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"Medicamentos biotecnológicos foram uma verdadeira revolução"

“Esperamos que a evolução continue no sentido de associar cada vez mais eficácia a cada vez maior segurança de utilização. Eventualmente, no futuro, talvez venha a existir possibilidade de terapêutica curativa”, considera Maria João Paiva Lopes.

08 de Outubro de 2021 às 08:30
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"Atualmente, as terapêuticas disponíveis para a psoríase são extremamente eficazes e seguras, permitindo tratar a maioria dos doentes. No entanto, o acesso a estas terapêuticas é ainda limitado", referiu Tiago Torres, do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), doutorado e professor no Instituto Ciências Biomédicas Abel Salazar.

As razões para esta limitação são sobretudo a dificuldade de acesso ao sistema de saúde, tanto pelas longas listas de espera originadas pelo baixo número de serviços hospitalares com a valência de dermatologia, como ao baixo número de dermatologistas nestes serviços. Mas também as dificuldades de acesso à medicação causadas por restrições impostas por alguns hospitais.

Por último, no leque de dificuldades, Tiago Torres refere "um desconhecimento e subvalorização da doença, tanto por doentes como pela sociedade, o que acaba por diminuir a procura de cuidados de saúde pelos próprios doentes. Assim, para melhorar a vida dos doentes com psoríase seria necessário investir no sistema de saúde, melhorando o acesso e investir na educação e conhecimento de doentes e sociedade, através de campanha de awareness".

Tecnologia fundamental
Para que a situação melhore, é necessário, "o reforço da atração de dermatologistas no SNS, que são muito disputados pelo setor privado, e o investimento em tecnologia, sendo exemplo a renovação e ampliação do parque de aparelho de fototerapia, muito inferior aos dos outros países da Europa Ocidental", considera Paulo Varela, diretor do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG). Acrescenta, que "será também essencial a manutenção de pagamentos atrativos à produção adicional, permitindo absorver picos de procura nas consultas de dermatologia do SNS".

Ainda em termos de futuro, "o essencial é a melhoria do acesso a consultas de dermatovenereologia e a divulgação da importância de acorrer a consultas especializadas, onde o doente poderá ter acesso aos planos terapêuticos mais adequados ao seu caso. É importante que os doentes saibam que existem novos tratamentos muito mais eficazes do que os "clássicos" e com um perfil de segurança muito satisfatório", defende Maria João Paiva Lopes, responsável pela Dermatovenereologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central e professora da Faculdade de Ciências Médicas.

Tiago Torres sublinha que a tecnologia é fundamental no progresso da medicina e, no caso da psoríase, permitiu o desenvolvimento de novas terapêuticas. "Nos últimos anos, devido a avanços no conhecimento dos mecanismos da doença, em parte pelo progresso tecnológicos, observou-se um grande avanço no tratamento da psoríase, com o aparecimento das terapêuticas biológicas", afirmou Tiago Torres.

Inteligência artificial
"A tecnologia teve muito impacto sobretudo pela facilidade e vulgarização da referenciação com imagens dermatológicas pela MGF (medicina geral e familiar) permitindo a priorização adequada dos doentes e a resolução de situações simples e tipificadas por teleconsultadoria diferida aos MGF", assinala Paulo Varela. Mas alerta que "a inteligência artificial tem sido a grande desilusão no campo da dermatologia, quando se julgava que seria nesta especialidade que o tratamento de imagem permitiria uma implantação alargada. Muitos consultores bem pagos e muitos doutoramentos depois, estamos com uma sensação de tempo perdido nesta área".

"A evolução recente no campo das terapêuticas sistémicas para a psoríase tem sido muito entusiasmante; os medicamentos biotecnológicos foram uma verdadeira revolução e esperamos que a evolução continue no sentido de associar cada vez mais eficácia a cada vez maior segurança de utilização. Eventualmente, no futuro, talvez venha a existir possibilidade de terapêutica curativa", considera Maria João Paiva Lopes.