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Mais do que tecnológicas, as inovações no local de trabalho são culturais

É comum, quando pensamos em inovação, automaticamente reportarmos a tecnologia. Errado, mais do que avanços tecnológicos, as inovações no local de trabalho têm sido processuais e culturais.

24 de Fevereiro de 2023 às 15:30
Uma parte da inovação em produtos, serviços e processos são gerados pela interação e diálogo no local de trabalho.
Uma parte da inovação em produtos, serviços e processos são gerados pela interação e diálogo no local de trabalho. AzmanJaka/Getty Images
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As empresas enfrentam desafios sem precedentes numa economia dominada pela globalização, rápidos avanços tecnológicos, mudanças demográficas e clientes a alterarem as suas necessidades de consumo a um ritmo impressionante. A capacidade de estar continuamente a reinventar produtos, serviços e processos está a tornar-se essencial para a sobrevivência e o sucesso de muitas organizações. A questão é que o combate a estes desafios não é feito apenas na esfera das equipas seniores ou dos altos executivos. Essas equipas precisam de se apoiar e aproveitar a criatividade, as ideias e o envolvimento - o famoso ‘engagement’ - de toda uma força de trabalho.

Hoje, dizem os especialistas, o desafio dos líderes é ter uma visão sistémica das suas próprias estruturas e práticas organizacionais. O conceito-chave parecer ser a inovação no local de trabalho, sobretudo quando capaz de potenciar os colaboradores de todos os níveis a usar os seus conhecimentos, competências e criatividade. "As evidências mostram que a inovação no local de trabalho leva a melhorias significativas e sustentáveis no desempenho organizacional e no envolvimento e no bem-estar dos funcionários", lê-se no guia ‘Creating Amazing Companies’, do Workplace Innovation Europe.

Neste documento, os autores falam da inovação estar associada a I&D, investimento em TIC e empreendedores de alto nível. No entanto, defende a Workplace Innovation Europe, essa associação de ideias pode não estar particularmente correta, tendo em conta que uma grande parte da inovação em produtos, serviços e processos que levam a uma maior competitividade e desempenho dos negócios são gerados pela interação e diálogo no local de trabalho. "Sem surpresa, isso é mais comum nos locais de trabalho onde os funcionários têm maior controlo sobre o seu próprio trabalho, juntamente com oportunidades discricionárias de aprendizagem e solução de problemas".

O poder do capital social

A verdade é que, em 2023, as organizações enfrentam desafios históricos: um cenário competitivo de talentos, uma força de trabalho exausta, pressão para controlar os custos e o aumento da inteligência artificial e automação, como descreve a Gartner, uma empresa de consultoria e estudos de mercado especializada em TI. À medida que o trabalho híbrido e remoto se torna um elemento mais permanente, as pesquisas da Gartner expõem que os CEO classificam a cultura como a sua maior preocupação quando se trata de políticas no escritório e de trabalho em casa. Já os responsáveis pelos Recursos Humanos, assumem que o maior desafio da estratégia híbrida está em ajustar a sua cultura atual para apoiar a força de trabalho.

Temos vindo a desenvolver soluções e tecnologias que abrangem todas as áreas de mudança, desde o trabalho remoto até a segurança, a cultura empresarial e a colaboração. Cláudia Fernandes
Product and marketing manager client solutions group da Dell Tecnhologies
Uma visão partilhada pela McKinsey que assume que o mundo do trabalho está a mudar e que a inteligência artificial e a automação irão tornar essa mudança tão significativa quanto a mecanização e automação da agricultura e manufatura nas gerações anteriores. "As redes profissionais das pessoas encolheram desde o início da pandemia covid-19, enquanto o atrito e os desafios de contratação das empresas está a crescer. Para ajudar a reverter essas tendências, as pessoas e as organizações precisam gerir as interações no local de trabalho de forma mais intencional". Ou seja: gerir um dos capitais mais preciosos nas empresas, o capital social. O capital social - ou a presença de redes, relacionamentos, normas compartilhadas e confiança entre indivíduos, equipas e líderes empresariais - "é a cola que mantém as organizações unidas", adjetiva a McKinsey.

Agilidade, flexibilidade e resiliência

Sem dúvida, o local de trabalho tem passado por uma série de mudanças significativas nos últimos anos, impulsionadas maioritariamente pelas novas tecnologias, evoluções sociais e mudanças da cultura dentro das próprias organizações. "À medida que a inovação digital continua a evoluir e transformar o local de trabalho, notamos que as empresas estão mais focadas na adoção de soluções que vão impulsionar o futuro do posto de trabalho", explicou ao Jornal de Negócios Cláudia Fernandes, product and marketing manager client solutions group da Dell Tecnhologies. Transformações que vão desde a reformulação das cadeias de valor e a melhoria da automação até o fornecimento de soluções de colaboração e experiências de utilizadores para colaboradores remotos. "Estas novas estratégias associadas ao posto de trabalho oferecem a agilidade, flexibilidade e resiliência que as organizações precisam para seguir com sucesso pelas mudanças que assistimos".

