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Miguel Pina Martins: “Com a subida das taxas de juro há falências”

A subida de preços não se deve apenas aos custos das matérias-primas e da energia e às disrupções dos transportes mas também às quedas de produção.

22 de Novembro de 2021 às 16:00
Miguel Pina Martins, CEO da Scienceforyou. Duarte Roriz
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"O grande tema desta recuperação, que na sua globalidade é muito positiva e os números dos índices bolsistas não mentem, é a preocupação muito grande em vários setores que foram afetados de uma forma muito grande com a pandemia de covid-19 e que acabam por estar a passar dificuldades gigantescas", afirmou Miguel Pina Martins, CEO da Science4you.

Por isso, na sua opinião esta recuperação deveria ser solidária para com setores em que, "para salvar vidas de pessoas, exista saúde, tivemos de sacrificar como o comércio, a restauração e o turismo e em que não há uma recuperação assim tão grande à vista, principalmente porque estamos a começar a ver outra vez a covid-19 a emergir em alguns países e, quando voltar o frio, por se tornar novamente complicado", acentuou Miguel Pina Martins. Está-se a assistir a uma recuperação em K, em que uns conseguem subir enquanto outros descem, "que é uma recuperação desigual". Acrescenta que se continua a ter "quebras muito grandes nos setores do comércio, restauração e turismo".

Miguel Pina Martins preside à Associação de Marcas de Retalho e Restauração, que foi criada no tempo de pandemia, e admitiu que o facto de estar ligado a estes setores, a "leitura da realidade pode estar turvada e vejo um pouco mais de ameaças do que as que são vistas pelos analistas".

Refere que há um risco elevado de a inflação se manter principalmente em alguns setores que têm muitas produções fora de Portugal, por causa do forte aumento dos transportes. "É impossível não refletir os preços, são aumentos muito grandes. Um contentor de brinquedos vindo da China custava cerca de 30 a 40 mil euros e pagava 3 mil euros e agora paga-se 20 a 22 mil. E isto é em todas as áreas como o cartão, o papel, o aço, são crescimentos superiores a 100% nas matérias-primas". Alertou ainda que a subida dos preços não se vai dever apenas aos custos das matérias-primas, da energia e dos transportes mas também a uma escassez de produção.

A falta de energia

Mas na China há outros problemas, como o da energia. Miguel Pina Martins disse que houve fábricas chinesas que lhe comunicaram que até ao final do ano só poderiam "trabalhar dois dias por semana em vez de sete porque por problemas de energia não podem produzir mais, o que vai criar ainda mais disrupções". Por outro lado, podem acentuar-se os problemas na China por causa da covid-19 e do processo de vacinação.

Por isso, Miguel Pina Martins defende a necessidade de reindustrialização da Europa e de repensar a dependência de um país, porque isso pode trazer muitas oportunidades. Salientou que a inflação e a energia são desafios de futuro. "Dizem que a inflação é passageira, mas não acredito que a energia vá ficar mais barata e não há uma solução à vista para o problema dos contentores. Apesar de a China ter começado a produzir contentores e barcos, mas não se resolve em quatro ou seis meses. Por isso não vejo uma resolução rápida do tema dos preços, muito pelo contrário", afirmou Miguel Pina Martins. Alertou que se "tivermos uma subida de taxas de juro, teremos várias falências de empresas e de países, porque as dívidas públicas não vão aguentar".

Há setores com problemas e que estiveram anestesiados com as moratórias e os lay-offs simplificados. Estamos no comércio especializado que teve quebras este ano de 40%, depois de 2020 ter perdido 40% do negócio. Nesta altura pode estar a 95% mas três meses fechados e a zeros não são recuperáveis. "Agora têm de sair da anestesia e tudo depende de como conseguem sobreviver num ambiente em que o consumo não está a funcionar como estavam em 2019. A recuperação tem a ver com os stakeholders que estão envolvidos como a banca e os colaboradores", afirma Miguel Pina Martins.