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Lívia Franco: “A economia chinesa depende da globalização”

A hiperglobalização de matriz ocidental está a ser questionada. Não é uma desglobalização completa no sentido em que há coisas que não voltam atrás”, defende Lívia Franco.

Filipe S. Fernandes 01 de Março de 2024 às 17:00
Lívia Franco, professora associada e investigadora principal no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. David Cabral Santos
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A pandemia acentuou um maior fecho do espaço europeu para defesa da indústria face à concorrência da China, quando a Europa percebeu que tinha perdido autonomia em termos industriais e em necessidades básicas, e para isso tem de reduzir a globalização. Na opinião de Lívia Franco, professora associada e investigadora principal no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, "existe uma distribuição de poder sistémica multipolar, do ponto de vista económico, mas na estrutura geopolítica global há uma nova bipolarização entre as potências globais, os Estados Unidos e a China, com a Rússia declinar, embora seja um jogador forte em alguns sítios e domínios".

Aludiu ainda à Índia, apesar de ainda estar marcada pelo espírito de Bandung e do movimento dos não alinhados, cujos "fatores de poder estão muito fortes e está claramente em grande ascensão", disse Lívia Franco, na mesa-redonda "O Panorama Político Internacional e o Impacto Económico-Financeiro", integrada da conferência "O Futuro dos Mercados Financeiros".

Custos vs. segurança

A professora da Universidade Católica concluiu que "há desglobalização moderada, o critério de globalização já não é um critério de eficiência económica, mas um fator de risco de segurança. É essa a ponderação. O critério não é comprimir ao máximo os custos, mas é perceber que tem de haver um equilíbrio entre a lógica dos custos e o ponto de vista securitário e político. A pandemia fez entrar essa constatação pelos olhos dentro." Em relação ao conflito na Ucrânia, que entrou agora no seu segundo ano, Lívia Franco afirma que a guerra já acontece desde 2014 como "podemos verificar através dos pacotes de sanções, com a aprovação recente do décimo terceiro pacote de sanções da União Europeia à Rússia", e que são exemplos de instrumentos da weapon-globalização.

Considera que a Europa continua a usar uma racionalidade que caracteriza o mundo e o seu funcionamento com base nos princípios, valores, e desejos europeus. Mas uma grande parte do mundo não faz o mesmo cálculo e não usa a mesma lógica de racionalidade e a Europa esquece-se disso", referiu Lívia Franco.

A prova disto é que a Europa tinha a expectativa de demonstrar a irracionalidade da guerra da Ucrânia ao resto do mundo, e "não só não conseguiu demonstrar como não conseguiu convencer. O poder e o conflito continuam a ser instrumentos racionais, legítimos e válidos."