A gestora garante que a Dell Technologies tem vindo a desenvolver soluções preparadas para estas mudanças há mais de uma década, com mais de metade de equipa global a trabalhar remotamente. "Temos vindo a desenvolver soluções e tecnologias que abrangem todas as áreas de mudança, desde o trabalho remoto até a segurança, cultura empresarial e colaboração".

Pandemia acelerou inovação

A inovação no contexto do local de trabalho assume duas grandes vertentes: cultural e tecnológica, disse ao Jornal de Negócios Cláudio Moreira, managing diretor da Mitel em Portugal. Em todo um cenário pós-pandemia, o gestor profetiza que a cultura baseada numa chefia presencial, de controlo em espaço físico, passou agora a ser uma cultura por objetivos. "As chefias tiveram de se adaptar. Antes, as pessoas estavam no seu posto, a trabalhar, independentemente de, do ponto de vista da produtividade, poder estar a ser zero. Culturalmente, isso mudou, foi inovador".

A necessidade acelerou a inovação e determinados projetos que estavam na gaveta e que não eram valorizados, passaram a revestir de uma enorme prioridade. Novos métodos de trabalho foram agora exigidos pelos trabalhadores. Cláudio Moreira
Managing diretor da Mitel em PortugaR
Por outro lado, em termos tecnológicos, a pandemia veio aportar algo de positivo, nomeadamente no que às comunicações diz respeito. "Como se pode falar de teletrabalho se num ambiente, por exemplo, de contact center, o supervisor não consegue perceber em tempo real o que um determinante agente está a fazer ou com quem está a falar?". O que aconteceu, esclarece Cláudio Moreira, é que a tecnologia foi verdadeira adotada no dia-a-dia, apesar de já existir. "A necessidade acelerou a inovação e determinados projetos que estavam na gaveta e que não eram valorizados, passaram a revestir de uma enorme prioridade. Novos métodos de trabalho foram agora exigidos pelos trabalhadores".

Outra inovação no local de trabalho apontado por Cláudio Moreira foi a possibilidade de, em muitas empresas, os animais poderem acompanhar os seus tratadores no seu emprego. "Houve, e continua a haver, alguma resistência por parte dos colaboradores em regressar ao escritório. As pessoas verificaram que muito do tempo que perdem em filas de trânsito, nas deslocações em transportes públicos de casa até ao local de trabalho, podem e devem ser aproveitadas para coisas mais úteis, como estar com a família, com os animais de estimação, para desenvolvimento pessoal ou desportivo. Também aqui é necessário inovar para atrair os trabalhadores".

Inovações no local de trabalho Segundo a Dell, estas são algumas das formas pelas quais o local de trabalho está a mudar. À medida que a tecnologia e a sociedade continuam a evoluir, podemos esperar e ver mais mudanças significativas no futuro.

Segurança: Com a mudança no local de trabalho, a questão da segurança tornou-se ainda mais importante. Com mais funcionários remotos a usar redes não controladas ou dispositivos móveis para aceder dados corporativos, há um aumento, como temos vindo a assistir, do risco de violação de dados e ataques cibernéticos. A colaboração virtual pode criar novos riscos de segurança, como a partilha de informações sensíveis em plataformas que podem não ser seguras. Para abordar essas preocupações, as empresas estão a adotar medidas de segurança mais rigorosas para proteger seus dados e garantir a privacidade dos funcionários. Isso inclui a implementação de novas políticas de segurança, formação e conscientização dos colaboradores e a utilização de tecnologias de segurança, para além do posto de trabalho.
Trabalho remoto e Colaboração virtual: Com o aumento da tecnologia e da conectividade, cada vez mais empresas permitem os seus colaboradores a trabalhem remotamente. A comunicação virtual tornou-se uma parte importante do local de trabalho. As várias equipas podem trabalhar em projetos de forma colaborativa, onde partilham documentos e informações em tempo real, independentemente da sua localização geográfica.
Flexibilidade: As empresas estão cada vez mais flexíveis não só em relação ao local e horário de trabalho mas também à quantidade de tempo que seus colaboradores passam no escritório.
Aumento do uso da tecnologia: Entramos numa era onde adaptamos a tecnologia ao nosso posto de trabalho e à forma de trabalhar de cada organização. A adoção da tecnologia adequada permite cada vez mais que as organizações estejam preparadas para estas mudanças. E cada vez mais a tecnologia é mais importante no local de trabalho, com a adoção de ferramentas digitais para a gestão de projetos, análise de dados, colaboração e comunicação.