimarca espanhol. Nestas exportações incluem-se vendas de marca Dielmar e confecção para outras marcas (private label).

Vistos Gold para o interior

"Com vontade política, eliminando as portagens e, para além disso criando uma Agência Regional de Investimento para a Beira Interior, seria possível construir um conjunto de acções associadas aos produtos já existentes como Autorização de Residência para Actividade de Investimento (ARI ou Vistos Gold) a residentes não habituais. Ao fim e ao cabo, os mesmos instrumentos que estão a tornar Lisboa e Porto paraísos fiscais e que, acentuam ainda mais as assimetrias" defende Luís Veiga, administrador da Grupo Natura IMB Hotels, como forma de aumentar a atractividade da região da Beira Baixa.

Por sua vez Ana Paula Rafael, CEO da Dielmar, sugere que haja uma estratégia específica para criar no interior dinâmicas construídas entre o poder político central, autarquias e autores do desenvolvimento (associação e empresas): "tem que haver parcerias efectivas e eficazes porque os meios são escassos e as necessidades são muitas". Nessa estratégia inclui "apoios específicos e direccionados à manutenção das empresas existentes e à criação de novas empresas que aproveitem os recursos endógenos". O objectivo seria manter empregos e criar novos empregos que fixem e atraiam jovens.

Tradição laneira e os ares das Serras

A localização industrial da Dielmar em Alcains tem vantagem de a "região contar a história de alfaiates e costureiras. A maior parte das aldeias e vilas do interior vivia da agricultura. Alcains sempre foi terra de alfaiates e costureiras. É este legado que herdámos e que lutamos para manter" refere Ana Paula Rafael. Com a memória da alfaiataria do avô Mestre José Marques Rafael, que mais tarde estaria na fundação da Dielmar, conta que "existe aqui um legado histórico único, proveniente da origem da lã na Serra de Estrela" recorda a CEO da Dielmar. No início, a tradição laneira da Covilhã e de Cebolais fornecia tecidos e entre a Guarda, Covilhã, Tortosendo, Alcains e Cebolais/Retaxo criaram-se e desenvolveram-se várias centenas de indústrias têxteis e de vestuário e actividades tradicionais da costura e alfaiataria. Hoje com o encerramento sucessivo de inúmeras, centenas de indústrias, nesta região, "acabou por ditar uma crescente necessidade de adaptação, acelerando o processo de internacionalização da Dielmar" diz Ana Paula Rafael.

"A conjugação dos ventos na zona com os ares das Serras da Gardunha e Estrela criam um ar leve e com um odor especial que não conheço em mais parte nenhuma do mundo meu conhecido. É uma mais-valia desta região do interior e que deve ser utilizada na comunicação e marketing turístico pelos operadores e actores locais, quando vendem a região" diz Ana Paula Rafael como que dando a deixa a Luís Veiga. "A localização do grupo no destino Serra da Estrela é claramente uma das vantagens, face à hotelaria fora de destinos turísticos reconhecidos como tal", refere o administrador da cadeia regional Grupo Natura IMB Hotels. 


A oferta da Dielmar alargou-se aos acessórios que vai desde camisas, gravatas, lenços de peito, botões de punho, malhas, sapatos, cintos, meias, roupa interior, óculos, e mais recentemente, relógios. "O design e todo o trabalho criativo é da Dielmar e a produção é feita em outsourcing, com parceiros de reputada competência e qualidade, em Portugal" explica Ana Paula Rafael.


Pergunta a

Luís Veiga
Administrador do Grupo Natura IMB Hotels

Ana Paula Rafael
CEO da Dielmar

Qual é a importância do Congresso Empresarial da Beira Baixa?

Luís Veiga
Administrador do Grupo Natura IMB Hotels

Sobretudo uma reflexão sobre as nossas debilidades, nomeadamente a inexistência de lobby. É uma visão do futuro. O que queremos ser e onde queremos estar em 2020.

Ana Paula Rafael
CEO da Dielmar

É muito importante porque permite o encontro dos vários actores empresariais e cria um espaço privilegiado de troca de experiências que potencia estratégias concertadas e parcerias colaborativas para a região. É essencial promover a coesão da região e dar visibilidade aos empresários e empresas do interior. O congresso permitirá dar palco às preocupações destas empresas que, a partir do interior, com o seu trabalho, contribuem fortemente para o equilíbrio regional e nacional, criando condições para evitar maior desertificação das populações, contribuindo também para o desenvolvimento da economia nacional e para a vitalidade do tecido empresarial português.