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Margarida Couto: “As PME que não atuarem podem ficar para trás”

Para a presidente do GRACE, Margarida Couto, o principal desafio do ecossistema empresarial nacional tem que ver com o facto de ser maioritariamente composto por PME, com menos recursos para alocar às temáticas da sustentabilidade.

06 de Novembro de 2023 às 14:00
Margarida Couto, presidente do GRACE - Empresas Responsáveis, a propósito do Congresso “More Than Green”. Bruno Colaço
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Num momento em que a sustentabilidade já não é apenas uma responsabilidade corporativa, mas sim um imperativo estratégico para a resiliência e a competitividade das empresas, Portugal enfrenta um desafio acrescido pelo facto de ser maioritariamente composto por pequenas e médias empresas (PME). Por esta razão, "é fundamental consciencializar para a importância da sustentabilidade e aumentar a literacia das empresas na matéria", salienta Margarida Couto, presidente do GRACE - Empresas Responsáveis, a propósito do Congresso "More Than Green", organizado por esta associação empresarial, a 7 de novembro, no Tivoli BBVA, em Lisboa, e cujo mote será "A sustentabilidade como fator de competitividade".

Apesar de reconhecer que os principais desafios das empresas nesta matéria dependem do setor ou indústria em que se inserem, das geografias em que operam e da natureza mais da respetiva cadeia de fornecimento, Margarida Couto destaca que "o principal desafio para o ecossistema empresarial nacional talvez decorra da circunstância de as PME, que representam mais de 99% do tecido empresarial, à partida terem menos recursos para alocar a estas novas, mas incontornáveis temáticas".

Novas regras de reporte podem chegar a muitas PME

As novas regras de reporte de sustentabilidade impostas pela União Europeia não se aplicarão diretamente a muitas destas empresas em termos de obrigatoriedade de apresentação das informações, "mas aplicam-se-lhes certamente pelo lado das exigências do mercado", salienta a presidente do GRACE. Isto porque "quase todas as PME estão integradas em cadeias de abastecimento de empresas maiores, que precisam de informação de sustentabilidade dos seus fornecedores para poderem cumprir as suas próprias obrigações, ou mesmo para atingirem os objetivos de sustentabilidade que hajam traçado". Por este motivo, alerta que "as PME que não atuarem correm um risco sério de ficar para trás".

Um dos principais desafios que o reporte de sustentabilidade exige é apurar a pegada carbónica da cadeia de valor das empresas (Scope3), tanto a montante como a jusante.

A sustentabilidade como fator de competitividade é o tema do Congresso ‘More Than Green’, organizado pelo GRACE, que acontece no dia 7 de novembro, no Tivoli BBVA, em Lisboa.


Da mesma forma, a nova legislação europeia visa impedir que produtos provenientes de trabalho escravo ou que firam direitos humanos entrem na Europa, e as empresas terão de ter isso em consideração para se conseguirem manter no mercado.

Um desafio "difícil", reconhece Margarida Couto, defendendo que "as empresas responsáveis não podem fazer ‘outsourcing’ da sua responsabilidade". E exemplifica: "Se uma empresa tem de reduzir a sua pegada carbónica, não pode fazê-lo passando a sua frota própria para ‘outsourcing’, é batota".

Da mesma forma que "se o trabalho forçado não é tolerável, não pode passar a ser tolerado por ocorrer na casa do fornecedor do nosso produto".

Más práticas que minam a confiança

O "greenwashing" é outro dos desafios com que as empresas têm de lidar, na medida em que há legislação cada vez mais apertada para penalizar quem dá informações falsas sobre o seu impacto ambiental. Um erro para as empresas, pois são "más práticas que minam a confiança, que descredibilizam os esforços de quem avança na jornada da sustentabilidade com seriedade e transparência", sublinha a presidente do GRACE, que recomenda que as empresas interiorizem que o "greenwashing" não compensa. "Acabará por sair caro, mais que não seja em termos reputacionais", adverte.

Mas onde há desafios também há oportunidades e neste novo paradigma "as empresas que triunfarão são as que conseguirem ver para lá do óbvio, identificando oportunidades que muitas vezes estão ainda disfarçadas de desafios", considera a advogada, acrescentando que "é por isso muito importante que as empresas compreendam que a sustentabilidade é mesmo um fator de competitividade, e daí ser esse o mote do congresso".

O evento vai focar-se no ESG (ambiental, social e governação, na sigla em inglês), com o objetivo de apoiar os participantes na aquisição de ferramentas que podem ser utilizadas para que cada organização alcance todo o seu potencial na temática. "Este congresso é uma oportunidade única para conhecer os motivos pelos quais nenhuma empresa poderá manter-se competitiva, a longo prazo, se ignorar qualquer uma das três dimensões da sigla ESG", finaliza.