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Mário Carvalho Fernandes: “Uma carteira diversificada é uma vantagem para o investidor”

“Conseguimos aumentar a rentabilidade esperada da carteira reduzindo o risco se diversificarmos por várias classes de ativos. É como lançar uma moeda ao ar e se sair caras eu ganho, se sair coroa eu não perco, é esse o objetivo de quem monta uma carteira”, aconselha Mário Carvalho Fernandes.

25 de Maio de 2021 às 12:45
Mário Carvalho Fernandes diz que é preciso ser disciplinado e manter ao longo do ciclo o perfil de investimento.
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"A adequação e a montagem de uma carteira de investimento deverá ser sempre definida tendo em conta o perfil de risco do investidor e o horizonte temporal do investimento", sublinha Mário Carvalho Fernandes, 44 anos, chief investment officer (CIO) do Banco Carregosa, durante a segunda sessão de Talking Money - O Valor do Dinheiro, iniciativa do Jornal de Negócios com o apoio do A Banca, Banco Carregosa e Bankinter. "Muitas das experiências dos investidores com o mercado acionista não deixam boas memórias pela falta de planeamento prévio do seu investimento. Todos os investimentos devem ser pensados de uma maneira racional e planeados de uma forma estratégica, identificado um horizonte temporal e o risco associado e depois devem ficar fiéis a essa situação" aconselha.

Refere que "se olharmos para a história do mercado acionista norte-americano, que é um exemplo com um historial vasto, a um ano de vista, os retornos esperados de um investimento no mercado acionista andam entre os -30% e os +30%, mas se o investidor fizer esta análise a cinco anos ou a 10 anos, a amplitude do intervalo vai-se reduzindo e a 10 anos os retornos andam entre os 6 e os 8%".

Mário Carvalho Fernandes salienta ainda que como há muita incerteza em relação ao futuro, "o que tentamos fazer, quando construímos uma carteira, é ter a vantagem da diversificação. Conseguimos aumentar a rentabilidade esperada da carteira reduzindo o risco se diversificarmos por várias classes de ativos. Costumo dizer que é como lançar uma moeda ao ar e se sair caras eu ganho, se sair coroa eu não perco, é esse o objetivo de quem monta uma carteira".

Investidor conservador

Em termos de perfil de risco, o investidor português é tendencialmente conservador, e está associado aos depósitos a prazo e à garantia de ganhos de curto prazo. "A nossa abordagem é que todos os investidores podem ser conservadores ou agressivos dependendo do objetivo do seu investimento. Qualquer investidor poderá, apesar de conservador, ser agressivo numa pequena parcela do seu património. O importante é perceber para cada investimento qual é o objetivo e qual é a perda máxima que esse investidor está disponível para que em momento algum perca o sono", afirma Mário Carvalho Fernandes.

Na sua opinião, se é complicado investir e desinvestir no curto prazo, também é difícil quando o investidor decide mudar o seu perfil conforme os seus humores, e ser arrojado quando está otimista e defensivo quando está pessimista. Este comportamento tende a replicar o que o mercado está a vivenciar e aumentar a amplitude da sua carteira ao andar em sintonia com o mercado. "Devemos ser ambiciosos quando os outros estão receosos e receosos quando os outros estão ambiciosos como dizia o Warren Buffett. Devemos ser disciplinados e manter ao longo do ciclo o perfil de investimento", disse o CIO do Banco Carregosa, que entre 2007 e 2019 foi analista financeiro e gestor de carteiras, no BPI e BPI Gestão de Ativos.

Todos os investimentos devem ser pensados de maneira racional e planeados de forma estratégica.  Mário Carvalho Fernandes, Chief Investment Officer do Banco Carregosa
Em relação aos cenários macroeconómicos, Mário Carvalho Fernandes admite que "há uma grande certeza no crescimento económico e alguma incerteza na questão inflacionista". Na sua análise, "as preocupações para o investidor devem continuar a ser as duas variáveis inflação e crescimento, porque, se houver alguma surpresa no campo da inflação, esta estará já de alguma forma descontada pelos investidores, e acomodada no atual preço dos ativos financeiros. Se houver uma surpresa negativa ao nível do crescimento económico, isso não está claramente nos cenários vislumbrados pelos investidores, seria uma forte surpresa negativa e teria um impacto bastante negativo na valoração dos ativos financeiros".

Europa e Estados Unidos

Mário Carvalho Fernandes adianta que os piores riscos são aqueles que se materializam sem sequer ter sido vislumbrados como foi o da pandemia, e que podem ser atualizados por uma nova variante que ponha em causa a vacinação. Do lado da inflação, as surpresas podem vir da possibilidade de inflação descontrolada no curto prazo ou a inflação mais elevada se ancorar na expectativa dos consumidores e dos agentes económicos, que têm tendência para automaticamente a ajustar os seus comportamentos alimentando o processo inflacionista.

Para Mário Carvalho Fernandes, o processo de recuperação da economia na Europa deverá ser mais lento e gradual que a economia norte-americana, que, até por questões estruturais, tende a ser mais rápida a reagir. Acrescenta que a forma como os subsídios foram atribuídos, com a Europa a privilegiar a manutenção do posto de trabalho, e os Estados Unidos o pagamento do subsídio de desemprego, "vai permitir uma recuperação mais rápida do tecido empresarial nos Estados Unidos, porque as pessoas vão ser contratadas por novas empresas ou empresas que tenham a capacidade de os contratar, enquanto na Europa, as pessoas estão ainda associadas ao empregador antigo a que regressam, independentemente da situação financeira e do momento de mercado". Por outro lado, "os programas de estímulo europeus ainda estão atrasados face aos Estados Unidos, em que o dinheiro já chegou à economia real e na Europa ainda se estão a discutir os planos de recuperação".

Obrigações e ações  A incerteza em torno da inflação prejudica as classes de ativos de taxa fixa. O rendimento de obrigações soberanas (35% da Alemanha e 65% dos Estados Unidos) continua a não garantir o poder de compra dos investidores e continuam a ter yields inferiores à inflação.

As obrigações são vistas como um ativo de refúgio e de baixo risco, mas hoje têm um custo porque quem investe em obrigações sabe que não vai ganhar o suficiente para compensar a inflação atual. Em termos globais, as ações remuneram o risco equity a 4,1%, o que compara uma mediana histórica de 4,8%.

"O mercado está a pagar 21 vezes o ganho por ação, em termos históricos é um valor bastante elevado, compara com uma média histórica de 15/16 vezes." Parte deste múltiplo mais elevado é explicado pela ausência de alternativas e os investidores estarem dispostos a pagar mais pelas ações. Também se justifica este múltiplo elevado porque se espera que os ganhos futuros cresçam a ritmo elevado. Alerta que "quem investe no mercado acionista deverá fazê-lo sempre numa lógica de longo prazo da ordem dos 10 anos. Portanto, o ponto de entrada tende a não ser relevante para a rentabilidade auferida ao longo deste período", concluiu Mário Carvalho Fernandes.