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Mário Carvalho Fernandes: “Crescimento global de 3% é um ponto ótimo de estabilidade da economia”

O prémio que os investidores estão a exigir para as obrigações portuguesas, em relação às alemãs a 10 anos, está a comprimir-se, o que reflete o otimismo em torno da economia portuguesa.

11 de Novembro de 2024 às 16:00
Fernando Costa
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Foto em cima: Mário Carvalho Fernandes, CIO do Banco Carregosa

Em termos de crescimento económico, as perspetivas apontam para a estabilização da economia global, que está a crescer em torno de 3%, tanto em 2024 como em 2025, de acordo com a maior parte das projeções compiladas pela Bloomberg, referiu Mário Carvalho Fernandes, Chief Investment Officer (CIO) do Banco Carregosa, na 13.ª edição da Grande Conferência ‘O Futuro dos Mercados Financeiros’, organizada pelo Negócios e pelo Banco Carregosa, com o apoio da ISCTE Business School.

Salientou que este "crescimento de 3%, que não é nem demasiado forte, nem demasiado brando, acaba por ser o ponto ótimo para a estabilidade do sistema económico".

Para 2025, está prevista uma grande estabilidade do crescimento, com os Estados Unidos e a China a registarem crescimentos mais elevados, enquanto a Europa e o Japão terão um crescimento mais contido.

Em termos setoriais, o PMI Global Composite, um indicador que compila o sentimento dos empresários a nível global, mostra que os serviços estão em crescimento, enquanto a produção industrial está mais pessimista. Explicou porque é que "há economias que estão a capitalizar melhor o crescimento económico, como os Estados Unidos e o Reino Unido, economias com maior foco nos serviços, enquanto as economias mais industriais, como o Japão e a Alemanha, enfrentam mais dificuldades", disse Mário Carvalho Fernandes. ?

Taxas de juro negativas

O CIO do Banco Carregosa afirmou que as pressões inflacionistas têm vindo a desvanecer-se de forma global, o que permitirá a descida das taxas de juro. Neste contexto, o grande risco está nas matérias-primas industriais, agrícolas e energéticas; no entanto, tem havido queda de preços nos últimos 12 meses, o que contribui para um processo de desinflação.

O crescimento dos salários será na ordem dos 3%, com um ganho de produtividade à volta de 1%, tanto na Europa como nos Estados Unidos. Para as empresas, o custo dos salários andará pelos 2%, em linha com a expectativa de inflação definida pelos bancos centrais, sintetizou Mário Carvalho Fernandes.

Os investidores europeus têm que assumir risco nas suas carteiras se querem rentabilidades que, pelo menos, permitam manter o poder de compra dos seus patrimónios.Mário Carvalho Fernandes
Chief Investment Officer do Banco Carregosa

Em 2025, Mário Carvalho Fernandes prevê uma convergência nos Estados Unidos para uma taxa de juro em torno dos 3%, e na Europa abaixo dos 2%, o que, com uma inflação de 2%, resultaria numa taxa de juro real negativa, "indício de que a expectativa do mercado para a economia europeia não é muito animadora". Avisa que "os investidores europeus têm que assumir risco nas suas carteiras se querem rentabilidades que, pelo menos, permitam manter o poder de compra dos seus patrimónios".

Inteligência artificial

Mário Carvalho Fernandes sublinhou que "o prémio que os investidores estão a exigir para as obrigações portuguesas, relativamente às alemãs a 10 anos, está a comprimir-se muito rapidamente, o que reflete o otimismo na economia portuguesa, que está a beneficiar de taxas de juro mais baixas para se financiar".

O múltiplo Price Earnings (P/E) global está nos 19,25, acima da média histórica, mas, com a perspetiva de a economia crescer, justifica-se, em certa medida, algum prémio. Em termos de relação Price Earnings no mercado americano, "estamos com 21 vezes, mas neste índice há que distinguir as empresas ligadas ao setor de inteligência artificial, que apresentam múltiplos mais elevados", esclareceu Mário Carvalho Fernandes.

Acentuou que os mercados acionistas norte-americanos têm batido novos máximos históricos, mas os lucros por ação também atingiram máximos históricos. "Não se trata de uma bolha especulativa, no sentido de que estamos a contar com ganhos futuros para justificar estes preços."

Relativamente à comparação entre o mercado acionista e o obrigacionista, "está mais balanceada e valoriza o efeito da diversificação das duas classes de ativos, que beneficiam de estarem juntas na mesma carteira de portfólio, pois protegem contra os riscos", aconselhou Mário Carvalho Fernandes.